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Silva Lopes: Descida de impostos é ideia "estúpida" e "perigosa" e saída limpa pode ser "um desastre"

O antigo ministro das Finanças Silva Lopes advertiu esta terça-feira que a "saída limpa" de Portugal nas actuais circunstâncias pode ser "um desastre" e considerou "estúpida" e "irresponsável" a pressão para a descida de impostos.

25 de Fevereiro de 2014 às 12:18
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Silva Lopes defendeu estas posições nas Jornadas Parlamentares do PS, na Nazaré, numa intervenção politicamente incorrecta perante deputados socialistas, já que também criticou frontalmente a dívida feita pelos Governos de José Sócrates (sobretudo a partir de 2008), atacou o actual sistema de pensões e manifestou pouca esperança numa inversão ao nível do combate aos interesses, mesmo com um Executivo PS.

 

"Fala-se muito na saída limpa - e vamos ter uma saída limpa porque não temos outro remédio. Vamos continuar a pagar taxas dois pontos percentuais acima da Irlanda, na ordem dos cinco por cento a dez anos. Portanto, isto vai ser um desastre", disse.

 

Numa nova nota pessimista sobre o futuro da economia portuguesa, o antigo ministro das Finanças sustentou que a dívida pública portuguesa apresenta projecções "medonhas", razão pela qual se poderá concluir pelo seu carácter não sustentável.

 

"Chegará o dia em que teremos de fazer a reestruturação da dívida, mas não é altura de levantar o problema. Se fosse político do PS, interiorizava este problema, mas não o proclamava ao público para não piorar ainda mais a situação nos mercados internacionais", alegou.

 

Mais em linha com os deputados socialistas, Silva Lopes concordou com a tese de que o país deverá fazer uma redução mais lenta do défice e manifestou-se contra uma nova descida dos impostos, considerando que se trata de uma ideia do PSD e do CDS "disparatada", sendo mesmo "perigosíssima" e de uma "irresponsabilidade total".

 

"Temos esta coisa absolutamente estúpida de encarar baixas de impostos. O PS vai ter aqui um bico-de-obra", afirmou, numa alusão à pressão que poderá ser exercida por PSD e CDS a favor da redução da carga fiscal.

 

"O PS tem de explicar que um milhão de euros tirado em impostos é um milhão de euros que se tira em despesa. Já fiquei desiludido quando o PS aceitou baixar o IRC, porque essa redução só será boa para os indivíduos que têm acções em empresas grandes e sem concorrência. É falsa a ideia que a descida do IRC será boa para o crescimento económico", sustentou o economista.

 

Em contraponto, o antigo titular da pasta das Finanças mostrou-se favorável a políticas de apoio à economia selectivas e de discriminação positiva dirigidas ao sector de bens transaccionáveis.

 

"O sector não transaccionável faz o que lhe apetece. A EDP, por exemplo, sente-se no direito de aumentar os preços mesmo quando o consumo cai. Mas que raio de economia é esta", exclamou, antes de deixar a plateia de deputados socialistas gelada com o seguinte comentário:

 

"Uma coisa é a racionalidade económica e outra coisa são os grupos de interesse. Pessoalmente não sou nada optimista em relação aos interesses, nem mesmo com o PS no Governo", referiu.

 

Silva Lopes deixou uma nota de alarme quando preveniu que não ia falar no sistema bancário "porque já basta de desgraças" e revelou-se também extremamente duro sobre a qualidade do investimento público feito em Portugal nos últimos 20 anos.

 

"Considero que é preciso manter o estádio de Leiria intacto, mantê-lo tal como está, como um monumento à estupidez nacional", declarou, antes de defender uma reforma no sistema actual de pensões, classificando-o como insustentável.

 

"A maior parte das pensões não corresponde ao que cada um descontou. Basta cada um fazer as contas e verificará que já recebeu em reformas bastante mais do que descontou. Estou a falar contra os meus interesses", disse.

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