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O parlamento britânico quer saber se o Royal Mail foi subvalorizado. O inquérito já começou

A entrada em bolsa da centenária empresa de correios britânica está a ser escrutinada pelo parlamento britânico. Sem que ainda tenham passado cinco semanas desde o IPO, o preço da operação está envolto em polémica.

Bloomberg
20 de Novembro de 2013 às 17:33
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O Parlamento britânico começou esta quarta-feira, 20 de Novembro, a ouvir os responsáveis pela colocação em bolsa do Royal Mail. Estão presentes representantes do Goldman Sachs e do UBS, os dois bancos escolhidos pelo Governo de David Cameron, de outros três bancos (JPMorgan, Citibank e Deutsche Bank) que avaliaram a empresa e do banco de investimento Panmure Gordon (que alertou para o baixo valor da oferta).

 

Mais de seis horas após o início da sessão, a comissão parlamentar já tem uma certeza: os bancos escolhidos pelo Governo britânico (Goldman Sachs e o UBS) para colocarem o Royal Mail em bolsa foram os que apresentaram a avaliação mais baixa: 3,3 mil milhões de libras.   

 

O JPMorgan avaliou o Royal Mail entre 6,8 mil milhões e 8,5 mil milhões de libras; o Citigroup apresentou um intervalo de preços entre 5,9 mil milhões e 6,5 mil milhões e o Deutsche Bank apresentou a avaliação mais baixa dos três, entre 5,5 mil milhões e 6 mil milhões de libras.

 

Os deputados britânicos querem agora saber qual o critério usado pelo Goldman Sachs e pelo UBS na avaliação da empresa. E porque motivo a escolha do Governo recaiu sobre estes dois bancos.

 

UBS quis adiar a operação e subir o preço

 

Ao longo do dia, Richard Cormack do Goldman Sachs e James Robertson do UBS têm sido alvo de duras críticas por parte dos deputados britânicos, tendo sido acusados de terem realizado uma "má colocação de mercado" e de terem "custado aos contribuintes muitos milhões de libras".

 

A indignação dos deputados subiu de tom após ser revelado que as avaliações do Goldman Sachs e do UBS não incluiram potenciais ganhos com futuras vendas de propriedades da empresa. 

 

Richard Cormack e James Robertson defenderam-se das acusações afirmando que o IPO do Royal Mail foi "particularmente" difícil. O preço final teve em consideração, segundo os dois responsáveis, "a ameaça de um default nos Estados Unidos [na altura da entrada em bolsa do Royal Mail, as negociações orçamentais entre democratas e republicanos tinham chegado a um impasse e obrigado a encerrar vários serviços públicos. A ameaça de um default pairou até dia 17 de Outubro. O IPO ocorreu a 11 de Outubro] e a ameaça de uma greve no sector".

 

"A possibilidade de um default nos Estados Unidos foi certamente um factor que nos impediu de subir o preço do IPO", confirmou Richard Cormack, recordando que, na altura, a bolsa londrina caiu durante 12 dias consecutivos. "Mas você [Richard Cormack] é um homem inteligente e, certamente, sabia que os políticos norte-americanos iam resolver o problema", interpelou um deputado. "Há sempre o perigo de um acordo não ser alcançado", respondeu o representante do Goldman Sachs na comissão de inquérito.

 

Richard Cormack confirmou ainda que grandes investidores ameaçaram não participar no IPO caso o preço fosse superior a 330 pence. 

 

James Robertson, do UBS, revelou que, poucos dias antes do IPO, aconselhou o Governo britânico a aumentar o valor das acções em 20 pence. "E por que não o fizeram?", perguntou um deputado. "É uma decisão muito rara. Nos últimos 13 anos só aconteceu uma vez", disse Robertson.   

 

Richard Cormack afirmou que o preço final do IPO (330 pence) foi decidido pelo Governo e que este era "consistente" com as avaliações e os conselhos dos dois bancos. 

 

Em discussão esteve também o valor das comissões pagas aos dois bancos. Até agora, as duas instituições já receberam 13 milhões de libras. Mas há ainda 4,2 milhões de libras por pagar.

 

Os sindicatos exigem que este valor não seja pago e o presidente da comissão de inquérito prometeu analisar a questão. "A decisão final está nas mãos do secretário de Estado", disseram Richard Cormack e James Robertson, referindo-se a Vince Cable, que na próxima semana também será ouvido na comissão de inquérito.

 

O responsável recusou já as acusações de que o preço das acções tenha sido definido a um nível demasiado baixo e, em comunicado, o governo classificou a operação como "bem-sucedida".

 

O preço inicial (330 pence) avaliava a empresa em 3,3 mil milhões de libras (389 mil milhões de euros). Neste momento, a empresa está avaliada em 5,5 mil milhões de libras.

 

As acções colocadas em bolsa correspondem a 52,2% do capital social da empresa e representaram, para o Tesouro britânico, um ganho de 1,7 mil milhões de libras. O Estado britânico fica, com esta operação de colocação em bolsa, a ser dono de 37,8% do Royal Mail.

 

A procura por acções do Royal Mail na oferta feita pelo Estado foi forte sendo que, no caso de investidores institucionais, a procura foi 20 vezes a oferta. Os investidores institucionais, como bancos, ficaram com 67% das acções disponíveis, segundo o Governo liderado por David Cameron. A elevada procura por investidores particulares justificou-o, sendo que estes ficaram com 33% da base da oferta.   

  

(Notícia actualizada às 18h32)

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