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COP27: "Esta é a última década fóssil para a EDP", garante Miguel Setas

A EDP enfrenta na Península Ibérica a "maior crise hídrica das últimas décadas, que gerou um desvio de 3,3 TWh na produção hídrica", compensado com mais gás (58,3%) e mais carvão (115,7%) na Península Ibérica.

16 de Novembro de 2022 às 16:35
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"Esta é a última década fóssil para a EDP". Apesar da atual crise energética, e da enorme quebra na produção hídrica em Portugal, que obrigou (e obriga) a recorrer cada vez mais ao gás natural para gerar eletricidade, a empresa mantém inalteradas as metas de abandonar o carvão até 2025 e o gás natural até 2030.

"Para o Grupo EDP "é muito claro que a transição energética é o caminho e temos um plano ambicioso de chegar 100% renováveis a 2030, plano ao qual vamos dar rapidez e escala, e ter cada vez mais energia renovável", disse ao Negócios Miguel Setas, administrador executivo da elétrica. 

Por estes dias, o responsável pela estratégia de sustentabilidade do Grupo EDP encontra-se no Egito para participar em reuniões ao mais alto nível na COP27 com a comissária europeia para a Energia, Kadri Simson, a ministra belga da Energia, Tinne Van der Straeten, e também o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, e o secretário de Estado da Energia, entre muitos outros gestores das maiores elétricas mundiais que também estão na Cimeira do Clima.

Conjugando crise energética e crise climática, a EDP enfrenta na Península Ibérica a "maior crise hídrica das últimas décadas, que gerou um desvio de 3,3 TWh na produção hídrica face ao expectável, num contexto de elevados preços grossistas de energia". Este efeito, refere a empresa, "foi parcialmente mitigado pelo aumento da produção térmica".

"Lidar com a incerteza é lidar com a incerteza. Nenhum de nós tem uma bola de cristal para ver o que está pela frente. Quando lidamos com a falta de energia, por vezes temos de recorrer a soluções de transição que depois não podem ficar para o longo prazo. Se há algo que está muito claro para a EDP é que a trasição energética é o caminho. Temos de dar rapidez e escala a esse processo de trasição e ter cada vez mais energia renovável", disse Miguel Setas, reconhecendo que "este ano é mais complicado por causa da crise na energia hídrica, que estamos a passar em Portugal e em Espanha".

Quando ao perigo de a atual crise energética mundial poder comprometer as metas climáticas, o administrador da EDP garante que "desta COP sai um reafirmar das metas de médio prazo".

"Mesmo que possa haver agora, e durante o inverno, o recurso às fontes chamadas de transição, como o gás natural, a vontade da UE é que os Estados-membros apostem em força nas renováveis. E há um respeito pelo exemplo português nas energias verdes e pela sua agenda de transição. Estamos a caminhar no sentido correto".

Quanto à EDP, também usará carvão até 2025 (tem ainda seis centrais alimentadas com esta fonte poluente) e gás até 2030, para produzir eletricidade, mas "esta é a última década fóssil". 

De janeiro a setembro de 2022, a empresa registou em Portugal um resultado líquido negativo de quase 200 milhões de euros graças à situação de "seca extrema" no país, responsável por uma produção hídrica 63% abaixo do esperado, "conjugada com os elevados preços de eletricidade no mercado grossista ibérico no período (186/MWh,+137% do que no período homólogo). 

Em sentido contrário, a produção de energia elétrica com recurso ao gás natural aumentou 58,3% até setembro e com recurso ao carvão aumentou 115,7% na Península Ibérica (em Espanha, já Portugal já não tem centrais a carvão). Outro aumento muito expressivo foi na energia solar, que registou um acréscimo global de 142,8% no período, com destaque para a Europa (+102,4%). 

