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Vendas do carro eléctrico estão em alta mas faltam postos de carregamento

Os portugueses estão a comprar mais carros eléctricos, mas a falta de manutenção da rede de carregamento na via pública pode prejudicar o futuro da mobilidade eléctrica em Portugal. Depois da reforma da fiscalidade verde ter feito disparar a compra de eléctricos, a falta de estabilidade fiscal pode deitar tudo a perder.

Pedro Elias
26 de Novembro de 2015 às 19:25
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Nunca se venderam tantos carros eléctricos em Portugal como este ano. E depois de décadas de "políticas estúpidas que promoveram a dieselização do país", Portugal pode estar finalmente no caminho certo na mobilidade eléctrica. Mas há ainda muito a fazer, alertou o presidente da Associação Portuguesa de Veículos (APVE) no lançamento do segundo dia da conferência "Energy and mobility for smart cities" que decorreu em Cascais.

 

Para começar, a "incerteza quanto à política pública da mobilidade eléctrica em Portugal". "Nos últimos anos temos tido um pára-arranque contínuo das políticas públicas", o que provocou um "afastamento das oportunidades de investimento" em Portugal. Depois, a "questão do carregamento ainda não foi resolvida de forma adequada", apontou Jorge Vasconcelos esta quinta-feira, 26 de Novembro, referindo-se à Mobi.E, a rede de postos de carregamento na via pública.

 

Durante uma sessão de perguntas, um dono de um veículo híbrido plugin deu o exemplo na primeira pessoa. Contou que tentou carregar o seu carro por diversas vezes em diferentes pontos, mas que os postos não funcionavam. "Quem compra os carros depois não os pode utilizar", lamentou.

 

Já Luís Reis do Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel (CEIIA) contou que os 50 postos de carregamento rápido estão prontos desde o final de 2011, mas, passados quatro anos, continuam a apanhar pó no armazém.

 

O presidente executivo da Efacec Electric Mobility, por seu turno, defendeu que não deveria ter sido o Estado a ficar com a gestão da rede e conto que as entidades parceiras no projecto "têm muitos milhões de euros para receber há anos" do Estado. Pedro Silva contou também que os postos de carregamento rápido depois de quatro anos guardados estão desactualizados. "Esse upgrade vai ter de ser feito por alguém", avisou, sublinhando que a "carga rápida é fundamental".

 

O gestor deixou, no entanto, vários elogios à Mobi.e. "Foi pioneira a nível mundial. Do ponto de vista tecnológico, como a opção pela carga e pelo conector que foi depois adoptado a nível europeu, e também a opção pela carga rápida, apesar de, infelizmente, não ter sido instalada".

 

Em resposta, o presidente da Mobi.e veio garantir que os actuais postos de carregamento lento vão ser alvo de manutenção na primeira metade do próximo ano. Durante esse período, também serão instalados os 50 postos de carregamento rápido, garantiu Alexandre Videira.

 

O "abandono" da rede Mobi.E é especialmente gravoso num momento em que as vendas de automóveis eléctricos em Portugal cresceram 170% nos primeiros nove meses de 2015; este ano vai fechar com vendas recorde. "O crescimento nas vendas é na ordem dos três dígitos. Não há carros eléctricos disponíveis para entrega em Portugal", declarou Rui Bica da BMW, referindo-se a todos os construtores de automóveis. O cenário de não existirem eléctricos para venda é bem diferente dos carros a combustão interna: apesar da recuperação nas vendas este ano, as vendas de automóveis em Portugal nos últimos anos tem estado longe dos registos alcançados antes de 2010.

 

O lançamento da fiscalidade verde no início deste ano pelo então ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, é apontado como o principal impulsionador nas vendas de carros eléctricos, mas a sua "morte" no próximo ano pode deitar tudo a perder. "A fiscalidade verde vai acabar? Ou não? Ninguém sabe", questionou Rui Bica. Desta forma, apontou os países nórdicos como exemplo: "As fiscalidades verde que têm são decididas para um período de quatro anos".

 

Nesse sentido foi lançada uma sugestão para promover a mobilidade eléctrica em Portugal no médio prazo. Os vários partidos parlamentares deviam chegar a acordo sobre o desenvolvimento do carro eléctrico, para que não regresse tudo à estaca zero na próxima legislatura. "Na Noruega há um acordo interparlamentar para a mobilidade eléctrica. E isso é fundamental para que as coisas avancem", exemplificou Pedro Silva da Efacec Electric Mobility.

 

João Peças Lopes foi pela Europa à procura do que melhor se faz na fiscalidade do carro eléctrico. E o professor do INESC TEC trouxe vários exemplos para a lição. Como nos Países Baixos, onde existem um incentivo de sete mil euros para comprar o veículo eléctrico; no Reino Unido há um prémio de aquisição de sete mil euros e os carros eléctricos não pagam imposto para entrar na cidade de Londres.

 

Por sua vez, na Dinamarca, onde os carros são dos mais caros na União Europeia, os eléctricos estão isentos da taxa de matrícula que é "muito elevada", o que reduz substancialmente o preço destes veículos quando comparados com os movidos a petróleo. Mas o país mais generoso é a Estónia, onde existe "um incentivo de 16,5 mil euros para comprar um veículo eléctrico e onde recentemente foram instaladas 165 estações de carregamento rápido", tornando esta nação báltica o país com maior densidade destes postos na Europa.

 

Fazendo um balanço das políticas públicas na área da mobilidade eléctrica durante o governo de Passos Coelho, o líder da APVE destacou que a primeira metade da legislatura foi "passada na negação", enquanto a segunda metade foi "passada na afirmação em teoria, enquanto na parte prática foi assim-assim. Esperamos que este lapso seja rapidamente corrigido".

 

No dia em que o novo Governo tomou posse, Jorge Vasconcelos lançou um apelo a António Costa: "Esperamos que possamos ter uma política pública de mobilidade eléctrica coerente e estável".

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