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Após 10 anos de vida, qual o futuro do Twitter?

Ao longo dos seus 10 anos foi o palco escolhido por políticos, figuras públicas, activistas para partilhar informação e mobilizar movimentos. Hoje, enfrenta dilemas como a estagnação do número de utilizadores.

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Twitter at 10: Jack Dorsey Looks to the Next 10 Years
21 de Março de 2016 às 13:49
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Há 10 anos nascia uma nova plataforma que tinha a ambição de se tornar a maior rede social do planeta. O Twitter deu voz a movimentos sociais, alterou a maneira de consumo de informação e foi o palco de grandes manifestações que alteram a história, como a Primavera Árabe. E tudo através de 140 caracteres.

Os primeiros passos da plataforma, que viria a rivalizar durante anos com o gigante Facebook, foram dados por volta da hora de almoço do dia 21 de Março através de uma pequena mensagem de Jack Dorsey, co-fundador da empresa: "Just setting up my Ttwttr" [A configurar o meu Twttr, nome da plataforma à data]. Foi com estas palavras que Dorsey abriu a janela do microblog que durante anos conquistou milhões de utilizadores e agora está a enfrentar problemas de estagnação.

O Twitter nasceu numa troca de ideias entre Jack Dorsey, Evan Williams [criador do Blogger] e Biz Stone. Os dois últimos trabalhavam juntos no Google. Sentados dentro do carro, num parque de estacionamento em San Francisco, EUA, começaram a falar sobre a criação de um serviço de troca de mensagens curtas [tipo SMS] que gerasse uma troca de conversas entre usuários e, cada vez que alguém respondesse, os outros seriam alertados por um "twich" [vibração].

Como a palavra não agradou a todos, e depois de alguma pesquisa, chegaram à palavra Twitter que em inglês pode ter um duplo significado: uma pequena explosão de informação e "pios" de pássaros.

Estava assim criada a rede social que viria a conquistar milhões de fãs. Um ano depois, os utilizadores enviavam cinco mil tweets por dia. Em 2008 o número disparou para 300 mil. Passados dois anos chegou aos 50 milhões e, antes de a empresa entrar em bolsa, em 2013, disparou para 500 milhões.

Os "hashtags" da revolução

Com publicações de apenas 140 caracteres, o Twitter conseguiu popularizar a informação. O rival Facebook, que nasceu dois anos antes, era encarado como uma rede de amigos, que servia para partilhar momentos divertidos.

O Twitter foi o palco escolhido para partilhar informação relevante e até impulsionar movimentos como a Primavera Árabe. A rede social foi usada para marcação de encontros de activistas e serviu de ponte para reportar o que estava a acontecer no mundo árabe, um papel crucial dada a restrição da imprensa internacional em muitos países.

A luta travada nas ruas de Nova Iorque, com o movimento Occupy Wall Street, contra a desigualdade económica e social, e os protestos de Junho de 2013 no Brasil também foram mobilizados e seguidos ao minuto na rede do "pássaro azul" graças, em grande parte, aos famosos "hashtags" [tópicos] característicos da rede social.

O Twitter também tem um grande peso na esfera política, sendo a ferramenta preferida de políticos em todo o mundo. Barack Obama, presidente dos EUA, tem uma presença activa na rede social tendo feito alguns dos grandes anúncios, como a vitória no segundo mandato.

Em Espanha, serviu como rampa de lançamento do movimento Podemos e em Portugal é a janela preferida de políticos, líderes de opinião, figuras públicas e jornalistas. E por isso muitas vezes publicações no Twitter são citadas como fonte oficial.

Um dos políticos portugueses que tem forte presença no Twitter é Bruno Maçães que, tal como muitos outros utilizadores da esfera política, escreve em inglês para uma audiência internacional. Como tinha explicado ao Negócios, Bruno Maçães encara o Twitter como "uma óptima fonte de informação, rápida e muito plural". E também como "um modo de aproximar políticos e eleitores" de uma forma mais "permanente e informal". "É um bom modo de estar em contacto com colegas de outros governos. Ajuda a sabermos o que cada um de nós anda a fazer e a dizer", argumenta.

