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Calçado português "resistiu melhor" que os concorrentes ao impacto da pandemia

Até junho, Portugal exportou 33 milhões de pares de calçado, no valor de 752 milhões de euros, o que representa um crescimento homólogo de 12,3%, mas "dificilmente atingirá já este ano os níveis de 2019".

18 de Setembro de 2021 às 09:49
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A indústria portuguesa de calçado "resistiu melhor" ao impacto da pandemia do que os concorrentes e evidencia já "sinais de recuperação" no primeiro semestre deste ano, com um crescimento homólogo de 12,3% das exportações, assinala a associação setorial.

Segundo o Gabinete de Estudos da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), "o setor está, ainda, dependente de vários indicadores" - desde a evolução da pandemia, à situação no Afeganistão, aumento dos custos das matérias-primas e dificuldades logísticas - mas "dificilmente atingirá já este ano os níveis de 2019".

Até junho, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal exportou 33 milhões de pares de calçado, no valor de 752 milhões de euros, o que representa um crescimento homólogo de 12,3%.

De acordo com a associação, estes "sinais de recuperação" seguem-se a um ano de 2020 "extremamente difícil para as empresas portuguesas de calçado", que terminou com uma quebra de 16,3% das vendas para o exterior, com 61 milhões de pares de calçado vendidos no valor de 1.494 milhões de euros. 

"Ainda assim, num ano de todas as dificuldades, Portugal ganhou quota de mercado", salienta a APICCAPS.

Isto porque, em 2020, os principais concorrentes da indústria portuguesa de calçado sofreram um impacto ainda maior: a Itália (8.000 milhões de euros exportados) registou uma quebra de 23% e Espanha de 16,1% (para 2.400 milhões de euros).

Ao nível da produção, Portugal registou uma quebra de 13,2% no ano passado, para 66 milhões de pares, cerca de metade da quebra registada por Itália (-26,8%, para 131 milhões de pares) e por Espanha (-26,5%, para 72 milhões de pares).

Globalmente, as exportações europeias de calçado diminuíram 18,6% em 2020.

A associação aponta "a Europa, por agora", como "um grande motor de crescimento do setor".

"Destaque para o crescimento na Alemanha - que supera, mesmo, a França e ascende ao primeiro lugar entre os grandes mercados do setor - com um crescimento de 39,4%, para 186 milhões de euros", refere.

No espaço comunitário, salienta ainda os "bons desempenhos" nos Países Baixos (mais 12,3%, para 111 milhões de euros) e Espanha (crescimento de 2,9%, para 52 milhões de euros), sendo que também no Reino Unido há "bons indicadores" a reportar (mais 14,1%, para 41 milhões de euros).

Já fora do espaço europeu, os EUA (mais 10%, para 33 milhões de euros), China (mais 32,8%, para 9,6 milhões de euros) e Canadá (mais 41,2%, para 9,5 milhões de euros), também "dão bons sinais".

No plano externo, a APICCAPS destaca que "Portugal continua a apresentar, entre os principais produtores mundiais, o segundo maior preço médio de exportação, não obstante o esforço significativo de diversificar a oferta, através de produtos em matérias-primas alternativas à pele".

"No segmento específico do couro, Portugal perfila-se como o 9.º exportador mundial, com uma quota de 3,1%, mas é no segmento 'waterproof' [à prova de água] que Portugal mais se distingue: é atualmente o 4.º a nível mundial, com uma quota de 3,7%", precisa.

Segundo a associação, também o setor de artigos de pele e marroquinaria "apresenta bons indicadores" este ano, apresentando no primeiro semestre um crescimento de 21,4% nas exportações, para 84 milhões de euros.

Neste setor, os mercados de Espanha (mais 6,1%, para 21 milhões de euros), França (mais 14,9%, para 16 milhões de euros), Turquia (mais 31,8%, para 11 milhões) e EUA (mais 370%, para sete milhões de euros) destacam-se pela evolução registada.

"Ainda que com um desempenho geral mais modesto", o subsetor de componentes para calçado parece também estar a "animar" em 2021: de janeiro a junho, exportou 23 milhões de euros, o que representa um crescimento de 2,2% relativamente a 2020, avança a APICCAPS.

