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Vieira Monteiro: Há uma "discrepância" entre o que foi decidido e assinado na Boats Caravela

O atual presidente não executivo do Santander Totta, que foi administrador da CGD até 2000, garante que aquilo que o conselho de administração decidiu na operação Boats Caravela não coincide com o que foi assinado posteriormente.

Lusa
11 de Junho de 2019 às 10:18
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António Vieira Monteiro, que foi administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) até 2000, garante que há uma "discrepância" entre o que foi decidido e o que foi assinado na chamada "Boats Caravela", uma das operações que acabou por se revelar ruinosa para o banco estatal.

 

"Verifico que existe uma discrepância entre o que este órgão [conselho de administração] autorizou (balizando rigorosamente e zelosamente o nível de risco a assumir) e o que consta de duas cláusulas do contrato", afirma Vieira Monteiro na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, esta terça-feira, 11 de junho. Estas, diz, "desviam-se das condições aprovadas pelo conselho de administração".

 

De acordo com o presidente não executivo do Santander Totta, "as deliberações do conselho de adminstração apontavam para um fundo fechado composto por ativos de primeira qualidade, ao passo que a versão assinada do contrato, sem que se entenda porquê, atribui à contraparte do banco o poder de alteração discricionária da composição do fundo, podendo com isso a qualidade dos ativos ser afetada e, consequentemente, o desempenho do contrato prejudicado".

O gestor explica ainda que "as deliberações diziam que se tratava de um fundo constituído por crédito que têm de obedecer a determinados ratings da S&P". 

Qualquer alteração, refere, tinha de passar novamente pela administração. "O órgão que decide a operação [conselho de administração], havendo discrepância, tem o dever e direito de voltar a apreciar a operação", nota, adiantando que isso não aconteceu. A operação "não voltou" ao conselho de administração.

 

"O único documento é uma ata que resulta de um pedido da direção internacional relativamente ao aumento da ‘pool’ [de ativos] por força de determinados tipos de créditos que não estavam inseridos na decisão final", nota. "Pede para acrescentar e a operação volta ao conselho. Daí em diante não há mais nada".

A "Boats Caravela" foi um instrumento financeiro que implicava troca de ativos. Mas a operação acabou por ter uma claúsula no contrato que permitiu à contraparte do negócio (o Credit Suisse First Boston) colocar produtos financeiros de baixa qualidade nos ativos trocados. Estes desvalorizaram-se e acabaram por gerar perdas de 340 milhões de euros para o banco público. Vieira Monteiro garante aos deputados "nunca ter contactado o Credit Suisse".

 

Na sua audição, Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, afirmou que não foi ele quem sugeriu a operação e que o conselho de administração não sabia do risco na mesma.

"Não digo que seja um erro de tesouraria, mas que houve aqui uma falha monumental, isso houve", afirmou o gestor, referindo-se à operação Boats Caravela. 

António de Sousa afirmou na sua audição que os membros da administração de João Salgueiro, a quem sucedeu à frente da CGD, "não entenderam bem aquilo que estavam a assinar" na operação em causa.

(Notícia atualizada às 10h25 com mais informação)

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