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Vítor Bento: "A Zona Euro tem feito pior que o Japão"
"A Europa e, em particular, a Zona Euro, não está a conseguir satisfazer as expectativas económicas e sociais, e depois as pessoas sentem-se tentadas a experimentar 'Trumps'", alerta o economista.
Tal como nos Estados Unidos, onde a insatisfação terá levado à derrota de Hillary Clinton, também na Europa e, em particular na Zona Euro, os cidadãos estão a ver as suas expectativas frustradas e poderão ver-se tentados a experimentar alternativas mais radicais e anti-sistema, alertou Vítor Bento.
"A Europa e, em particular, a Zona Euro não está a conseguir satisfazer as expectativas económicas e sociais, e depois as pessoas sentem-se tentadas a experimentar Trumps, um 'outsider'", afirmou o economista na conferência anual do Negócios, que decorre em Lisboa nesta quarta-feira, 23 de Novembro.
Considerando que o resultado eleitoral nos EUA deve ser interpretado mais na perspectiva de perceber por que a candidata democrata perdeu dois milhões de votos face à ultima reeleição de Barack Obama, Vítor Bento disse ser preciso ter "a humildade de perceber a realidade", em vez "acharmos que a realidade está errada à luz dos nossos modelos", e nesse contexto olhar para o que se passa na Europa, onde o crescimento está estagnado há largos anos e também a globalização, tendo gerado mais riqueza, gerou também maiores assimetrias.
"A performance per capita do euro [PIB dividido pela população] é pior do que a do Japão, pior do qualquer bloco do mundo", realçou o economista e antigo conselheiro de Estado, considerando que isso se deve essencialmente ao facto de a união monetária ser ainda encarada na óptica de uma soma de países e de problemas isolados, quando deveria ser gerida de forma agregada e sistémica.
Sobre o risco de uma guinada anti-sistema na Europa, numa altura em que Holanda, França e Alemanha se preparam para ir a eleições em 2017, Vítor Bento lembrou que, a seguir a uma recessão e a uma crise financeira, a História recente mostra que os partidos da extrema direita tendem a ganhar votos, e assiste-se a uma grande polarização política.
Vítor Bento disse ter sido um "erro" o tratado de Maastricht ter assumido que todos países da UE seriam membros do euro, mas agora "se a Europa não conseguir refundar o seu espaço cooperativo, vamos caminhar para o período dos anos 30". "As contradições internas são muitas. Só o BCE, e tarde, leu a literatura da grande depressão e evitou o pior", acrescentou.
(Notícia actualizada às 12:38 com mais informação)