Pandemia impactou "menos do que o esperado" a indústria mundial de calçado

 

O efeito da pandemia no setor do calçado foi "menor do que se esperava", segundo a associação setorial, com a produção e as exportações mundiais a caírem 15,8% e 19%, quando se previa uma quebra de 20% no consumo.

"Em 2020, o painel de especialistas inquiridos no 'World Footwear 2021 Yearbook' apontava para uma quebra no consumo mundial de calçado superior a 20%. Apesar de os números finais de 2020 nos países desenvolvidos da Europa e América do Norte estarem em linha com essas expectativas, a Ásia e os países menos desenvolvidos superaram as expectativas", nota a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

A queda da produção mundial situou-se nos 15,8%, correspondente a menos quatro mil milhões de pares, o que "destrói, ainda assim, todo o crescimento acumulado nos últimos 10 anos", refere a associação.

De acordo com a APICCAPS, se em 2020 o efeito da pandemia no setor do calçado "foi menor do que se esperava", também o calçado português "resistiu melhor do que os concorrentes internacionais".

Ao nível da produção, Portugal registou uma quebra de 13,2%, para 66 milhões de pares, cerca de metade da quebra registada por Itália (-26,8%, para 131 milhões de pares) e de Espanha (-26,5%, para 72 milhões de pares).

Apesar do impacto da pandemia, a APICCAPS nota que "a distribuição geográfica da produção não foi afetada e continua maioritariamente concentrada na Ásia, onde quase nove em cada 10 pares de calçado são fabricados".

"A Ásia conseguiu aumentar a participação na produção mundial em 0,2 pontos percentuais e a China continua no pódio como o maior produtor mundial de calçado, com 54,3%", destaca.

"No entanto - acrescenta - em 2020, o gigante asiático reduziu a produção em mais de dois mil milhões de pares e continuou a perder peso na cena competitiva mundial (queda de um ponto percentual)", o que "reflete um deslocamento da produção para outros países vizinhos".

Segundo a associação, a pandemia de covid-19 também "interrompeu as cadeias de valor internacionais, levando a uma redução na percentagem da produção exportada, que caiu de 62% para 59%".

E, se a Ásia "continua a ser a fonte da maior parte do calçado exportado", o facto é que "a sua participação no total mundial tem diminuído lentamente nos últimos 10 anos", tendo essa tendência continuado em 2020.

Paralelamente, "o mesmo está a ocorrer com todos os outros continentes, exceto a Europa, cuja participação nas exportações mundiais aumentou quase quatro pontos percentuais desde 2011", refletindo "a alta intensidade do comércio intraeuropeu e um forte processo de integração na área".

Embora a China continue a ser "líder indiscutível" nas exportações de calçado, em 2020, e pela primeira vez, o Vietname superou 10% das exportações mundiais em volume, e, em valor, tornou-se mesmo o maior exportador de calçado têxteis, ultrapassando a China.

"É a primeira vez, desde a publicação do 'World Footwear Yearbook', que a China não lidera a lista de exportações de uma categoria de calçado", salienta a APICCAPS.

Globalmente, o total de calçado exportado em 2020 (12.100 milhões de pares) teve uma queda de 19% em relação ao ano anterior, situando-se no "menor valor dos últimos 10 anos".

Em valor, a queda foi menor (14%), levando o total das exportações aos níveis de 2013.

Já a evolução do preço médio de exportação por par continua a apresentar uma tendência ascendente, crescendo a uma média de 3,3% ao ano desde 2011.

"Em 2020, apesar das tendências negativas, o crescimento dos preços acelerou a 6%, com o preço médio a exceder, pela primeira vez, os 10 dólares [cerca de 8,5 euros]", refere a associação.

Ao nível do consumo de calçado, a pandemia teve "um forte impacto" nas economias desenvolvidas da América do Norte e da Europa, contribuindo para a redução da lacuna entre o consumo 'per capita' nos continentes, apesar de persistirem ainda "diferenças geográficas importantes nos padrões de consumo".

Por exemplo, o consumo 'per capita' de calçado varia entre 1,5 pares na África e 4,3 pares na América do Norte.

Em 2020, o consumo da Ásia representou mais da metade (55,8%) do total em todo o mundo, enquanto a Europa e a América do Norte representaram 13,6% e 13,1%, respetivamente.

