Notícia
Água da torneira é 99% segura, mas "vai ser cada vez mais difícil de garantir", diz ERSAR
Desde 2015, Portugal apresenta 99% de segurança na água que sai das torneiras. No futuro, este controlo de qualidade mais apertado será estendido às bacias hidrográficas e aos sistemas prediais, o que pode fazer descer esta percentagem, avisa o regulador.
A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), revelou esta segunda-feira que em 2022 se registou mais uma vez um elevado nível de segurança - 98,88% - da água disponível nas torneiras dos consumidores portugueses. Este é um valor que se aplica apenas aos 14% de água usada para consumo humano no país (os restantes 86% dizem respeito à agricultura e indústria) e se mantém há oito anos consecutivos: desde 2015 que 99% da água é segura, frisa o regulador.
No entanto, na apresentação do mais recente relatório de controlo da qualidade da água (Volume 2 do Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal - RASARP 2023), Vera Eiró, presidente da ERSAR, avisou que "vai ser cada vez mais difícil de garantir a percentagem de água segura nas torneiras".
"Estamos contentes com a resposta dada pelo setor da água num ano de escassez hídrica, e por isso mais difícil no que diz respeito à quantidade disponível de água. Mas também num ano em que o próprio controlo da qualidade da água foi mais exigente, devido à introdução de uma nova abordagem de avaliação de risco. Ainda assim, os resultados continuaram muito bons e pelo oitavo ano consecutivo atingimos 99% de água segura nas torneiras ligadas aos sistemas de abastecimento público", disse a responsável, sublinhando que "este não é um trabalho finalizado e os próximos anos vão ser muito, muito difíceis".
Esta dificuldade prende-se, explica Vera Eiró, com a necessidade de implementar, nos próximos anos, uma avaliação de risco ao controlo da água "desde a origem, ou seja, desde as bacias hidrográficas, até aos sistemas prediais", que por norma são privados e incluem edifícios como ginásios, escolas, hospitais e outras infraestruturas propensas a surtos da bactéria legionella, por exemplo. Os parâmetros da quantidade de chumbo e crómio na água, nos edifícios, também serão revistos.
E se na origem o controlo de qualidade caberá à Agência Portuguesa do Ambiente daqui a quatro anos, a partir de 2027, no final da cadeia da água esse tema ficará a cargo das autoridades de Saúde, mas apenas de 2029 em diante. Esta exigência, entre muitas outras que serão introduzidas (como por exemplo a deteção de microplásticos na água para consumo humano e a obrigatoriedade de existir uma rede pública nacional de bebedouros públicos), surge na sequência do novo regime legal fixado pelo Decreto-Lei n.º 69/2023, de 21 de agosto.
"Vai ser muito difícil fazer esta implementação, serão necessários recursos técnicos e financeiros e existirão desafios acrescidos no controlo da qualidade da água para o setor, que exigirá grande partilha de informação entre as diferentes entidades", refere a presidente da ERSAR, frisando que "quanto maior for o controlo, maior será também a deteção de incumprimentos" na manutenção da qualidade da água.
No que diz respeito à escassez de água que assola o país, a responsável garante que "não tem tido repercussão na qualidade da água por força do trabalho das entidades gestoras". No entanto, existe um senão: "Quando começamos a captar água no volume morto de uma barragem, por causa da escassez hídrica, vamos detetar impurezas e a qualidade da água é pior. Ou seja, o esforço extra que é feito para encontrar nova água para captar repercute-se numa qualidade diferente da água na origem, que exigirá também um maior esforço financeiro [mais energia gasta e mais reagentes] nas estações de tratamento".
De acordo com o Governo, e no âmbito da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, esta captação do volume morto de água já está a acontecer no Algarve (a região do país mais afetada pela seca), na barragem de Odeleite, seguindo-se a barragem de Bravura.
Em 2022, os Programas de Controlo da Qualidade aprovados pela ERSAR envolveram mais de 600 mil análises realizadas por laboratório autorizados. Apesar dos 99% de água segura em Portugal (apenas Arronches, Crato e Sever do Vouga estão abaixo dos 95%), os dados da ERSAR mostram as assimetrias regionais que existem entre o litoral e o interior e também a diferença entre a cobertura da rede de abastecimento de água e a adesão à mesma. Ou seja, mesmo com água da rede à porta de casa, muitos consumidores continuam a preferir consumir água de poços e furos privados, cuja qualidade não é avaliada.
No entanto, na apresentação do mais recente relatório de controlo da qualidade da água (Volume 2 do Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal - RASARP 2023), Vera Eiró, presidente da ERSAR, avisou que "vai ser cada vez mais difícil de garantir a percentagem de água segura nas torneiras".
Esta dificuldade prende-se, explica Vera Eiró, com a necessidade de implementar, nos próximos anos, uma avaliação de risco ao controlo da água "desde a origem, ou seja, desde as bacias hidrográficas, até aos sistemas prediais", que por norma são privados e incluem edifícios como ginásios, escolas, hospitais e outras infraestruturas propensas a surtos da bactéria legionella, por exemplo. Os parâmetros da quantidade de chumbo e crómio na água, nos edifícios, também serão revistos.
E se na origem o controlo de qualidade caberá à Agência Portuguesa do Ambiente daqui a quatro anos, a partir de 2027, no final da cadeia da água esse tema ficará a cargo das autoridades de Saúde, mas apenas de 2029 em diante. Esta exigência, entre muitas outras que serão introduzidas (como por exemplo a deteção de microplásticos na água para consumo humano e a obrigatoriedade de existir uma rede pública nacional de bebedouros públicos), surge na sequência do novo regime legal fixado pelo Decreto-Lei n.º 69/2023, de 21 de agosto.
"Vai ser muito difícil fazer esta implementação, serão necessários recursos técnicos e financeiros e existirão desafios acrescidos no controlo da qualidade da água para o setor, que exigirá grande partilha de informação entre as diferentes entidades", refere a presidente da ERSAR, frisando que "quanto maior for o controlo, maior será também a deteção de incumprimentos" na manutenção da qualidade da água.
No que diz respeito à escassez de água que assola o país, a responsável garante que "não tem tido repercussão na qualidade da água por força do trabalho das entidades gestoras". No entanto, existe um senão: "Quando começamos a captar água no volume morto de uma barragem, por causa da escassez hídrica, vamos detetar impurezas e a qualidade da água é pior. Ou seja, o esforço extra que é feito para encontrar nova água para captar repercute-se numa qualidade diferente da água na origem, que exigirá também um maior esforço financeiro [mais energia gasta e mais reagentes] nas estações de tratamento".
De acordo com o Governo, e no âmbito da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, esta captação do volume morto de água já está a acontecer no Algarve (a região do país mais afetada pela seca), na barragem de Odeleite, seguindo-se a barragem de Bravura.
Em 2022, os Programas de Controlo da Qualidade aprovados pela ERSAR envolveram mais de 600 mil análises realizadas por laboratório autorizados. Apesar dos 99% de água segura em Portugal (apenas Arronches, Crato e Sever do Vouga estão abaixo dos 95%), os dados da ERSAR mostram as assimetrias regionais que existem entre o litoral e o interior e também a diferença entre a cobertura da rede de abastecimento de água e a adesão à mesma. Ou seja, mesmo com água da rede à porta de casa, muitos consumidores continuam a preferir consumir água de poços e furos privados, cuja qualidade não é avaliada.