Notícia
Vídeo-árbitro só vai acabar com erros grosseiros de arbitragem
O sistema de vídeo-árbitro, que tem a estreia oficial em Portugal marcada para a final da Taça de Portugal do próximo domingo, deverá intervir o mínimo possível no decorrer das partidas, e apenas nos erros que forem considerados claros e grosseiros.
No próximo domingo, Benfica e Vitória de Guimarães disputam a final da Taça de Portugal e o árbitro principal Hugo Miguel terá dois importantes apoios na tomada de decisões: numa carrinha devidamente equipada com as imagens captadas pelas câmaras no estádio, e estacionada na Cidade do Futebol, em Oeiras, os árbitros Artur Soares Dias e Jorge Sousa irão cumprir a função de vídeo-árbitros, ajudando o chefe da equipa de arbitragem a tomar a melhor decisão.
Contudo, estes dois árbitros não vão poder intervir sempre que detectarem um erro. A intervenção do vídeo-árbitro deverá ocorrer o mínimo de vezes possível. "O que se pretende é que o vídeo-árbitro intervenha pouco mas, quando intervier, que seja com máximo benefício para o jogo", descreveu esta manhã o vice-presidente do Conselho de Arbitragem, e antigo árbitro internacional, João Ferreira, na Cidade do Futebol, em Oeiras, durante uma formação para jornalistas sobre o novo sistema da Federação Portuguesa de Futebol. O lema é "mínima intervenção, máximo benefício".
O protocolo do vídeo-árbitro, tal como aprovado pela International Football Association Board (IFAB), apenas permite que estes juízes intervenham num conjunto limitado de situações, especialmente se forem "decisões com impacto no jogo", pormenorizou João Ferreira.
A decisão final continua a ser do árbitro principal. "O árbitro toma sempre a decisão, só muda a decisão se for um erro evidente", observa João Ferreira. Este menu de situações destina-se a evitar que o jogo esteja a ser constantemente interrompido com situações menores. Por isso, João Ferreira diz que "vão acabar os erros grosseiros, aqueles que toda a gente percebe que é um erro". Já os "erros de interpretação não vão acabar". Até porque "situações de dúvida não são erros claros". "Não poderemos pensar que vamos acabar com os erros; não, de todo".
Golos, penáltis ou vermelhos directos sob escrutínio
E que situações são essas? Em primeiro lugar, todos os golos serão revistos antes de serem validados. O objectivo é apurar se houve alguma falta cometida pela equipa na fase de ataque, se houve alguma mão na bola, se houve fora-de-jogo, se a bola esteve fora das quatro linhas antes do golo e, nos casos em que não exista tecnologia de linha de golo, para apurar se houve ou não golo.
"Todas estas situações serão analisadas antes de se validar o golo", explicou João Ferreira. Mas isso não vai demorar demasiado tempo? O ex-árbitro está convencido que não. "É simples, porque [nesse momento] as equipas estão a comemorar e dá tempo" para rever a decisão.
Segunda situação em que intervém o vídeo-árbitro: em pontapés de penálti. "Se for uma simulação clara, a decisão de penálti será revogada" por indicação do vídeo-árbitro, acrescentou João Ferreira, sublinhando que este juiz intervirá se nas imagens se concluir que um penálti foi mal assinalado, se houver lugar a pontapé de penálti e o juiz não o tenha sancionado ou se for assinalada infracção fora da área quando a falta foi dentro.
O vídeo-árbitro intervirá igualmente em situações de cartão vermelho directo (vermelhos por acumulação estão excluídos). Está prevista a intervenção deste juiz caso o cartão tenha sido mal exibido, ou caso o árbitro principal não se aperceba de uma agressão, por exemplo, ou outra situação clara de vermelho directo.
A finalizar, o protocolo define que o vídeo-árbitro deve comunicar ao juiz principal situações em que este tenha identificado erradamente um jogador – se por exemplo mostrar um cartão (amarelo ou vermelho) ao jogador errado, ou no caso de detectar uma infracção que não ocorreu, punindo um jogador por isso. Caso real: na final do Euro 2016, Portugal beneficiou de um livre perigoso à entrada da área francesa por uma alegada mão na bola do defesa francês –na realidade, a bola bateu na mão do jogador português, Eder. Com o vídeo-árbitro, o juiz teria sido alertado para este erro e Raphael Guerreiro não teria tido oportunidade de chutar à barra.
Não há limite de tempo para voltar atrás na decisão
"Isto vai revolucionar o futebol. 95% das decisões hoje em dia já são correctas, o que nos preocupa são os outros 5%, que queremos que sejam corrigidos em situações grosseiras", assumiu João Ferreira. Portanto, resumidamente, o vídeo-árbitro não vai acabar com os erros no futebol; mas vai acabar com os erros graves que podem ter influência no resultado, acredita João Ferreira.
Não há um tempo limite para o árbitro voltar atrás na sua decisão (depois de o vídeo-árbitro ter detectado alguma infracção nas imagens), embora João Ferreira também garanta que "não se vai esperar quatro minutos por uma decisão". A regra é que a decisão "terá que ser tomada no contexto de uma mesma jogada". E não será possível corrigir situações que tenham ocorrido antes de a bola ser colocada em jogo através de um lançamento, canto ou pontapé de baliza.
O árbitro principal pode sempre solicitar para rever o lance em causa, quer por sua iniciativa, quer por indicação do vídeo-árbitro, como também poderá acatar a recomendação do juiz que estará a controlar a transmissão televisiva. Sempre que quiser recorrer a este apoio, o árbitro principal fará, com as mãos, uma sinalética a imitar uma televisão, formando um quadrado – para sinalizar a intenção de recorrer às imagens televisivas.
A transmissão televisiva também poderá exibir as imagens em que a equipa de arbitragem se baseou para alterar alguma decisão, adiantou João Ferreira.
O vídeo-árbitro deverá, em regra, funcionar numa sala que está a ser construída na Cidade do Futebol, com capacidade para quatro jogos em simultâneo. O recurso a uma carrinha ocorrerá em situações excepcionais. Todos os 22 árbitros do quadro principal de arbitragem podem ser vídeo-árbitros.
Na próxima época desportiva, o vídeo-árbitro estará em funcionamento em todos os jogos da I Liga de futebol.