Notícia
Até 2007, "não havia nenhum alerta" sobre créditos ruinosos na Caixa
Vítor Fernandes, administrador da Caixa entre 2000 e 2007, recorda que a administração do banco público não deu quaisquer sinais de alerta relativamente ao "aumento de crédito vencido ou ao crédito em incumprimento".
Até ao final de 2007, quando já se antecipava a crise financeira mundial que viria a eclodir no ano seguinte, não houve na Caixa Geral de Depósitos (CGD) qualquer sinal de alerta relativamente a créditos em incumprimento que pudessem vir a tornar-se problemáticos para a instituição. A garantia é dada por Vítor Fernandes, antigo administrador do banco público que está hoje na administração do Novo Banco e que foi ouvido, esta quarta-feira, 29 de maio, na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e à gestão do banco.
"A memória que eu tenho é de que, até 31 de dezembro de 2007, não houve nenhum alerta relativamente ao aumento de crédito vencido ou ao crédito em incumprimento. Não tenho memória de que tivesse acontecido", afirmou o antigo administrador da Caixa, que esteve no conselho de administração do banco público desde meados de 2000 até ao final de 2007, altura em que foi convidado por Carlos Santos Ferreira para a administração do BCP.
Vítor Fernandes ressalvou, ainda assim, que nem por isso o risco era ignorado na concessão de crédito, mesmo tendo em conta as ambições de crescimento que então existiam. "A ambição de crescimento de quota de mercado estava muito focada nas pequenas e médias empresas. Nunca houve indicações para relaxar os critérios de risco para crescimento de quota de mercado", assegurou.
Ao mesmo tempo, diz, "não havia aversão à direção de risco", como chegou a ser sugerido por António de Sousa, o antigo presidente da Caixa que foi o responsável pela criação deste órgão. "O departamento comercial tem funções de crescimento, o risco tem funções de controlo. É natural que a área comercial se sinta menos livre de fazer aquilo que gostaria de fazer e que, portanto, tenha opiniões reservadas sobre o risco. Mas não havia nenhuma aversão à direção de risco. Não tive a percepção de que, ao nível do conselho de administração, houvesse problemas por existir uma direção de risco", recordou.
Seja como for, diz, o facto de existir uma direção de risco não significou que esta fosse uma área que suscitasse especial preocupação por parte do conselho de administração. "Tanto quanto eu conhecia do que se passava na Caixa, em termos de indicadores de risco e de crédito em incumprimento, nunca senti nenhuma preocupação em matéria de admissão de crédito da Caixa". E frisa: durante o período em que foi administrador do banco público, "os indicadores de risco da Caixa não se agravaram".
Mesmo assim, Vítor Fernandes defende que "as políticas e a organização de risco e de crédito da Caixa, à data, eram muito semelhantes àquelas que existiam nos outros grandes bancos na altura".
Almerindo Marques e Tomás Correia "nunca questionaram políticas de crédito da Caixa"
Vítor Fernandes foi ainda questionado sobre Almerindo Marques e Tomás Correia, dois antigos administradores da Caixa que se opuseram publicamente à política de créditos que estava a ser seguida no banco público durante os seus mandatos, mas rejeita que qualquer um deles tenha, alguma vez, levantado questões antes destas manifestações públicas.
"O conhecimento que tive da carta foi pelos jornais", afirmou, referindo-se às cartas enviadas por Almerindo Marques ao Banco de Portugal, então liderado por Vítor Constâncio, ao Ministério das Finanças, que tinha à frente Guilherme d'Oliveira Martins, e ao Presidente da República, na altura Jorge Sampaio. E reforçou: "Não me recordo de alguma vez Almerindo Marques ter questionado, em conselho de administração, as políticas de crédito da Caixa".
Quanto a Tomás Correia, a perceção é a mesma. O antigo administrador da Caixa, hoje presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), disse, nesta mesma comissão de inquérito, que saiu da CGD por "discordâncias" sobre a política de crédito do banco público. Em 2002, chegou mesmo a fazer uma declaração de voto numa reunião do conselho de crédito, opondo-se a operações de crédito então realizadas. Vítor Fernandes não tem memória de outros momentos para além dessa declaração de voto.
"Essa reunião, em que Tomás Correia fez a declaração de voto, foi a primeira vez em que me recordo de ter referido alguma coisa em matéria de políticas de crédito", salientou.
"A memória que eu tenho é de que, até 31 de dezembro de 2007, não houve nenhum alerta relativamente ao aumento de crédito vencido ou ao crédito em incumprimento. Não tenho memória de que tivesse acontecido", afirmou o antigo administrador da Caixa, que esteve no conselho de administração do banco público desde meados de 2000 até ao final de 2007, altura em que foi convidado por Carlos Santos Ferreira para a administração do BCP.
Ao mesmo tempo, diz, "não havia aversão à direção de risco", como chegou a ser sugerido por António de Sousa, o antigo presidente da Caixa que foi o responsável pela criação deste órgão. "O departamento comercial tem funções de crescimento, o risco tem funções de controlo. É natural que a área comercial se sinta menos livre de fazer aquilo que gostaria de fazer e que, portanto, tenha opiniões reservadas sobre o risco. Mas não havia nenhuma aversão à direção de risco. Não tive a percepção de que, ao nível do conselho de administração, houvesse problemas por existir uma direção de risco", recordou.
Seja como for, diz, o facto de existir uma direção de risco não significou que esta fosse uma área que suscitasse especial preocupação por parte do conselho de administração. "Tanto quanto eu conhecia do que se passava na Caixa, em termos de indicadores de risco e de crédito em incumprimento, nunca senti nenhuma preocupação em matéria de admissão de crédito da Caixa". E frisa: durante o período em que foi administrador do banco público, "os indicadores de risco da Caixa não se agravaram".
Mesmo assim, Vítor Fernandes defende que "as políticas e a organização de risco e de crédito da Caixa, à data, eram muito semelhantes àquelas que existiam nos outros grandes bancos na altura".
Almerindo Marques e Tomás Correia "nunca questionaram políticas de crédito da Caixa"
Vítor Fernandes foi ainda questionado sobre Almerindo Marques e Tomás Correia, dois antigos administradores da Caixa que se opuseram publicamente à política de créditos que estava a ser seguida no banco público durante os seus mandatos, mas rejeita que qualquer um deles tenha, alguma vez, levantado questões antes destas manifestações públicas.
"O conhecimento que tive da carta foi pelos jornais", afirmou, referindo-se às cartas enviadas por Almerindo Marques ao Banco de Portugal, então liderado por Vítor Constâncio, ao Ministério das Finanças, que tinha à frente Guilherme d'Oliveira Martins, e ao Presidente da República, na altura Jorge Sampaio. E reforçou: "Não me recordo de alguma vez Almerindo Marques ter questionado, em conselho de administração, as políticas de crédito da Caixa".
Quanto a Tomás Correia, a perceção é a mesma. O antigo administrador da Caixa, hoje presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), disse, nesta mesma comissão de inquérito, que saiu da CGD por "discordâncias" sobre a política de crédito do banco público. Em 2002, chegou mesmo a fazer uma declaração de voto numa reunião do conselho de crédito, opondo-se a operações de crédito então realizadas. Vítor Fernandes não tem memória de outros momentos para além dessa declaração de voto.
"Essa reunião, em que Tomás Correia fez a declaração de voto, foi a primeira vez em que me recordo de ter referido alguma coisa em matéria de políticas de crédito", salientou.