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Dona da Gant em Portugal à beira da falência com 800 empregos em risco

A gigante têxtil Ricon, que tem sede e fábricas em Vila Nova de Famalicão, está em processo de insolvência depois de falhar os acordos com a banca, com o grupo internacional Gant e com "eventuais novos investidores".

Pedro Silva, presidente executivo do grupo Ricon. Jornal T
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O grupo que detém a rede de lojas Gant em Portugal está à beira da falência. O Negócios sabe que o conjunto de empresas do universo Ricon, que emprega quase 800 trabalhadores e facturou perto de 50 milhões de euros no ano passado, apresentou-se à insolvência no início desta semana no Tribunal de Vila Nova de Famalicão.

 

Em causa estão as sociedades na área da distribuição, como a Delveste – que detém a rede de perto de duas dezenas de lojas Gant no país – e também as unidades têxteis, como a Ricon Industrial (blazers), a Fielcon (camisas), a Delos (calças) e a Delcon ("outwear"), que trabalham em regime de subcontratação para várias marcas internacionais. O grupo Gant, de origem americana e com sede em Estocolmo, na Suécia, era o principal cliente destas fábricas e absorvia cerca de metade da produção.

 

Numa comunicação aos colaboradores do grupo, a que o Negócios teve acesso, o presidente executivo, Pedro Silva, culpou a Gant pela quebra "acentuada" das encomendas ao sector industrial da Ricon e pela exigência do "pagamento imediato da totalidade da dívida vencida proveniente dos fornecimento ao sector do retalho", o que causou "um estrangulamento inultrapassável" na tesouraria do grupo e "afectou a capacidade de cumprir as obrigações com os diversos credores, nomeadamente com a banca".

 

"Apesar de todos os esforços desenvolvidos no sentido de contrariar a actual situação económico-financeira das empresas do grupo, a verdade é que as negociações encetadas junto da banca, do principal parceiro do grupo (Gant) e de eventuais novos investidores não conduziram, até ao momento, a uma solução concreta que permita a viabilização das empresas", detalhou o gestor nessa missiva, com a data de 4 de Dezembro.

 

O Negócios tentou contactar ao longo da manhã o presidente do grupo Ricon, Pedro Silva, de forma a obter mais esclarecimentos sobre este processo, sem sucesso até ao momento.

 

Já o director financeiro de uma das empresas credoras do grupo de Famalicão confirmou ao Negócios que "foi esta terça-feira [5 de Dezembro] que [teve] conhecimento que a Ricon se apresentou à insolvência". A mesma fonte, que não se quis identificar, afirmou que "há já algum tempo que tem havido atrasos [por parte da insolvente] no pagamento, comparativamente ao que acontecia no passado".

 

O gestor desta empresa credora, que irá reclamar neste processo de insolvência "créditos da ordem dos 30 mil euros", contou ainda que "as encomendas da Ricon têm vindo a baixar, concretamente no segundo semestre deste ano". E face "às dificuldades do cliente em liquidar os pagamentos nas datas de vencimento acordadas", este fornecedor decidiu "diminuir a exposição" ao grupo liderado por Pedro Silva.

Subsídio de Natal pode não cair na conta

Criada em 1973 por Américo Silva, a Ricon passou, em Outubro de 2008, a ser controlada a 100% por Pedro Silva, depois de um acordo firmado com o irmão Rui Silva, o outro filho do fundador, que perdeu milhões de euros no Trofense e acabou por criar a Refive, uma nova marca de vestuário.

O grupo que chegou a deter 10,5% do capital da Gant Company – acabou por vender essa participação ao grupo suíço Maus Frères (dono da Lacoste), em Abril desse ano, obtendo uma mais-valia de cerca de 20 milhões de euros –, decidiu nessa altura diversificar para tentar atenuar a grave crise por que passava a indústria têxtil e de vestuário, pela fuga de clientes para os concorrentes asiáticos. E entrou em negócios como a aviação privada (Everjets) ou os centros da Porsche no Norte do país.

 

Foi quando o passivo atingiu os 60 milhões de euros, no final de 2013, que resolveu interromper essa estratégia de diversificação e voltar a concentrar-se na área industrial e na representação da Gant em Portugal. Do rol de alienações, concretizadas no ano seguinte, fez parte a saída do negócio dos automóveis de luxo e a venda da Decenio à Têxtil Cães de Pedra, detentora da marca Lion of Porches. Em três anos, o volume de negócios consolidado baixou de 97,5 para 50 milhões de euros, dividido em partes semelhantes entre a indústria e a distribuição.

 

Numa entrevista ao Jornal T, publicada em Abril deste ano pela principal associação empresarial do sector (ATP), Pedro Silva dizia ter "uma enorme confiança no futuro", mas reconhecia que o grupo "[continuava] a reestruturar e a criar mais eficiências". Já questionado sobre se o pior já tinha passado, o empresário nortenho respondeu: "Ainda estamos a sofrer. Mas o mais difícil já está para trás das costas".

 

Volvidos oito meses, o presidente executivo do grupo Ricon vem agora comunicar aos trabalhadores que é "previsível uma redução" da actividade das empresas e que isso "poderá ter impacto" para as quase oito centenas de funcionários do grupo minhoto, "nomeadamente de forma mais imediata no pagamento dos subsídios de Natal".

 

No âmbito destes processos de insolvência, Pedro Silva promete ainda nessa mesma comunicação que o conselho de administração pretende apresentar um plano de recuperação. Porém, adverte que isso "apenas será possível no caso de as negociações ainda em curso com o principal parceiro (Gant), os bancos e eventuais novos investidores, se revelarem frutíferas".


(Notícia actualizada pela última vez às 13:20 com mais informações sobre o histórico do grupo Ricon)

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