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Como funciona o vídeo-árbitro que se estreou na Taça de Portugal?

A final da Taça de Portugal, que vai ser disputada esta tarde entre o Benfica e o Vitória de Guimarães no Estádio Nacional, marca a estreia em jogos oficiais do sistema de vídeo-árbitro, uma iniciativa da Federação que tem como objectivo acabar com os "erros grosseiros" no futebol.

28 de Maio de 2017 às 10:00
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Quando o árbitro Hugo Miguel apitar para o início da partida entre o Benfica e o Vitória de Guimarães, que vai decidir o vencedor da Taça de Portugal, às 17:15 deste domingo, não vai ter apenas o apoio dos assistentes Paulo Soares e Nuno Roque e do quarto-árbitro Rui Costa. A algumas centenas de metros do Estádio Nacional, numa carrinha estacionada na Cidade do Futebol, quartel-general da Federação Portuguesa de Futebol, Artur Soares Dias (na foto) e Jorge Sousa vão observar todos os lances através da transmissão televisiva e avisar o árbitro principal quando este cometer algum erro grave.

 

É este o principal objectivo do vídeo-árbitro: evitar que haja erros grosseiros nos jogos de futebol, como golos em fora-de-jogo que tenham escapado aos árbitros assistentes ou cartões vermelhos por mostrar a algum jogador que tenha agredido um adversário. "O que se pretende é que o vídeo-árbitro intervenha pouco mas, quando intervier, que seja com máximo benefício para o jogo", resumiu João Ferreira, vice-presidente do Conselho de Arbitragem da FPF numa formação para jornalistas na passada segunda-feira.

 


O sistema de vídeo-árbitro já foi utilizado em diversos testes durante esta temporada, mas na modalidade "offline", em que o vídeo-árbitro não tem interferência no jogo. A partida desta tarde marca a estreia do sistema na versão "live", ou em directo, em que o vídeo-árbitro pode recorrer às imagens televisivas através de um monitor no exterior do terreno de jogo.

 

Em que situações é que o vídeo vai poder intervir?
São apenas quatro as situações em que o vídeo-árbitro poderá comunicar com o árbitro principal: em primeiro lugar, todos os golos serão revistos antes de serem validados. O objectivo é apurar se houve alguma falta cometida pela equipa na fase de ataque, se houve alguma mão na bola, se houve fora-de-jogo, se a bola esteve fora das quatro linhas antes do golo e, nos casos em que não exista tecnologia de linha de golo, para apurar se houve ou não golo.

Em segundo lugar, o vídeo-árbitro poderá intervir em pontapés de penálti. Por exemplo, "se for uma simulação clara, a decisão de penálti será revogada" por indicação do vídeo-árbitro, precisou João Ferreira.

Terceira situação: situações de cartão vermelho directo (vermelhos por acumulação estão excluídos) – caso o cartão tenha sido mal exibido, ou caso tenha havido um lance para expulsão que tenha passado impune. Em quarto lugar, o vídeo-árbitro deve comunicar ao juiz principal situações em que este tenha identificado erradamente um jogador, admoestando-o com um cartão, por exemplo.

 

O árbitro é obrigado a aceitar os conselhos do vídeo-árbitro?
Não. A decisão final sobre qualquer lance continua a ser do árbitro principal. O vídeo-árbitro pode dizer, de forma clara, ao árbitro principal que este cometeu um erro, aconselhando-o a corrigi-lo, ou pode sugerir-lhe que este reveja as imagens no monitor junto à linha lateral.

 

Quem é o vídeo-árbitro?
A equipa que assegura a análise das imagens televisivas das partidas é composta por um vídeo-árbitro – esta tarde será Artur Soares Dias, um assistente do vídeo-árbitro – Jorge Sousa – e um operador técnico, que o apoia na escolha dos melhores ângulos para tomada de decisões. Estes terão à frente um monitor com o sinal em tempo real, outro com alguns segundos de atraso, e um monitor com todas as câmaras do jogo.



A actuação do vídeo-árbitro será gravada e poderá surgir durante a transmissão televisiva. Está previsto exibir as imagens que levem um árbitro a corrigir uma decisão por indicação do vídeo-árbitro.

Nos jogos da Primeira Liga de futebol, já a partir de Agosto, qualquer um dos 22 árbitros do quadro principal poderá cumprir as funções de vídeo-árbitro. Cada jogo terá de ter um mínimo de oito câmaras.

 

Onde funciona o vídeo-árbitro?

A FPF está a construir uma sala de operações na Cidade do Futebol onde será possível cumprir funções de vídeo-árbitro em quatro jogos em simultâneo. Será neste local que quase todos os jogos serão acompanhados. Só em situações excepcionais é que o acompanhamento dos jogos será feito em carrinhas estacionadas junto aos estádios.

 

Os jogos não poderão demorar muito mais tempo, se o árbitro tiver de ir rever um lance à linha lateral várias vezes?

É uma possibilidade, mas já por isso é que o vídeo-árbitro vai intervir apenas em lances de erros claros. As estatísticas indicam que os árbitros demoram nove segundos para alterar a decisão no modo "offline", 15 segundos na versão "semi-live" (em que o árbitro não pode consultar as imagens), e um minuto se o árbitro tiver de ir ao monitor rever as imagens, informou João Ferreira.

 

O árbitro pode corrigir uma decisão que tenha tomado cinco minutos antes?

Não há um limite de tempo rígido para a correcção de uma decisão errada. O que é suposto é que possa haver uma revisão de toda a jogada que está na origem de determinado lance. Não mais que isso. Portanto, cinco minutos seria claramente para lá do que é aconselhável. Se a bola sair do terreno de jogo, isso em princípio também "reinicia" a possibilidade de corrigir a decisão, porque interrompe a jogada – embora possa haver excepções, se entretanto houver uma agressão que o árbitro não tenha visto.

 

Se um lance for duvidoso, e se enquadrar numa das quatro situações em que o vídeo-árbitro pode intervir, ele vai comunicar com o árbitro principal?

Não. Pelo menos não é suposto. Nessa situação, o vídeo-árbitro deverá seguir o chamado protocolo de silêncio. Se um lance for duvidoso, não é um erro grosseiro, explicou João Ferreira. As dúvidas de interpretação vão continuar a existir, e os erros também. Espera-se é que acabem os erros clamorosos.

 

Há exemplos?

O lance em que o jogador do Benfica Pizzi tocou por duas vezes com a mão na bola dentro da sua área. No seguimento dessa jogada, o Benfica marcou golo. Por essa razão, e tal como consta no protocolo do sistema, toda a jogada seria revista pelo vídeo-árbitro antes de o árbitro poder validar o tento. João Ferreira explica que esse lance é duvidoso e que a acção de Pizzi aparenta ser involuntária e acidental. Assim sendo, o vídeo-árbitro não deve intervir.

 


E um lance em que devesse ter intervindo?

Por exemplo, a agressão de Samaris, do Benfica, a Diego Ivo, do Moreirense, foi apenas detectada nas imagens televisivas. Se o vídeo-árbitro a tivesse visto, deveria dizer ao árbitro principal para expulsar o jogador.

Os jogadores vão poder pedir a revisão de lances, como no ténis?
Não. Os jogadores e equipas técnicas não podem pedir ao árbitro para rever determinado lance nem podem visualizar as imagens no espaço reservado para o efeito, junto à linha lateral. Se o fizerem, serão punidos com cartão amarelo ou vermelho.

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