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PS com melhor resultado em 20 anos ganha força para as legislativas

Os socialistas venceram as segundas europeias seguidas e o primeiro-ministro vê na vitória uma "força renovada" para enfrentar as eleições legislativas de outubro. Bloco e PAN foram os outros vencedores numa noite eleitoral em que a direita saiu derrotada.

27 de Maio de 2019 às 02:35
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Vinte anos depois, o partido em funções governativas venceu as eleições europeias em Portugal. E foi novamente o PS (antes só Cavaco Silva conseguira, em 1987 e 1989), que além disso garante a vitória em europeias por maior margem desde 1999.

António Costa repetiu o feito alcançado há 20 anos por António Guterres, mas o perfil dos cabeças de lista socialistas não podia ser mais diferente: o "animal político" Mário Soares ganhou em 1999, agora foi o "tecnocrata" Pedro Marques a consegui-lo.

Com 99,72% dos votos apurados, mas com seis mandatos ainda por distribuir, o PS venceu a eleição para o Parlamento Europeu com 33,38%, a segunda consecutiva. E elegeu nove eurodeputados, mais um do que há cinco anos, enquanto o PSD obteve o pior resultado eleitoral de sempre com apenas 21,94% (seis eurodeputados, os mesmos de 2014).

Os sociais-democratas nem aumentaram a votação nem asseguraram maior representação no Parlamento Europeu como pretendido pelo líder Rui Rio.

Assim, a diferença entre PS e PSD foi de 11,44 pontos percentuais, bem acima dos quase quatro pontos que separaram os dois partidos na última eleição para o Parlamento Europeu (sendo que, em 2014, o PSD concorreu coligado ao CDS - juntos, PSD e CDS ficam agora a cinco pontos e meio do PS). Mesmo assim, esta é a maior margem de vitória em europeias desde 1999 (quando Soares ganhou ao PSD por 11,9 pontos).




O Bloco de Esquerda e o PAN venceram no campeonato extra bloco central. Os bloquistas tiveram 9,82%, mais do que duplicando a votação de há cinco anos, aumentando de um para dois os mandatos no Parlamento Europeu e consolidando-se como terceiro maior partido.

Já os ecologistas garantiram 5,08%, o que lhes permite estrearem-se no plenário europeu com um deputado, solidificar a posição do PAN como partido relevante do sistema partidário português e aspirar legitimamente a conquistar mais mandatos nas legislativas de outubro.

Após quase quatro anos com uma narrativa muito centrada num discurso animalista, na campanha o PAN reorientou a retórica para a vertente ambientalista num contexto em que o combate às alterações climáticas ganha lastro, em especial junto dos mais jovens. A aposta deu frutos.

À esquerda, houve só um derrotado, a CDU. A coligação eleitoral entre PCP e Verdes ficou-se por 6,88% (cerca de metade em relação a 2014), perdendo pelo menos um mandato face a 2014 e confirmando uma erosão eleitoral pronunciada já verificada nas últimas autárquicas e que parece mostrar a dificuldade do partido em combater o envelhecimento do respetivo eleitorado base.

Por sua vez, a direita teve no CDS outro derrotado. Os centristas receberam apenas 6,19% de votos válidos e só elegeram o cabeça de lista. Nuno Melo queria eleger um segundo eurodeputado, mas falhou, e pretendia ficar à frente tanto do Bloco como da CDU, e também falhou.

A vitória da abstenção e outras três derrotas

Apesar do número de votantes ter aumentado, a taxa de abstenção fixou um novo recorde (68,6%), o que fica a dever-se não só ao habitual desinteresse dos portugueses relativamente às europeias, mas também ao enorme aumento de inscritos no estrangeiro.

Ainda assim, a abstenção não escalou acima dos 70% como se temia e o próprio Presidente da República deu conta disso mesmo ao reconhecer que temia pior. O número de votantes até aumentou face a 2014.


Houve ainda mais três derrotados. Mesmo tratando-se sobretudo de uma rampa de lançamento para as legislativas, a Aliança de Santana Lopes fracassou porque não elegeu Paulo Sande, em quem apostou forte para chegar a Estrasburgo.

O Livre, que em 2014 ficou à beira de eleger Rui Tavares, perdeu mais de 10 mil votos e viu esfumado o sonho. Por fim, a coligação Basta mostrou que, pelo menos para já, Portugal ainda não é terreno fértil para populismos.

Costa festeja a pensar em outubro

Quase tanto como vencer, o secretário-geral do PS não queria perder. E perder, entenda-se, seria ter um resultado pior do que a vitória por "poucochinho" que há cinco anos serviu para derrubar António José Seguro da liderança socialista.

"Crescemos em votos e crescemos em mandatos e ficámos com mais de dez pontos do que o nosso principal adversário", proclamou. No total, os socialistas só cresceram cerca de 73 mil votos comparativamente com as últimas europeias.

Para cumprir o objetivo delineado, o primeiro-ministro fez destas europeias uma espécie de plebiscito ao Governo e assumiu-se como candidato sombra ao Parlamento Europeu, marcando presença nas principais ações de campanha onde a sombra feita ao cabeça de lista Pedro Marques foi sempre notada.

Além da vitória do PS, António Costa dividiu os méritos com os partidos da geringonça ao defender que os outros partidos da atual maioria parlamentar também ganharam. Isto sem que o primeiro-ministro se esquecesse de atirar contra a "derrota da direita".  

António Costa deixou o melhor para o fim ao frisar que esta vitória dá "força renovada" ao PS e ao Governo para enfrentar o futuro. O mesmo é dizer que cria melhores condições para as legislativas.

A última sondagem legislativa da Aximage para o Negócios e o CM (realizada antes da eleição) confirma o bom momento dos socialistas, já que o PS alarga a vantagem para o PSD para quase 11 pontos percentuais. Tal resultado não permite continuar a alimentar o sonho da maioria absoluta, mas permite acalentar a governação com um ou dois partidos e não com os atuais três que, juntamente ao PS, integram a geringonça.

Antes de Costa falara Carlos César e, sabe-se, o presidente do PS vem muitas vezes a público dizer aquilo que o chefe do Governo não pode (um exemplo recente foi quando abriu a porta à demissão do Executivo a propósito da crise dos professores, ameaça depois confirmada pelo primeiro-ministro).

O também líder parlamentar garante que os partidos da esquerda continuam a ser parceiros "privilegiados", porém defendeu que para a governação futura será necessário abordar e encontrar respostas para "outras áreas, outras temáticas".

Se dúvidas houvesse, António Costa veio logo pôr de parte qualquer cenário de bloco central, defendendo que "não seria saudável para a democracia". 

Serão essas novas temáticas que o PS quer abordar aquelas que dão ao PAN razão de existir? A resposta pode chegar em outubro.

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