Na corrida a Belém disputada nas redes sociais há um candidato que fica no banco: Marcelo Rebelo de Sousa. O antigo comentador não possui uma conta oficial nem no Facebook nem no Twitter, mas não é por isso que deixa de ser um dos candidatos com maior presença mediática, não só na imprensa, mas também nas redes sociais.

Para estas eleições, o Negócios repete o exercício das últimas legislativas que destacava o partido Pessoas Animais e Natureza (PAN) como a força política com mais seguidores no Facebook e que a 4 de Outubro surpreendeu com a eleição de um deputado e a entrada de um novo partido para São Bento pela primeira vez em 16 anos.

Se as redes sociais fossem a votos, e sem contar com Marcelo, o candidato eleito pelo Facebook seria Paulo Morais. Já no Twitter os resultados seriam diferentes. Na rede dos 140 caracteres, a eleita seria Marisa Matias. Os números mais recentes foram analisados esta quinta-feira, 21 de Janeiro, e estão sujeitos às variações naturais e imediatas inerentes às redes sociais.

Marisa, a Presidente dos 140 caracteres

Já sabemos que no Facebook, o candidato que reúne o maior número de seguidores é Paulo Morais, com quase 53 mil seguidores. Um fenómeno que pode ter como justificação os escândalos de corrupção que são a "bandeira" deste candidato no Facebook. "Penso que poderá ser por aí que mais pessoas se sintam atraídas por seguir a página dele", analisa Helena Santos, especialista em redes sociais e docente em marketing digital, cita a Lusa. 

Mas se olharmos para a presença do mesmo candidato no Twitter o cenário inverte totalmente. Na rede dos 140 caracteres, Paulo Morais tem apenas cinco publicações e um universo que não ultrapassa os 30 seguidores, um número que apenas ultrapassa o candidato Cândido Ferreira, que conta somente 10 seguidores e uma dúzia de publicações. A última data: 29 de Setembro do ano passado.

No Twitter, é Marisa Matias quem mais ordena. Com mais de duas mil publicações e sete mil seguidores, a candidata tem quase três vezes mais do que o segundo candidato mais seguido, Sampaio da Nóvoa, com cerca de 2.500 seguidores e cerca de 870 publicações. 

A eurodeputada já estava presente nas redes sociais antes dos restantes candidatos e é a única que distingue os seus próprios comentários das publicações dos seus gestores de campanha, recorrendo para esse efeito ao uso de aspas para identificar os tweets que são da autoria do seu gabinete de comunicação, marcando também maior interacção com os restantes utilizadores da rede.

Mesmo em período de campanha, a candidata não deixa de usar a sua conta para partilhar conteúdos paralelos à corrida a Belém, como é o caso da homenagem feita ao recentemente falecido cantor David Bowie.

Boa viagem para quem nos fez percorrer tantos mundos Um dos melhores Fica para sempre na banda sonora dos meus dias https://t.co/N3aW9tgmW5

— Marisa Matias (@mmatias_) January 11, 2016

Também nas eleições legislativas era um eurodeputado que vencia na arte dos 140 caracteres. Rui Tavares, líder do partido Livre chegou à corrida a S. Bento já com uma forte tradição neste rede social, o que efectivamente se traduz num impacto mais eficiente nos utilizadores da rede. A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda está ainda presente no Instagram e no tem um canal no Youtube.

 

No Twitter, a antiga ministra da Saúde tem cerca de 260 seguidores e desde 16 de Novembro publicou 175 vezes, sempre na terceira pessoa, uma prática seguida pela maioria dos restantes candidatos. António Granado, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, critica justamente este ponto. "Muitos dos posts são feitos na terceira pessoa, ou seja nem sequer há a própria personalização que é típica das redes sociais", cita a Lusa.

À semelhança das eleições legislativas, os políticos portugueses utilizam as redes sociais como divulgação de propaganda, sem preocupação de manter uma relação interactiva, mas meramente como um "sítio de anúncios", com pouca interacção, explica António Granado.

Marcelo, o ausente

Uma pesquisa pela página de Marcelo no Facebook devolve-nos várias páginas, mas nenhuma delas é oficial. Nem mesmo a página que junta 29 mil seguidores, o que o colocaria em segundo lugar na lista de candidatos com maior presença no Facebook. Tratam-se sim de páginas de apoio, sem relação directa com a campanha do candidato.

O professor de Direito, um dos mais mediáticos na corrida, decidiu concentrar a sua presença online no seu site. Em alternativa, o candidato disponibiliza uma aplicação para smartphones (em sistema Android e IOS) para quem quiser acompanhar a sua campanha. No campo das redes sociais, Marcelo fica no banco.

Sampaio da Nóvoa, o eterno segundo candidato

O antigo reitor da Universidade de Lisboa têm disputado com Maria de Belém o segundo lugar nas intenções de voto dos portugueses. As sondagens mais recentes mostram que Sampaio da Nóvoa está a aumentar a vantagem sobre a antiga presidente do PS e é apontado como o segundo favorito na corrida a Belém. Curiosamente, é também o segundo lugar que conquista nas redes sociais, quer no Facebook, quer no Twitter, tanto em número de seguidores, como em presença mediática.

No Facebook, Sampaio da Nóvoa tem mais de 31 mil seguidores, enquanto no Twitter, onde publicou cerca de 860 vezes, consegue quase 2.500 seguidores.