Nas energias renováveis, nos últimos 12 meses, a EDP instalou 2,7 GW de capacidade, falando de um "bom ritmo de execução" do Plano Estratégico que prevê a instalação de 20 GW entre 2021 e 2025. Neste momento, a EDP conta com 26 GW de capacidade instalada (+7% face ao período homólogo), dos quais 79% são renováveis. Já na produção de eletricidade, atingiu os 46 GWh até setembro (+6%), sendo que 70% têm origem em fontes limpas.  

COP27 é a cimeira da implementação, da diversidade e dos países do sul 
 
Na visão de Miguel Setas, e comparando com a Cimeira do Clima da ONU, que teve lugar na EScócia, em 2021, na qual também marcou presença, "a COP26 foi para assumir compromissos e esta agora é para reafirmar esses mesmos compromissos e sublinhar a urgência da sua implementação".

O foco, garante, está muito mais "no fazer, ganhar velocidade, ganhar escala rapidamente. Havia dúvidas e vozes céticas sobre a trajetória para manter a temperatura global de apenas 1,5 graus acima da era pré industrial, mas agora não há volta a dar, não há outro caminho nem como retroceder. Até esse compromisso é reafirmado. Apesar de parecer difícil, temos de tentar de reduzir rapidamenre emissões, descarbonizar de forma acelerada e fazê-lo, ainda que pareça utópico, em escala e com rapidez. Toda a tónica desta COP é na emergência", sublinha o administrador da EDP.

Além disso, refere, a COP26 foi mais virada para o clima e esta COP27 é mais virada para a natureza, a biodiversidade, para a componente social, os biomas florestas, "toda uma visão muito integrada". Por fim, avalia, a COP26 foi uma COP na Europa, no hemisfério norte, e esta é em África, no hemisfério sul, mais focada nos tema de mitigação, perdas e danos, adaptação e financiamento. "É uma COP que dá atenção aos países que já estão a sofrer e a serem impactados com as alterações climáticas".

E dexa um aviso: "Governos e empresas, temos de estar todos alinhados num esforço coletivo e numa agenda comum. Isto só vai acontecer se agenda for partilhada por todos".

Em 2022, a EDP volta a estar presente na principal Conferência das Nações Unidas sobre mudança climática, com dezenas de participações e intervenções em painéis de discussão, grupos de trabalho, encontros bilaterais e outros eventos, e com uma delegação formada por vários elementos de diferentes geografias (Portugal, Brasil e Espanha) e áreas de negócio. 

Na semana passada, a EDP subscreveu o "1.5°C Business Statement", promovido pela We Mean Business Coalition, que reforça um apelo das empresas para que os governos não recuem nas políticas climáticas que são necessárias para conter o aumento da temperatura global (e que se tornou um risco maior no atual contexto de guerra e  crise energética).

EDP financia 9 projetos de acesso a energia renovável em África

Em paralelo com a COP27, a EDP anunciou que vai financiar mais nove projetos que promovem acesso a energia renovável em comunidades remotas e vulneráveis em quatro países africanos: Moçambique, Nigéria, Angola e Maláui.

O financiamento total de um milhão de euros – garantido pelo Fundo A2E (Access to Energy), que já vai na 4ª edição – terá impacto direto em áreas prioritárias como a saúde, agricultura, educação ou acesso a água potável nestas geografias, envolvendo mais de um milhão de beneficiários diretos e indiretos. 
 
Entre os projetos selecionados destacam-se, por exemplo, um sistema de ‘malas’ solares que fornecem energia para maternidades, micro-redes elétricas para abastecer postos clínicos e outros inovadores sistemas de energia solar que alimentam produção agrícola ou câmaras frigoríficas em mercados locais. 

No total das quatro edições, este fundo já disponibilizou um total de 2,5 milhões de euros para apoiar 29 projetos em sete países africanos (Angola, Maláui, Moçambique, Nigéria, Quénia, Ruanda e Tanzânia) que contribuíram para melhorar a vida de mais de 100 mil pessoas e, indiretamente, de mais de um milhão.
 

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