A União Europeia, enquanto região, foi o quarto maior mercado consumidor de calçado, com 1,763 milhões de pares consumidos em 2020, número que representa "uma queda de duas posições no 'ranking'" e é "influenciado pelo duplo impacto do 'brexit' e da pandemia".

Pela primeira vez, os EUA apresentaram um consumo inferior a 10% uma quota do mundial, enquanto a China, por outro lado, ultrapassou o patamar de 20% e, junto com a Índia, já responde por quase um terço do consumo mundial.

 

Comitiva de 34 empresas portuguesas num dos "regressos mais esperados" à feira italiana de calçado MICAM

Uma comitiva de 34 empresas portuguesas participa, de domingo a terça-feira, na 92.ª edição da feira de calçado MICAM, em Milão, Itália, num dos "regressos mais esperados" após um ano sem edições presenciais, avança a associação setorial.

"É um dos regressos mais esperados", admite a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) em comunicado.

Depois de um ano sem edições presenciais, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, Milão volta a ser "o epicentro da indústria de calçado", com a Fiera Milano a receber novamente aquela que é considerada a maior feira de calçado do mundo.

O presidente da APICCAPS, Luís Onofre, destaca que "a MICAM é a principal feira do setor e é muito relevante para as empresas nacionais, uma vez que reúne os maiores 'players' do setor a nível mundial", pelo que "a presença portuguesa "é da maior importância para retomar os negócios".

A participação nacional na MICAM insere-se na estratégia promocional definida pela APICCAPS e pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), com o apoio do Programa Compete 2020, e visa consolidar a posição relativa do calçado português nos mercados externos, para onde o setor exporta mais de 95% da sua produção.

Nesta edição da feira, o Governo português far-se-á representar, no domingo, através do secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves.

A APICCAPS aponta a abertura de mais um pavilhão de exposições como "uma das boas notícias" para esta edição da MICAM: "Face ao aumento do número de inscrições, a organização da maior feira de calçado do mundo decidiu abrir o Hall 6, além dos Halls 1 a 4 inicialmente previstos. Esta é uma notícia relevante dado o número de empresas nacionais que habitualmente expõe neste pavilhão", sustenta.

Citado no comunicado, o responsável máximo da MICAM congratula-se com a possibilidade de "finalmente voltar ao formato tradicional da feira".

"As nossas empresas precisam de se encontrar com os 'players' pessoalmente e restabelecer os relacionamentos. Trabalhamos incessantemente para garantir todas as ferramentas necessárias para o relançamento da indústria", salienta Siro Badon.

Nesta edição, a MICAM estará, uma vez mais, alinhada com um conjunto de outros eventos da indústria da moda, de forma a reunir os principais certames na mesma semana. Em conjunto, estes eventos serão responsáveis pela presença de mais de 1.600 expositores.

Entre as "muitas novidades" desta edição da feira, em que as empresas apresentam as coleções para a próxima primavera/verão 2020, está o projeto 'Emerging Designers', que irá receber 12 jovens 'designers' internacionais.

Além disso, estão previstas duas novas áreas: o 'MICAM Start-up Boot Camp' e o 'Italian Artisan Heroes'. O primeiro espaço apresentará as principais 'start-ups' do setor, com "maior capacidade criativa", enquanto a área dedicada aos artesãos apresentará "as melhores empresas italianas dedicadas à produção para outras marcas".

Segundo a organização, "os sonhos e a esperança" são o mote desta edição da feira: "Numa altura em que existe um desejo avassalador de recomeçar e de sonhar, escolhemos um dos contos de fadas mais famosos do mundo, pela mensagem de esperança que contém", explica Siro Badon.

Neste sentido, a campanha de comunicação da feira é inspirada nos contos de fadas, sendo o protagonista desta edição o icónico 'sapatinho de cristal', que acompanhará as próximas três edições da mostra.

Entre os dias 22 a 24 de setembro é a vez da Fiera Milano acolher a feira de componentes para calçado Lineapelle, que apresentará as tendências para o inverno 2022/2023 e na qual estão, até ao momento, registados mais de 600 expositores de 18 países, um número que organização da feira considera como "um sinal de esperança no retorno dos eventos físicos".

A comitiva portuguesa no evento contará com cerca de duas dezenas de empresas dos setores de componentes para calçado e curtumes, com o apoio da Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes (APIC).

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