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Marcelo quer Caixa viável sem esquecer "mais deprimidos economicamente"

O Chefe de Estado salienta, em entrevista ao DN, que se mantém o desafio dos créditos problemáticos na banca portuguesa e sublinha a abordagem "confederada" a este problema, envolvendo as instituições financeiras.

Cofina Media
30 de Julho de 2017 às 11:39
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O Presidente da República defende que o processo de capitalização da Caixa Geral de Depósitos foi "difícil" pelo montante e pela não classificação da capitalização como ajuda de Estado por Bruxelas. E que se o banco público tem de cumprir metas, esse cumprimento tem de ser feito ao mesmo tempo que se garante o apoio aos mais "deprimidos" do ponto de vista económico, não só no reajustamento de pessoal como na relação com os clientes.

"Eu não conheço os pormenores e, naturalmente, sou sensível no sentido em que acompanho aquilo que é, por um lado, a preocupação da administração da Caixa de cumprir uma meta para ter ali um banco forte ao serviço da economia portuguesa, mas também sou sensível sobretudo àqueles com uma situação mais deprimida do ponto de vista económico e que podem sofrer com certas medidas," afirma neste domingo Marcelo Rebelo de Sousa em entrevista ao Diário de Notícias.

O Presidente da República faz o paralelismo com a reestruturação orgânica da CGD no país – caso do fecho de balcões, como o de Almeida – dizendo esperar nesta situação uma solução de compromisso como a que foi possível nessa altura, que nomeadamente assegurou a presença de serviços bancários sem a existência de agências no local.

"O que eu espero é que seja possível uma solução que também possa permitir à Caixa Geral de Depósitos cumprir a sua missão, começando por ser viável e que, por outro lado, tenha em linha de conta o tecido social português," acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda ainda a evolução dos problemas no sector financeiro nos últimos anos - "havia uma indefinição em várias instituições bancárias nalgumas das suas componentes fundamentais, ou de liderança, ou de estratégia, ou de capital, ou de destino", mais complexada do que o próprio imaginara durante a campanha presidencial.

Contudo, o Presidente defende que há outra parte dos problemas do sector "que não se resolve assim tão facilmente", nomeadamente a que diz respeito à dimensão dos "activos problemáticos" da banca, que chegou a levar à discussão a necessidade de criar um banco mau para recolher esses activos. Agora, refere, a solução passa por uma "confederação" entre as entidades bancárias e com o envolvimento do Governo, Banco de Portugal, Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

"Começou a ser delineada uma solução envolvendo as instituições bancárias em conjunto. Em vez de se criar uma realidade à margem, completamente à margem, das instituições bancárias, é uma realidade que é uma emanação que resulta delas," conclui.

Furto de Tancos é "grave" e investigação deve concluir-se "o mais rapidamente" possível

Na mesma entrevista, o Presidente da República considerou "um acontecimento grave" o furto de material militar em Tancos e que foi "até ao limite" na interpretação dos poderes que tem enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas ao visitar os paióis de Tancos "no momento em que estavam a decorrer as investigações".

O Chefe de Estado insiste no apuramento de responsabilidades, admitindo que seja preciso esperar, mas notando que "quanto mais rapidamente seja possível apurar aquilo que ocorreu, mais rapidamente os portugueses possam elucidar, resolver as dúvidas que têm nas suas cabeças."


Sobre os incêndios de Pedrógão Grande, recorda o percurso até ao local na noite em que começaram a ser encontradas as dezenas de mortos, referindo ter usado uma "via de comunicação relativamente à qual a Guarda Nacional Republicana tinha dúvidas sobre a passagem", uma travessia que diz ter sido "complicada".

Também neste caso insiste ser necessário fazer o apuramento de responsabilidades e nega ter desdramatizado "aquilo que se passou". Em todo o caso, defende que se deva manter a "cabeça fria", o que reconhece ser "muito difícil numa questão tão trágica como esta" e que é preciso esperar pelas conclusões da comissão parlamentar independente e da investigação do Ministério Público. 

