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O enigma do salário de 14 milhões do antigo gestor do Credit Suisse no Brasil

Sérgio Firmeza Machado ganhou 48,4 milhões de reais (14 milhões de dólares) em 2015, mais do que qualquer gestor do banco suíço. O seu pai está envolvido no caso Lava Jato.

Bloomberg
20 de Junho de 2016 às 17:14
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O Brasil, tendo em conta todos os desafios políticos e económicos que enfrenta, seria o último lugar onde se esperaria encontrar um dos executivos mais bem pagos do Credit Suisse Group no mundo.

 

Contudo, o salário de Sérgio Firmeza Machado, de 48,4 milhões de reais (14 milhões de dólares) em 2015, supera o de qualquer membro do comité executivo global do banco suíço, segundo relatório anual do banco. A declaração de impostos de Sérgio Firmeza Machado, de 38 anos, antigo responsável do negócio de renda fixa do Credit Suisse no Brasil, é o assunto mais comentado entre os executivos locais de bancos de investimento desde que os dados foram divulgados em conjunto com outros documentos da investigação da Operação Lava Jato.

 

Machado é um nome extremamente familiar no noticiário brasileiro. O seu pai, Sérgio Machado, ex-político que mais tarde se tornou executivo da Transpetro, tem denunciado uma série de políticos por suposto envolvimento em casos de corrupção. O seu nome esteve na primeira página de todos os mais importantes jornais do país na semana passada.

 

Firmeza Machado disse em tribunal não ter conhecimento das transacções supostamente ilícitas citadas na delação premiada do seu pai e afirmou que o seu relacionamento com a família era distante. Ainda assim, a divulgação da declaração de impostos - que inclui o pagamento de bónus diferidos de anos anteriores - atraiu muita atenção e representa os efeitos colaterais de um drama nacional que ajudou a provocar o afastamento da presidente Dilma Rousseff e a deixar o País na pior recessão em cem anos.

 

Corte de empregos

 

O que os banqueiros querem saber é como é que um executivo de um banco conseguiu ter um rendimento tão elevado num ano em que as comissões para os bancos de investimento caíram 42%, para o pior nível da década, segundo os dados da Dealogic.

 

Globalmente, o banco, que perdeu metade de seu valor de mercado nos últimos 12 meses, anunciou uma nova ronda de corte de pessoal em Março, levando o total de demissões para 6.000 pessoas.

 

O Credit Suisse não quis comentar, dizendo não discutir os rendimentos dos funcionários. Flavia Lofti, advogada de Machado, também não quis fazer declarações sobre o que chamou de "divulgação indevida" da declaração de impostos do seu cliente.

 

Machado estava entre as 18 pessoas que deixaram o Credit Suisse em Abril devido ao corte de postos de trabalho. Esteve 17 anos no banco e sob a sua supervisão o Credit Suisse concedeu um empréstimo de 1,27 mil milhões de dólares ao Estado de Minas Gerais em 2013, que vendeu a investidores um mês depois, com um lucro de 116 milhões de dólares.

 

O executivo mais bem pago do Credit Suisse em 2015 foi o administrador Rob Shafir (8,2 milhões de dólares), que renunciou ao conselho de administração em Outubro para se tornar chairman do Americas. Tijdane Thiam, que entrou para o conselho de administração do Credit Suisse em Julho, recebeu 4,7 milhões de dólares pelos primeiros seis meses no cargo.

 

Executivo da Transpetro

 

O pais de Machado, que depois de actuar na política passou a comandar a Transpetro, braço de logística da Petrobras, admitiu ter transferido 100 milhões de dólares em luvas para campanhas políticas. Depois de chegar a acordo para uma delação premiada, o seu depoimento veio a público na semana passada, causando um movimento forte de venda tanto no mercado de acções como de divisas, ao citar o envolvimento do presidente em exercício, Michel Temer. Três ministros do gabinete de Temer já renunciaram aos cargos por causa de declarações de Machado.

 

Temer, que assumiu em Maio a presidência como interino, negou qualquer irregularidade. O ex-executivo do Credit Suisse, Sergio Firmeza Machado, também prestou declarações no caso do seu pai e disse ter aberto uma conta no HSBC na Suíça para um irmão sem saber que ele recebia recursos ilegais. O ex-gestor do Credit Suisse disse ter uma relação distante com a família, que se deteriorou ainda mais quando soube do envolvimento de seu pai e do irmão no escândalo. "Até então sempre havia acreditado nos propósitos lícitos da abertura da conta", disse Machado no depoimento.

 

Artigo de Cristiane Lucchesi, Sabrina Valle e Blake Schmidt, jornalistas da Bloomberg.

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