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Vítor Bento: Capital inicial do Novo Banco "estava demasiado à pele”

O ex-presidente do conselho de administração do Novo Banco afirmou ainda que houve vários interessados no BES, nomeadamente a Cerberus, Apollo e Fosun.

23 de Março de 2021 às 15:50
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Vítor Bento, ex-presidente do conselho de administração do Novo Banco, afirma que a equipa se apercebeu desde logo que a recapitalização da instituição financeira hoje liderada por António Ramalho era "insuficiente". E revela que havia vários interessados no Banco Espírito Santo (BES). 

"O capital dotado [para o Novo Banco] estava demasiado à pele. E isso era negativo para o rating do banco", disse Vítor Bento esta terça-feira, 23 de março, no Parlamento, quando questionado pela deputada do CDS Cecília Meireles sobre o tema. De acordo com o responsável, a equipa apercebeu-se "que o capital do banco era insuficiente".

O gestor está a ser ouvido pelos deputados no âmbito da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

O Novo Banco recebeu uma recapitalização de 4,9 mil milhões de euros em 2014, depois de aplicada a medida de resolução ao Banco Espírito Santo. Mas, tal como o Negócios avançou, precisaria de mais 3,6 mil milhões para responder a todos os riscos e cumprir rácios de capital. 

Mas por que é que o capital era insuficiente? 
"Aquilo que eram as preocupações e que aumentaram a ideia que o capital era insuficiente era que os valores do balanço provisório tinham sido calculados com base nas contas de 30 de julho. Mas esse mês de julho trouxe uma desvalorização assinalável na participação na PT. Terá sido superior a 100 milhões de euros", referiu Vítor Bento. 

Além disso, havia ainda o "impacto das exposições indiretas", como o papel comercial, o que "ainda não estava devidamente clarificado". 

Também o Banco de Portugal propôs uma almofada adicional de 500 milhões de euros quando foi calculada a recapitalização do Novo Banco, aumentando a injeção inicial para 5,5 mil milhões. No entanto, o reforço acabou por ser de 4,9 mil milhões, tal como dito por Luís Costa Ferreira, diretor de supervisão do regulador, no Parlamento, há duas semanas. 

Sobre este tema, Vítor Bento disse que, "durante o fim-de-semana [da resolução], quadros do banco estiveram envolvidos com o Banco de Portugal para fazer a divisão de ativos e dessas conversas iam transpirando coisas. Julgo que a dada altura houve a ideia de que o capital seria de 5,5 mil milhões". 

Já sobre o processo de resolução, o ex-presidente do Novo Banco disse que esta operação "foi uma novidade para todos os atores envolvidos e para nós também. Na altura, nem conhecia a legislação da resolução". 

A insuficiência de capital já tinha sido mencionada por João Moreira Rato, ex-administrador financeiro do Novo Banco, que fazia parte da equipa liderada por Vítor Bento. No Parlamento, o gestor afirmou que "pouco tempo depois, ainda em agosto, lembro-me de, no conselho de administração, discutirmos que o capital que tínhamos poderia não ser suficiente para fazer face os problemas que poderiam ainda acontecer e ter algum impacto no balanço do banco". Um alerta que foi feito ao Banco de Portugal, mas que nunca teve resposta. 

Havia vários interessados no BES
Vítor Bento adiantou ainda, na audição, que "houve vários que manifestaram interesse" no BES. Foi o caso da Cerberus, Apollo ou Fosun, podendo haver mais interessados, disse ex-presidente do conselho de administração do Novo Banco no Parlamento. 

O ex-presidente do Novo Banco adiantou ainda que o Goldman Sachs disse que seria possível fazer um "aumento de capital de montante elevado" desde que os investidores ficassem com o controlo do banco, tal como aconteceu com o italiano Monte Paschi. Além disso, teria de haver uma desconexão do banco face ao GES e um investidor âncora, com mil milhões de euros.

No entanto, recordou, o ambiente era de muitas incertezas, nomeadamente em torno da exposição a Angola e do exercício de qualidade de ativos do BCE. 

(Notícia atualizada com mais informação.)

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