"Aqui estamos perante uma situação diferente [de Entre-os-Rios], porque não estamos perante uma obra pública propriamente dita e, portanto, tem de se provar em que pontos e em que medida houve ou não falha do poder público que possa justificar uma responsabilidade objetiva," salienta, quando questionado sobre o atraso em eventuais indemnizações às famílias das vítimas. 

Marcelo espera agora pelos diplomas do parlamento sobre a reforma florestal, "para perceber o conteúdo final desses diplomas, comparar com aquilo que foram as propostas iniciais colocadas a debate," revelando que até ao momento a Presidência ainda não os recebeu.

Reserva sobre Venezuela, esperança sobre Angola, confiança nos EUA

O Presidente mostrou-se ainda confiante de que, apesar das dúvidas existentes no início do mandato de Donald Trump, a administração norte-americana mantenha os compromissos no seio da NATO, das relações comerciais, na ONU e também condições que permitam um aprofundamento nas relações bilaterais com Portugal.

Sobre a Venezuela, que nas últimas semanas tem estado a ser marcada por episódios de violência entre oposição e pró-Maduro, Marcelo reconhece o "cuidado acrescido" na abordagem a este assunto devido à dimensão da comunidade portuguesa que reside no país, remetendo para as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros. "A última coisa que se pode fazer é criar qualquer problema adicional aos portugueses," concretiza.

Em relação a Angola fala de uma relação "muito cordial" com Luanda desde que tomou posse, sublinhando os "interesses comuns muito fortes" entre os dois países e que há sempre "problemas de percurso". O interesse dos dois países numa convergência é, defende, "tão óbvio" que a história se encarregaria de ultrapassar uma situação de "absurdo" que pusesse em dúvida essa necessidade de convergência.

"Não há nada pior para um Presidente da República do que não ter dois termos de alternativa fortes"

Em relação à estabilidade política, Marcelo diz que quando os prazos constitucionais passaram a dar-lhe a possibilidade de dissolver a Assembleia da República essa eventualidade estava "completamente longe" do seu pensamento, reconhecendo que "alguns dos eleitores de centro-direita (...) nisso, tiveram alguma desilusão," porque tal teria impacto na preparação do Orçamento do Estado para 2016.

Os desafios mais imediatos que elege ao Governo são o controlo do défice, a resolução do malparado na banca, sendo a prioridade a "estabilidade política que deve apontar para o cumprimento de legislaturas. É esse o ideal", embora note que a solução de apoio ao Governo no Parlamento, à esquerda, é uma "fórmula nunca ensaiada na vida política portuguesa", sendo um "exercício difícil."

Já sobre o trabalho de Passos Coelho enquanto líder do maior partido da oposição, Marcelo reconhece que "é uma tarefa muito difícil, uma tarefa muito complexa para quem foi primeiro-ministro em quatro anos e meio tão exigentes como aqueles que o Governo teve de defrontar durante a crise."

O Chefe de Estado defende ainda um fortalecimento das oposições - "Não há nada pior para um Presidente da República do que não ter dois termos de alternativa fortes. Porque no caso de existir uma situação crítica, aguda, insuperável num dos termos da alternativa é bom ter outro termo da alternativa que possa governar o país".

Daí que, para aspirar a ser governo, os partidos do centro-direita tenham de aspirar a uma maioria absoluta, caso contrário poderá voltar a suceder o que aconteceu em 2015 com a chegada do PS ao poder, afirma. 

Contudo, deixa o aviso à esquerda: "Os partidos que fazem parte da área do Governo têm de decidir em cada momento ao longo da legislatura se querem ou não durar até ao fim da legislatura, se quiserem, naquilo que depender deles, têm mais hipóteses de durar, se não quiserem, não há ninguém que possa substituir-se a eles". 

(Notícia actualizada às 12:49 com mais informação)

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