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Medina: "Isto não vai lá com pequenos arranjos"
Esquerda-direita é duelo do passado, agora temos de defender sociedades abertas, diz Fernando Medina, que pede convergência em Portugal nesse sentido e solidariedade a todos os que na Europa se movem na mesma direcção, como diz ser o caso de Merkel. Será preciso refundar a UE, e Portugal tem de estar dentro desse novo núcleo duro.
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A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (UE) e a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos foram alimentados por narrativas semelhantes e reflectem uma mudança de fundo "negativa e incerta" na geopolítica mundial que levará a um "aumento inevitável da conflitualidade internacional, nacional e racial" e do "risco de desagregação da Europa". Estas são dinâmicas que não podem mais ser dirimidas entre quem se diz de esquerda e de direita, mas entre quem defende a preferência por sociedades abertas ou fechadas. A leitura é de Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que, falando no encerramento da conferência anual do Negócios, se mostrou profundamente preocupado com o rumo dos acontecimentos mais recentes.
"A situação da Europa é particularmente complexa e enfrentamos riscos reais de desagregação", afirmou, citando o Brexit, a eleição de Trump, a agressividade da Rússia a Oriente e a "reserva mental de partilha de soberania" que persiste em vários países do Leste europeu, onde tem sido enorme a resistência à aceitação da quota de refugiados decidida em Bruxelas.
Perante este risco, que põe em causa a UE como "espaço de afirmação da democracia", o militante socialista apelou a uma convergência em Portugal na defesa de economias e sociedades "abertas e tolerantes" e a que se apoie na Europa todas as forças que se movam no mesmo sentido, como diz ser o caso de Angela Merkel. A chanceler alemã conservadora, que tentará obter em 2017 um quarto mandato, foi "criticada, e bem" na gestão da crise do euro, mas "é hoje um bastião da sociedade livre e aberta em que vivemos, e espero que se mantenha como esse referencial".
"Temos de estar inequivocamente do lado da abertura"
Segundo Medina, é urgente criar esse novo espaço de convergência política porque "estamos num campo e num tempo em que não se vêem as forças agregadoras do debate que vamos enfrentar, que não é entre a esquerda e a direita". "O debate nos próximos anos é entre termos uma sociedade aberta ou fechada", afirmou, advertindo que quem está a ganhá-lo em "sítios nucleares" é quem defende sociedades fechadas. "O que se passou em Inglaterra é ilustrativo. Ganhou o 'não' [à UE] onde havia menos imigração; foi voto do medo e do fechamento. Trump tem a mesma geografia eleitoral".
No caso de Portugal, "temos de estar inequivocamente do lado da abertura", frisou, antecipando que esta nova clivagem, entre quem se abre e se fecha ao mundo, force uma espécie de refundação da própria UE, porque "isto não vai lá com pequenos arranjos ou soluções parcelares". "Ainda enfrentamos as consequências de uma crise financeira, de uma crise de refugiados e de baixo crescimento, que têm de ser enfrentadas em conjunto". Ter-se-á de ver qual o núcleo político capaz de encontrar soluções comuns – "que não será a 28", antecipou. E nesse novo desenho da UE, Portugal "tem de estar na linha da frente". "Quem pense que temos uma melhor alternativa sozinhos, comete um erro enorme. (…) Pelo menos sobre isso, devíamos entender-nos", apelou.
"Londres está a pedir o impossível"
Fernando Medina aproveitou ainda a ocasião para fazer uma crítica cerrada à postura do governo de Theresa May, ao afirmar que Londres está a "pedir o impossível" à UE, quando diz querer retomar o controlo sobre a entrada de trabalhadores dos demais países e ao mesmo tempo manter livre acesso nos demais pilares do mercado único, o que significaria continuar a circular bens, serviços e capitais sem restrições. "Uma posição irrealista que vai levar a um pior resultado do que se houvesse uma posição realista de partida", advertiu.
"A situação da Europa é particularmente complexa e enfrentamos riscos reais de desagregação", afirmou, citando o Brexit, a eleição de Trump, a agressividade da Rússia a Oriente e a "reserva mental de partilha de soberania" que persiste em vários países do Leste europeu, onde tem sido enorme a resistência à aceitação da quota de refugiados decidida em Bruxelas.
Perante este risco, que põe em causa a UE como "espaço de afirmação da democracia", o militante socialista apelou a uma convergência em Portugal na defesa de economias e sociedades "abertas e tolerantes" e a que se apoie na Europa todas as forças que se movam no mesmo sentido, como diz ser o caso de Angela Merkel. A chanceler alemã conservadora, que tentará obter em 2017 um quarto mandato, foi "criticada, e bem" na gestão da crise do euro, mas "é hoje um bastião da sociedade livre e aberta em que vivemos, e espero que se mantenha como esse referencial".
"Temos de estar inequivocamente do lado da abertura"
Segundo Medina, é urgente criar esse novo espaço de convergência política porque "estamos num campo e num tempo em que não se vêem as forças agregadoras do debate que vamos enfrentar, que não é entre a esquerda e a direita". "O debate nos próximos anos é entre termos uma sociedade aberta ou fechada", afirmou, advertindo que quem está a ganhá-lo em "sítios nucleares" é quem defende sociedades fechadas. "O que se passou em Inglaterra é ilustrativo. Ganhou o 'não' [à UE] onde havia menos imigração; foi voto do medo e do fechamento. Trump tem a mesma geografia eleitoral".
"Londres está a pedir o impossível"
Fernando Medina aproveitou ainda a ocasião para fazer uma crítica cerrada à postura do governo de Theresa May, ao afirmar que Londres está a "pedir o impossível" à UE, quando diz querer retomar o controlo sobre a entrada de trabalhadores dos demais países e ao mesmo tempo manter livre acesso nos demais pilares do mercado único, o que significaria continuar a circular bens, serviços e capitais sem restrições. "Uma posição irrealista que vai levar a um pior resultado do que se houvesse uma posição realista de partida", advertiu.