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Jorge Vasconcelos: Rede Mobi.E foi feita "um pouco à pressa"

Palavras duras de Jorge Vasconcelos face a uma política que não acelerou a afirmação da mobilidade eléctrica no país. O presidente da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE) gostaria de ver a base de incentivos alargada.

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Não há falta reflexão, mas de acção. Se Portugal definiu uma política de apoio às energias renováveis, Jorge Vasconcelos acredita que "não tivemos o mesmo tipo de concepção" no que respeita à mobilidade eléctrica.

"É preciso descarbonizar a produção de electricidade e os transportes". Como fazê-lo? Através de esquemas de mobilidade "que não implicam necessariamente o transporte rodoviário como modo dominante, nem a propriedade privada".

É difícil dar esse passo quando fortes interesses rumam em sentido inverso. "Há resistências económicas muito grandes, mas também falta de informação." E os sucessivos governos não se livram de culpas. "Esta política de pára-arranca tem sido um péssimo sinal que temos dado aos investidores que estão interessados no mercado português."

Investir nas estruturas de carregamento ou na produção de componentes "são decisões pesadas, que não se podem fazer de ânimo leve". Perante as dúvidas, cancelar ou adiar investimentos tem sido o caminho.

"Modelos baseados apenas no voluntarismo público e que não dão o devido apelo à iniciativa privada, normalmente acabam por não correr tão bem como os seus autores idealisticamente pensam."

Exemplo disso é a rede de carregamento Mobi.E. "Não se teve em conta a necessidade de acompanhar a instalação dessa rede com outras medidas que fizessem com que os portugueses fossem adoptando rapidamente veículos eléctricos."

Até porque as vantagens fiscais não são tudo na hora de optar pela mobilidade eléctrica. Para o presidente da APVE, esta é também uma questão local. Os municípios aderiram em força à rede Mobi.E, mas acabaram por ficar por aí. Não chega. "Há outro tipo de políticas locais que podem fazer a diferença: facilidade de estacionamento, utilização do corredor de autocarros, isenção de taxas locais, rede de carregamento lento e rápido."

A isto deveria juntar-se a eliminação gradual dos benefícios fiscais do gasóleo. "Sabemos que não se justifica favorecer o diesel, mesmo face à gasolina. Portugal é um dos países com maior taxa de dieselização da Europa. Isto não faz qualquer sentido, nem do ponto de vista ecológico nem económico."

O que faria então sentido? "Uma aproximação do regime fiscal do diesel à gasolina. E, nesse processo, ir buscar recursos que permitissem financiar formas sustentáveis de mobilidade, nomeadamente eléctrica."

Vasconcelos defende ainda que a rede Mobi.E está "sobredimensionada". "Aquilo que foi instalado foi um pouco à pressa e devia ser hoje redimensionado e revisto". Há privados interessados em constituir redes alternativas, "mas como somos um país extremamente burocrático, complicamos desnecessariamente aquilo que pode ser simples", critica o ex-presidente da ERSE.

"Enquanto não for clarificado completamente o que vai acontecer à propriedade e gestão da rede pública constituída, torna-se difícil perceber como é que ela se vai desenvolver", concluiu.

Um pensamento que se estende além fronteiras
Encontro está marcado para 25 e 26 de Novembro em Cascais, com o "Energy and Mobility for Smart Cities". Não será o único pólo para pensar estes temas. Em Dezembro realiza-se a 21ª Conferência do Clima em Paris. Jorge Vasconcelos recorda que este encontro "vai tentar chegar a acordo sobre a redução da emissão de gases com efeitos de estudo". É preciso passar dos princípios à acção concreta, posiciona Jorge Vasconcelos, depois de Estados Unidos e China darem sinais positivos nesse sentido. "É muito importante que haja um acordo de todos os países. Será o sinal mais importante de responsabilização por um problema que não pode ser resolvido por nenhum país isoladamente."