O Twitter foi também terreno-estrela na batalha mediática entre credores europeus e o governo grego. Uma batalha que começara a ganhar corpo meses antes, tendo sido Yanis Varoufakis, o ex-responsável pela pasta das Finanças grega, a dar o tiro de partida na "timeline" da rede social dos 140 caracteres.

Ministros, primeiros-ministros, assessores, jornalistas, cidadãos que, de anónimos, passaram a ter milhares de seguidores, usaram e reusaram esta via instantânea de comunicação. O "minuto a minuto" nos sites noticiosos era seguidos através do Twitter que tanto serviu para relatar reuniões quase em tempo real, como para dar notícias e até desmentir outras.

Futuro incerto

O papel do Twitter nas negociações para o terceiro resgate à Grécia é apenas um dos exemplos do peso que ganhou ao longo deste anos e de como alterou a comunicação entre políticos e os media. E de como tinha reunido quase todos os ingredientes necessários para o sucesso.

Hoje, a rede social está a enfrentar problemas com a estagnação de novos utilizadores. O rival Facebook começou a ganhar espaço na partilha de notícias e de opiniões de figuras públicas. O Instagram [comprado pelo Facebook] é a plataforma preferida para a partilha de fotografias. O Snapchat, rede social de partilha de mensagens e vídeo que se auto-destroem, tem captado os utilizadores mais jovens. No meio disto tudo, qual é agora o papel do Twitter?

Esta tem sido a pergunta que os próprios investidores têm feito à empresa de Jack Dorsey nos últimos anos.

Hoje tem 320 milhões de utilizadores enquanto o Facebook tem 1,5 mil milhões e o Instagram recentemente chegou aos 400 milhões. Além disso, de acordo com um relatório divulgado recentemente pela rede social, o Twitter perdeu 2 mil milhões de dólares desde que foi lançado.

Números que têm ficado aquém das expectativas dos investidores, tendo mesmo levado a uma mudança de cadeiras na liderança.

No final do ano passado o Twitter viu sair cinco responsáveis, incluindo o CEO Dick Costolo. O anúncio foi feito no Twitter pelo co-fundador, Dorsey, que voltou assim a ocupar o cargo de administrador executivo.

De volta aos comandos da rede social que fundou, e pressionado pelos investidores, Jack Dorsey foi obrigado a avançar com novos planos para a rede social. Nos últimos 12 meses, as acções do Twitter desvalorizaram 64% enquanto as do Facebook, por exemplo, subiram 38%.

Dorsey avançou com um programa de despedimentos que levou à saída de mais de 300 colaboradores e foi contratar outros às rivais [como à Apple] para substituir os cargos de Kevin Weil (responsável da área de produto), Alex Roetter (de engenharia), Katia Jacobs Stanton (parcerias com os media), Brian Schipper (recursos humanos).

E face às críticas da falta de inovação, Dorsey decidiu também lançar novas ferramentas para tentar rivalizar com as outras redes sociais que, ao contrário do Twitter, captam utilizadores de trimestre para trimestre. O Moments, que permite agregar tweets de um evento por exemplo, e a integração directa dos vídeos da aplicação Periscope na "timeline" foram algumas das últimas novidades da rede social para voltar a atrair a atenção dos utilizadores.

Os resultados destas novas apostas ainda não são conhecidos. E Dorsey estará a preparar mais novidades para o Twitter voltar a levantar voo no campo das redes sociais e rivalizar com o Facebook e não entrar em declínio como o Yahoo, como alguns especialistas já sublinharam.

Passados 10 anos, e mesmo tendo em conta os solavancos que a rede social tem tido, está confiante no futuro da empresa. Numa carta enviada aos accionistas no arranque de 2016, a equipa liderada por Dorsey frisou que apesar de "assistirmos a uma descida na utilização activa mensal no quarto trimestre [de 2015], já estamos a ver os utilizadores mensais activos em Janeiro a regressar aos níveis do terceiro trimestre".

Razão pela qual Dorsey acredita que o papel do Twitter não vai ficar por aqui: "o Twitter sempre foi considerado uma ‘segunda janela’ do que acontece no mundo, e acreditamos que nos podemos tornar a primeira daquilo que está a acontecer no momento", sublinhou no mesmo documento.

 

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