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Salgado identificou "necessidade imperativa" de liquidez dois dias antes de entrada de Bento no BES

O semanário Sol teve acesso à última acta do BES antes do resgate. Neste documento pode ler-se que Ricardo Salgado, numa carta enviada ao Banco de Portugal a 12 de Julho, defendia a "necessidade imperativa de adopção de medidas adicionais ao plano de contingência de liquidez " do BES. Um dia depois Carlos Costa exigiu a sua saída.

Miguel Baltazar/Negócios
18 de Agosto de 2014 às 19:06
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A 12 de Julho, Ricardo Salgado manifestou, em carta enviada ao Banco de Portugal (BdP), "o seu entendimento quanto à necessidade imperativa de adopção de medidas adicionais ao plano de contingência de liquidez em vigor no BES, as quais, na presente fase, apenas se poderão consubstanciar em contribuições privadas, envolvendo parcerias estratégicas e/ou financeiras que não se traduzam no apoio do Estado".

 

Estas informações constam da acta da reunião do Conselho de Administração do "Banco Espírito Santo, S.A.", realizada a 13 de Julho de 2014, a que o semanário Sol teve acesso e que se encontra publicada no seu site.

 

Ricardo Salgado, na época ainda presidente do banco, e de acordo com as informações desta acta, chegou a este "entendimento", após ter estado na sexta-feira, dia 11 de Julho, e no sábado, 12 de Julho, a "analisar detalhadamente, em conjunto com o senhor dr. Amílcar Morais Pires e com a senhora dra. Isabel Almeida, responsável do departamento Financeiro, de Mercados e Estudos, a situação e as perspectivas do banco".

 

A missiva de Salgado terá tido resposta do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a 13 de Julho. No documento que o Sol publicou no seu site não consta a carta de Carlos Costa. Na acta, é referido que as palavras de Costa constam dos anexos.

 

No entanto, na acta deste encontro é referido que Salgado "destacou a posição de princípio do Banco de Portugal favorável a soluções de aumento de capital que venham a ser acompanhadas do reforço da estrutura accionista, preferencialmente suportada por um consenso entre os principais accionistas de referência".

 

Mas "sem prejuízo", em primeiro lugar "da necessidade de qualquer proposta de aquisição de uma participação qualificada  ter de ser avaliada pelo Banco de Portugal de acordo com o quadro legal vigente, avaliando se o proposto adquirente reúne condições que garantam uma gestão sã e prudente da instituição".

 

E, em segundo lugar "de que os contactos e negociações com entidades terceiras tendo esse fito em vista devem ser realizadas pela Comissão Executiva do BES após a cooptação dos novos membros entretanto ocorrida".

 

A 13 de Julho, ao final do dia, o Negócios escrevia que Vítor Bento e Moreira Rato iam assumir funções no BES no dia seguinte, ou seja, 14 de Julho, tal como aconteceu. Contudo, o que estava previsto anteriormente era que estes dois elementos entrassem

Necessidade imperativa de adopção de medidas adicionais ao plano de contingência de liquidez em vigor no BES, as quais, na presente fase, apenas se poderão consubstanciar em contribuições privadas, envolvendo parcerias estratégicas e/ou financeiras que não se traduzam no apoio do Estado"
 
Carta de Ricardo Salgado ao Banco de Portugal

em funções apenas após a divulgação dos resultados do primeiro semestre a 25 de Julho.

 

Esta data acabou por ser adiada por alguns dias, tendo os resultados sido apresentados a 30 de Julho. Nos primeiros seis meses do ano o BES registou prejuízos em torno dos 3,5 mil milhões de euros. Um valor histórico e com o qual os novos dirigentes não assumem qualquer responsabilidade. Esta última questão foi, inclusivamente, alvo de uma votação na reunião a que se refere a acta.

 

No comunicado publicado no site da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a 30 de Julho, o banco referia que este prejuízo deve-se a "factores de natureza excepcional ocorridos durante o corrente exercício [primeiro semestre] determinaram a contabilização de prejuízos, de imparidades e de contingências que se reflectiram num prejuízo de 3577,3 milhões de euros (-3488,1 milhões de euros no 2º trimestre)".

 

A 3 de Agosto, um domingo, o governador do Banco de Portugal comunicou ao País e ao mercado que o BES ia ser resgatado, dividindo-se em dois: um "banco bom" e um "mau". O "banco bom" fica com os activos como os depósitos e dos créditos bons. O "banco mau" ficou com o activos tóxicos, perdeu a licença bancária e é lá que se encontram os accionistas, que terão perdido tudo, ou uma grande parte, do investimento.

 

Ainda na acta do encontro de 13 de Julho, o último da "era Salgado", consta um elogio do então CEO ao Conselho de Administração. Agradecendo as palavras de Xavier Musca, do Crédit Agricole, Salgado  referiu-se "à Comissão Executiva, a quem teceu um elogio pela forma extraordinária como ao longo do tempo foi capaz de fazer evoluir o BES, tornando-o uma referência incontornável no sistema financeiro nacional, apesar das dificuldades e crises, com especial relevo para a capacidade demonstrada no passado recente em evitar ter de, ao contrario de outras instituições, recorrer a fundos públicos para a recapitalização do banco".

 

"Um exemplo sintomático da coesão invulgar da equipa que teve a honra de dirigir ao longo do tempo foi a de não haver memória da necessidade de em reuniões da Comissão Executiva se proceder a uma votação formal sobre quaisquer deliberações, tendo sido sempre possível estabelecer os necessários consensos entre todos os seus membros", pode ler-se ainda na acta.

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