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Esquerda converge contra a corrupção, PS pede união contra populismos

Os discursos de Bloco de Esquerda, PCP, PAN e PEV estiveram sintonizados numa crítica comum à corrupção, enquanto o deputado socialista Alexandre Quintanilha apelou à unidade na necessária luta contra o populismo.

António Cotrim/Lusa
25 de Abril de 2021 às 13:47
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A corrupção foi o tema comum aos partidos de esquerda no dia da comemoração da liberdade conquistada em 1974. Ainda que as duas palavras não tenham sido proferidas, José Sócrates foi o nome sempre presente na cerimónia do 25 de abril, cabendo a André Ventura o papel de vilão secundário nas críticas da esquerda. Com o líder do Chega em mente, também o PS apelou à comunhão de esforços para combater a ameaça das forças populistas.

O primeiro a falar foi o ainda líder do PAN, André Silva, no último discurso do 25 de abril antes de, em junho, abandonar o Parlamento. Defendeu que o Portugal amordaçado da ditadura "deu lugar a um Portugal capturado, capturado por interesses instalados que enclausuram a democracia na bolha das opções políticas do Bloco Central".

Numa intervenção sempre com o bloco central na mira, André Silva sustentou que tais interesses "servem apenas algumas pessoas ou grupos, gerando a desilusão e a revolta social que abrem espaço ao oportunismo que vende o ódio, o medo e a institucionalização da discriminação como remédios para curar esta democracia doente".

Apontando o dedo aos fenómenos de "corrupção e falta de transparência", lamentando que apenas 1% das queixas relacionadas com casos de corrupção deem lugar a condenações, e que nos curtos minutos desta intervenção a corrupção já levara "205 mil euros", o líder do PAN voltou a responsabilizar o bloco central pela incapacidade de aprovar efetivas "medidas de combate", dando como exemplo a lei sobre enriquecimento ilícito de titulares de cargos públicos.

Reiterando a crítica às "portas giratórias que servem para o bloco central saltitar entre entidades públicas e privadas com interesses conflituantes", atacou a "pura falta de vontade política" que apensas serve de "adubo" ao crescimento de valores antidemocráticos. Findo o discurso, André Silva deixou o plenário.

O bloco central e as "portas giratórias" entre interesses públicos e privados foram também abordados em tom crítico, assim como a corrupção, pela deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias.

A parlamentar fez questão de alertar que a denúncia dessa corrupção não pode ser um "cavalo de Troia" da extrema-direita e, falando de André Ventura sem o nomear diretamente, acusou o líder do Chega de "falta de vergonha" por vir de um escritório de planeamento fiscal e chegar ao Parlamento para "clamar contra a fuga ao fisco".

Beatriz Dias declarou que "nunca é demais lembrar as conquistas que Abril tornou possíveis", sobretudo porque, como frisou a deputada, tais conquistas não são irreversíveis. A mostrar isso mesmo está o "ressurgimento de forças populistas e fascistas um pouco por todo o mundo, e também em Portugal".

A também candidata bloquista à câmara de Lisboa falou num país onde "persistem níveis inaceitáveis de pobreza" e "desigualdade" para avisar que a crise social e económica causadas pela pandemia irão aumentar a "intensidade da pobreza" sentida em Portugal.

José Sócrates esteve também presente neste discurso, com a deputada a dizer que os portugueses não podem aceitar "que a promessa de Abril seja mercadejada".

Impunidade e crimes financeiros, os "maiores inimigos da democracia"
Pelo PCP falou Alma Rivera. A deputada atirou contra a "riqueza distribuída de forma injusta" em Portugal e contra a "acumulação obscena de alguns, muito poucos, que fogem à justiça".

E lamentou a "impunidade da corrupção, os crimes económicos e financeiros" que retratou como maiores "inimigos da democracia" num país em que o poder económico se sobrepõe ao poder político. Também aqui o nome de Sócrates entoou mesmo sem ser dito.

Alma Rivera retomou ainda o tradicional discurso do partido, puxando por reivindicações como o "aumento do salário mínimo social", garantindo que ao defendê-lo está-se a "lutar por abril", assim como quem "faz greve" está a "cumprir o que abril trouxe e antes era proibido".

A deputada ecologista Marina Silva quer acabar com a escuridão da corrupção e "colorir os dias garantindo direito à justiça, dotando-a de mais meios humanos e técnicos, tornando-a acessível a todos, combatendo a corrupção, respondendo aos que justamente clamam pela criminalização do enriquecimento ilícito ou injustificado, sejam pelos que têm intervenção política ou os que estão nos corredores atividades económicas".

E recordou Jorge de Sena, "a voz que diz que é preciso superar este sistema caduco que nos envergonhava enquanto povo".

"Ou nos ajudamos ou naufragamos todos"
Coube ao cientista e deputado do PS, Alexandre Quintanilha, falar em nome dos socialistas. Fê-lo para alertar para a "fragilização das democracias". "O populismo e a demagogia, fortissimamente financiados, ganham força de forma insidiosa", notou, avisando que "os desafios que o futuro nos reserva são imensos, são globais, complexos e interdependentes".

Ante tais desafios, que "exigem uma sólida união de esforços e de recursos", o deputado garantiu que "ou nos ajudamos mutuamente ou naufragamos todos juntos. É essa também a lição da pandemia".
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