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A capital quer posicionar-se no pelotão da frente das cidades inteligentes. Para isso, tem vários planos em marcha. Reduzir a factura energética e facilitar a vida dos lisboetas são prioridades, esclarece o vereador do Ambiente da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes.
Lisboa está preparada para ser uma cidade inteligente?
É possível as cidades começarem a ser mais inteligentes, mas ainda não se apanhou o fio à meada. Mas existem várias matérias onde já se deram passos muito importantes. Um exemplo: Lisboa foi bem sucedida e triplamente inteligente na mudança das lâmpadas dos semáforos para LED [consomem menos energia e duram mais]. Foi inteligente porque tivemos uma diminuição do consumo e dos custos em 90% e os semáforos vêem-se muito melhor agora.
E a iluminação pública?
Em relação à iluminação pública, vamos também substituir as lâmpadas por LED. Aqui, a poupança é de cerca de 50% e, ao gerir as lâmpadas remotamente, vamos poupar na manutenção. Como os LED duram mais tempo, a manutenção é menor. E vamos poder gerir a intensidade de luz, o que é importante. Recorde-se que Lisboa gasta 7 milhões de euros por ano para pagar a iluminação pública. Mas os candeeiros também podem servir para outra coisa. Por exemplo, se nós colocarmos ‘wi-fi’ nos candeeiros podemos abranger a cidade toda com internet gratuita. O candeeiro pode ser uma peça absolutamente essencial para a cidade inteligente. A vida nas cidades pode ser melhorada com a informação que estes candeeiros podem enviar em tempo real para um centro de informação sobre o trânsito, poluição atmosférica ou o ruído. O candeeiro vai ser uma peça importante do futuro.
Esta monitorização em tempo real poderia ser útil na gestão de grandes eventos e de catástrofes naturais?
Exactamente.
A mudança para lâmpadas LED já está a decorrer?
Todos os candeeiros novos já têm LED, mas temos 60 mil luminárias e queremos agora lançar um concurso para as grandes avenidas, um concurso para Telheiras e para as grandes vias. Estamos à espera que saiam as candidaturas do Portugal 2020, que nos foi dito pelo Governo que seria agora.
Também ganhámos recentemente uma candidatura no valor de quatro milhões de euros, que submetemos com Londres e com Milão, que vai permitir-nos fazer a experiência dos sensores e do ‘wi-fi’ e canalizar essa informação para um centro. Essa experiência vai ser decisiva para Lisboa.
E em termos de energia solar?
Temos um grande potencial. Estamos à espera do Horizonte 2020 para que, pelo menos, os edifícios públicos tenham apoio ao consumo pelos painéis solares. Julgo que Lisboa está muito à frente, está no pelotão da frente na aquisição deste conhecimento.
Quais os planos da autarquia para o carro eléctrico?
Toda a frota ligeira da Câmara Municipal de Lisboa vai ser eléctrica até ao final deste mandato. Praticamente já é quase toda eléctrica, com alguns híbridos. Eu e o antigo presidente [António Costa] fomos os primeiros a usar um carro eléctrico em Lisboa. É um carro pequenino, um Mitsubishi, adoro aquilo. Não dá é aquele estadão que alguns gostam, mas também não tenho essa pretensão. Tem uma autonomia de 120 quilómetros, não avaria e não tem manutenção.
O Governo apontou recentemente que as câmaras deviam assumir um maior papel na gestão da rede de carregamento Mobi.E...
O problema é que a rede não é das câmaras. O programa foi abandonado. E tem que ser feita alguma coisa em relação a isto. Não se deve perder esta estrutura que foi montada. Agora, temos é que saber utilizá-la, incrementá-la e melhorá-la.
No campo da sustentabilidade, os transportes públicos são essenciais para uma cidade...
Os transportes públicos são o grande problema de Lisboa. Não quero discutir privatizações, mas o problema é que este processo mantém tudo na mesma. Durante oito anos vamos ficar exactamente com o mesmo metro, as mesmas carreiras de autocarro, os mesmos problemas de poluição. O que contraria tudo o que até este Governo, nomeadamente o ministro do Ambiente, afirmava. Temos que apostar mais no transporte colectivo e alargar carreiras. Temos problemas gravíssimos de mobilidade de transporte público em Lisboa porque não existem carreiras à noite. Independentemente das privatizações, o que temos de assegurar é um transporte público eficiente e um aumento da rede. Até para captarmos mais passageiros. O transporte público em Lisboa nos últimos anos diminui em passageiros. É um bocado estranho. Isto tem de ser muito bem gerido, também com uma visão de área metropolitana. Com os concelhos sempre às turras, não tem resultado muito bem.
Esta privatização da Metro e da Carris vira as costas a Lisboa?
Não quero dizer isso, mas acho que esta privatização dos transportes não focou dois assuntos essenciais. Primeiro, a eficiência energética, porque mantém autocarros com 12 anos. Depois, não obriga o privado a alargar a rede durante oito anos, sem ter atenção à evolução da própria cidade. Isto tem de ser visto de outra maneira. Tem de haver uma articulação desta matéria com mais rede. Só assim podemos ser inteligentes. Tudo tem de estar articulado. Ou não faz sentido.