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Tomás Correia: Operação que gerou perdas de 340 milhões à CGD foi uma "falha monumental"
O antigo administrador da CGD considera que a questão em torno da operação Boat Caravela, que gerou perdas avultadas para o banco, devia "ser discutida até às últimas consequências".
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Tomás Correia, que foi administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) até 2003, afirma que os gestores do banco estatal não foram alertados para o risco em torno do negócio das obrigações Boat Caravela, assinado entre a Caixa e o Credit Suisse. A operação, que considera ter sido um "falha monumental", acabou por resultar em prejuízos de 340 milhões para o banco público.
"Os administradores não foram informados, confrontados ou chamados à atenção relativamente a esta questão, de que o contrato final tinha uma cláusula a favor do Credit Suisse", que lhe dava "grande poder de atuação, sem consulta da Caixa".
"Vim a tomar conhecimento disso em 2001 e fiquei surpreendido", notou o atual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, considerando que esta questão "vale uma discussão até às últimas consequências em todos os tribunais do mundo". O problema, diz, "é que parece que ninguém quer discuti-lo".
"Não digo que seja um erro de tesouraria, mas que houve aqui uma falha monumental, isso houve", notando não acreditar que o administrador do pelouro soubesse da cláusula em causa.
António de Sousa afirmou na sua audição que os membros da administração de João Salgueiro, a quem sucedeu à frente da CGD, "não entenderam bem aquilo que estavam a assinar" na operação da Boat Caravela.
Este era o nome de um instrumento financeiro complexo, no qual a Caixa investiu 447,1 milhões de euros em 1999, último ano de João Salgueiro à frente do banco público, cuja administração contava também, nessa altura, com António Vieira Monteiro e Tomás Correia. A operação foi feita em conjunto com o Crédit Suisse First Boston.
Este instrumento era um produto derivado, pelo que a sua valorização dependia da evolução do valor de outros ativos ou títulos subjacentes. Em teoria, a Caixa poderia, assim, minimizar o risco a que estava exposta, ao partilhá-lo com outros investidores. Contudo, na prática, a operação acabou por resultar em perdas de avultadas para a CGD. Este montante foi totalmente provisionado e, tendo em conta os dados que constam da auditoria feita pela EY a 15 anos de gestão na Caixa, só fica atrás das perdas de 520 milhões que o banco público sofreu com o investimento nas ações do BCP.
"Era uma operação muito complexa, feita antes do meu tempo, e eu sei como foi ruinosa porque fui eu que a amortizei a 100%", descreveu António de Sousa, acrescentando que "João Salgueiro não se apercebeu do risco que estava subjacente a uma operação daquelas".