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Consumo desce para níveis inferiores ao pré-pandemia e marcas próprias batem recordes

Segundo uma análise, levada a cabo pela Kantar, apresentado pela Centromarca, a atual conjuntura inflacionista tem beneficiado o crescimento das marcas próprias que foram as que mais cresceram no ano passado,

O crescimento do consumo foi essencial para a recuperação do PIB no primeiro trimestre deste ano.
Heinz-Peter Bader/Reuters
12 de Junho de 2023 às 18:43
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O consumo dos lares portugueses ficou 2% abaixo dos níveis pré-pandemia em 2022, com a inflação a reeditar alguns padrões de compra da crise da "troika" e a levar as chamadas marcas brancas a atingir máximos históricos.

É o que revela uma análise levada a cabo pela Kantar, apresentada recentemente no âmbito da conferência "Redesenhar o Futuro das Marcas", da iniciativa Centromarca– Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, divulgada, esta segunda-feira, num comunicado de imprensa enviado às redações.

Segundo o estudo, a quebra no consumo dentro de casa não foi, contudo, consequência da transferência para fora do lar. Um segmento que, aliás, esteve também abaixo dos níveis pré-pandemia, com cafés e pastelarias, a par com cantinas e "vending machines" a figurarem como os canais que mais regrediram a este nível.

Os dados mostram ainda que no ano passado os portugueses não só fracionaram mais as idas às compras - houve um aumento percentual de 4,3% na frequência face aos valores de 2021 -, como também estão a planeá-las mais. Já este ano, 30,2% afirma mesmo que "decide que marcas comprar antes de sair para as compras" comparativamente aos 27,2% de há dois anos. Além disso, quase seis em cada dez (57,5%) "faz uma lista de compras antes de sair de casa e cinge-se a ela", enquanto esse número era de 54,9% em 2021.

Na mesma nota, a Centromarca explica que os números tiveram como objetivo perceber se as aprendizagens da crise da "troika" de 2013 servem para 2023. E, observando os comportamentos do último ano, a análise conclui que será "muito provável" verificar-se uma retração do consumo, o crescimento das marcas de distribuidor (MDD), compras cada vez mais planeadas e um cada vez maior fracionamento das compras.

Aponta, ainda, que será "provável" a transferência do consumo de fora para dentro de casa e um aumento das promoções, "mesmo que a principal mudança aconteça na forma como o consumo acontece dentro da casa das famílias portuguesas (através das plataformas digitais, ou de comida pronta dos supermercados), assim como o surgimento de novas mecânicas promocionais".

Do dados extraem-se ainda pistas sobre a evolução das vendas no setor, mostrando que "em 2022 as marcas de distribuidor cresceram mais e atingiram máximos históricos" e que "apenas no primeiro trimestre cresceram 4,9 pontos em quota de mercado, enquanto que, de 2019 a 2021, tinham crescido 2,9%". "Mostra, ainda, que cada vez mais os consumidores visitam várias lojas para aproveitar os melhores preços, com 42,8% a fazê-lo, tendo-se registado, neste campo, um aumento de 3,6 pontos percentuais face aos valores de 2021", reforça.

Neste sentido, a análise da Kantar, aponta a Centromarca, indica que "as marcas deverão adaptar-se a famílias mais pequenas e com menos poder de compra, com o objetivo de satisfazer as suas necessidades de consumo de marcas que lhes transmitam confiança. As marcas deverão também adaptar-se a espaços com lineares mais reduzidos, de forma a conseguirem responder às necessidades dos distribuidores de oferecer o melhor sortido possível nas suas lojas".

"Só através da colaboração entre os fabricantes e os retalhistas, haverá criação de valor para os consumidores e os próprios atores da indústria, sendo fundamental a partilha de informação", diz o "country manager" da Kantar em Portugal, Carlos Cotos, citado na mesma nota.

O diretor-geral da Centromarca, Pedro Pimentel,  por seu turno, apesar de reconhecer que "a quebra do poder de compra, o 'downtrading', a redução substancial das vendas em volume e a transferência entre marcas de fabricante e marcas próprias gera forte preocupação no universo das marcas do grande consumo", sustenta que "há que reagir e inverter este estado de coisas através da força inequívoca das marcas e da sua capacidade de adaptação às novas preocupações do consumidor e às novas dinâmicas do retalho".

Assim, tal deve passar por "aumentar a penetração, fomentar uma maior frequência de compra, adaptar o seu portfolio às necessidades de cada ato de compra e ter estratégias promocionais e de 'pricing' consistentes, visando responder aos anseios das famílias portuguesas e às dificuldades do mercado", concluiu Pedro Pimentel.

Os dados de compra são baseados no Painel de Lares da Kantar, uma amostra de 4.000 lares, representativos de Portugal Continental e dispersos em mais de 1.000 Pontos de Sondagem, que declararam as suas compras semanalmente. Os resultados apresentados têm um nível de confiança de 95%, com erro amostral associado de 1,96%.

A Centromarca, fundada em 1994, conta com mais de 60 associados que detém mais de mil marcas que  representam 7,5 mil milhões de euros de faturação e 2,2 mil milhões em receitas fiscais para o Estado e dão trabalho a 28.000 pessoas.
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