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Agricultores "chumbam" proposta de reprogramação do PEPAC
CNA votou contra reprogramação do PEPAC apresentada pelo Ministério da Agricultura "por tudo o que desconsidera e por todas as injustiças que mantém na atribuição das ajudas", apesar de reconhecer que há alterações que traduzem "avanços".
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) rejeita a reprogramação do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), considerando que a proposta do Ministério da Agricultura "ignora" os "graves problemas" com que os agricultores se deparam.
Essa proposta foi apresentada na Comissão de Acompanhamento do PEPAC, em que a CNA participou, na qual diz ter denunciado, "mais uma vez, os graves problemas que os agricultores, nomeadamente os familiares, têm enfrentado para submeter as suas candidaturas às ajudas fixadas no PEPAC".
Para a organização, com sede em Coimbra, essa proposta de reprogramação do PEPAC "ignora todos os problemas" a esse nível, "mantém as dificuldades e os cortes nas ajudas nos baldios, insiste nos injustificáveis cortes nas ajudas nas explorações de menor dimensão e confirma um sistema altamente penalizador para as zonas de minifúndio e para agricultura familiar".
Em comunicado, enviado esta terça-feira às redações, a CNA assinala que "reiterou ao Ministério da Agricultura a sua perplexidade perante a situação que se vive", apontando que, nesta campanha de candidaturas às verbas do PEPAC, "já aconteceu um pouco de tudo". E enumera: "legislação por publicar, formulários de candidatura que não existem ou não funcionam, substituição de formulários por e-mails, centenas de questões sem resposta, prazos que não são cumpridos, horas e horas de reuniões que resultam, muitas vezes, em nada, por falta de vontade e de capacidade política para executar o que foi decidido".
"Esta campanha de receção de candidaturas evidencia, por um lado, o total desnorte que se vive no Ministério da Agricultura e, por outro lado, traz ao de cima os graves erros de programação do próprio PEPAC. Comprova-se que o Plano Estratégico nacional, construído pelo Ministério da Agricultura nas costas dos agricultores, não teve em conta a especificidade da agricultura nacional nem a capacidade da própria Administração", frisa a CNA, lamentando que este seja "um programa que agrada a Bruxelas, mas não serve os agricultores nem o país".
"Os maiores prejudicados são os pequenos e médios agricultores, que se veem enredados numa teia altamente burocrática com regras que muitas vezes ninguém percebe", enfatiza a CNA, para quem os vários organismos do Ministério - "cada vez mais fragilizado com a extinção das DRAP [Direções Regionais de Agricultura e Pescas] - impera o jogo do empurra e a tutela está mais interessada em vender uma perceção da realidade em que tudo está bem do que em revolver os problemas que criou".
Neste âmbito, a CNA deixa, contudo, uma palavra de apreço aos funcionários do Ministério, sublinhando que, neste período, de "oito longos meses", desde o início das candidaturas até esta segunda-feira (data em que terminou o prazo para os agricultores responderam às notificações do Sistema de Vigilância de Superfícies, um mecanismo de controlo introduzido este ano pela primeira vez), só foi possível concretizar a receção de candidaturas com o trabalho dos funcionários do Ministério da Agricultura, muitas vezes inglório e sem orientação clara de quem os tutela".
E também, aliás, "acima de tudo", com a "extrema dedicação e empenho dos trabalhadores das Organizações de Agricultores, que, esses sim, tudo têm feito para não deixar ninguém para trás", salienta, falando de "um acréscimo brutal de trabalho para as Organizações de Agricultores, em tarefas e tempo extraordinário, sem que, da parte do Governo, tenha havido o correspondente e necessário reforço de meios financeiros protocolados para o efeito".
E "a agravar tudo isto, as datas dos pagamentos e adiantamentos das ajudas foram adiadas e vamos ver se desta vez são cumpridas ou se, não cumprindo, o Governo, como tem sido habitual, vai culpar os agricultores por algo que é apenas e só da sua responsabilidade", remata.
Apesar de reconhecer que "algumas alterações propostas significam avanços", a CNA chama a atenção que "nada garante que, de facto, venham a constituir alterações positivas, de que é exemplo o aumento unitário de ajudas, sem aumento da dotação global da medida, o que as pode inviabilizar".
"Por tudo isto, por tudo o que desconsidera e por todas as injustiças que mantém na atribuição das ajudas, a CNA votou contra esta reprogramação".
"Os agricultores e o país precisam de muito mais deste Governo, precisam, acima de tudo, de uma alteração profunda das políticas e de um Ministério da Agricultura que governe para resolver os problemas da agricultura nacional e não para a fotografia nas redes sociais", conclui.