O candidato também utilizou a sua página do Facebook para partilhar o seu currículo académico, alvo de "escrutínio" nas últimas semanas.

Sampaio da Nóvoa é ainda o candidato mais completo nas redes, uma vez que marca presença nas mais populares redes sociais e tem, ainda, à semelhança de Marcelo, uma aplicação gratuita para smartphones, que permite aos mais curiosos acompanhar todos os passos na campanha. Segundo os números disponibilizados na App Store da Google, a aplicação já foi instalada por entre 50 a 100 utilizadores.

Nas aplicações, o professor volta a ultrapassar o reitor, com o registo de instalações a subir para um grupo entre 100 e 500 utilizadores, apesar de a aplicação ser menos desenvolvida.

Os números das redes

 

Por ordem de número de seguidores no Facebook, depois de Sampaio da Nóvoa, surge a eurodeputada Marisa Matias (que no Twitter reúne o favoritismo) com mais de 25 mil seguidores. 

Depois de Marisa, a outra candidata na corrida: a socialista Maria de Belém surge com cerca de 18,5 mil seguidores no Facebook. No Twitter a mesma candidata consegue praticamente o mesmo que Henrique Neto, com cerca de 260 seguidores. Um número inferior a Vitorino Silva, conhecido como Tino de Rans, com 452 seguidores em torno de 90 publicações. No Facebook o autarca e antigo concorrente de um "reality show" consegue mais de 12 seguidores, à frente de Henrique Neto  que conta cerca de oito mil "gostos".

Já o candidato apoiado pelo PCP, Edgar Silva agrega 4.500 seguidores. Já no Twitter a presença não é maior: meia centena de internautas. Com três vezes mais seguidores no Twitter do que Edgar Silva, mas apenas 3.400 seguidores no Facebook, surge o candidato Jorge Sequeira, cujo site oficial de campanha ainda apresenta, a três dias das eleições, a mensagem de que estará "brevemente disponível".

O menos popular

Cândido Ferreira, médico de profissão e antigo presidente da Federação do PS, é o candidato com menos seguidores nas redes sociais, quer no Facebook, onde tem pouco mais de mil seguidores, quer no Twitter, onde o candidato, forte crítico da distribuição do espaço televisivo nos debates de cada candidato, não ultrapassa sequer uma dezena de seguidores.

Para lá dos seguidores, qual o impacto mediático?

Mas nas redes sociais, nem tudo são números. A prova disso mesmo é Paulo Morais que, apesar de ser o candidato com mais seguidores no Facebook, vê a sua popularidade cair drasticamente no Twitter e é dos candidatos com menos impacto, quer nas redes sociais, quer nos meios de comunicação social.

A conclusão é da Cision, uma empresa de monitorização e análise dos media, que coloca Paulo Morais em penúltimo lugar nas redes sociais. Isto é, apesar de ter um considerável número de seguidores, com quase o dobro em relação ao segundo candidato com mais "gostos" na rede de Mark Zuckerberg, o candidato não recebe dos seguidores um "feedback" em escala semelhante, conclui o estudo.

Uma das justificações para esta assimetria deve-se ao facto de um elevado número de seguidores nem sempre ser sinónimo de um impacto eficaz entre a audiência.

O estudo da Cision valoriza não tanto o número de seguidores, mas o número de vezes em que os candidatos são tema. Assim, o estudo apurou que foi Maria de Belém quem esteve em maior destaque nas redes sociais durante a primeira semana de campanha, registando 22,8% do total de referências espontâneas produzidas pelo público relativamente aos diferentes candidatos.

Novamente, Sampaio da Nóvoa surge em segundo lugar, à frente de Marcelo Rebelo de Sousa, com 22,4% de referências contra os 15,9% registadas pelo antigo comentador, que mesmo oficialmente ausente das redes sociais conquista resultados superiores aos restantes nove candidatos. Nas redes sociais, Marisa Matias ultrapassa Edgar Silva e consegue 11,2% das referências espontâneas de indivíduos identificadas através de "hashtags" (palavras-chave).

Impacto nos meios de comunicação social

Na mesma análise, Marcelo Rebelo de Sousa foi o candidato que, entre 10 a 17 de Janeiro, maior impacto conseguiu junto do público através dos meios de comunicação social. O antigo comentador lidera a lista com um peso de 23,9% no impacto mediático total registado pelos candidatos durante a primeira semana de campanha eleitoral para as Presidenciais 2016. 

O candidato que surge em segundo lugar nas sondagens foi também o segundo a conseguir maior protagonismo. Sampaio da Nóvoa fica com 18,9%, logo seguido por Maria de Belém com 18%, e Edgar Silva, com 14%. Marisa Matias surge em 5.º lugar com 13% de presença mediática nos jornais e televisões. Os restantes cinco candidatos não ultrapassam os 3,3%, sendo que o candidato com menor presença mediática nos meios de comunicação foi Paulo Morais, com 1,8%.

Comparativamente às últimas eleições presidenciais, Helena Santos considera que houve uma "evolução" na utilização das redes. "Em 2011 havia um ou dois candidatos que nem sequer tinha página, apenas perfil e até a própria adesão dos utilizadores era mais reduzida. Neste momento parece-me que já há uma consciencialização para o poder das redes sociais", considera.