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Krugman volta a recorrer a Portugal para exemplificar efeitos negativos do Euro

Paul Krugman disse esta sexta-feira que percebemos tarde demais as desvantagens de um mercado de mobilidade laboral sem uma incorporação fiscal eficiente. O economista americano escolhe Portugal para criticar a eficiência da Zona Euro.

Bloomberg
14 de Agosto de 2015 às 22:39
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No seu mais recente texto publicado no blogue do New York Times, Paul Krugman defende que a mobilidade no trabalho "que é suposto ser uma coisa boa e um pré-requisito para a união monetária" é problemática e tem prejudicado as economias. No artigo, o economista norte-americano escolhe o exemplo português para alertar para os efeitos negativos que uma ineficaz mobilidade do factor trabalho pode causar a uma economia de moeda comum.

Num texto que apelida de "pensamento europeu animador do dia", o professor de Economia recorre a uma noticia do Financial Times sobre a situação demográfica em Portugal para relembrar a "espiral de morte económica" que tem incentivado um elevado número de trabalhadores portugueses a emigrar.

O Nobel da Economia refere ainda os baixos níveis de natalidade e os elevados impostos, prevendo um cenário "nada fácil" para um país que Krugman antevê que se tornará "numa nação de pessoas idosas sem recursos para tratar delas".

Paul Krugman garante que as regiões económicas americanas são menos "vulneráveis", apesar de não terem uma integração orçamental perfeita, e fala do caso de Porto Rico. Recorrendo novamente à expressão "espiral da morte", Krugman aponta os elevados níveis de emigração e o "stress orçamental" como os principais problemas da actual crise económica que a ilha caribenha enfrenta, garantindo que, ainda assim, o sofrimento de Porto Rico (que entrou em bancarrota no final do mês de Julho) é inferior a Portugal.

O Nobel da Economia problematiza a flexibilidade no mercado de trabalho recorrendo à teoria da Área Monetária Óptima [em inglês Optimum Currency Area (OCA), uma área que corresponde a uma região geográfica com uma moeda comum a fim de maximizar a eficiência económica] e surge com três nomes: Robert Mundell, Ron McKinnon and Peter Kenen.

Diz Krugman que todos eles assumiram, "realisticamente", que os salários e os preços são valores rígidos em cada país, pelo que fixar a taxa de câmbio ou adoptar moedas comuns impõe que se torne mais difícil ajustar "choques assimétricos" que podem prejudicar a economia de cada país relativamente às economias parceiras. "Estes custos têm de ser comparados com os benefícios de facilitar negócios além-fronteiras", sustenta. 

Neste artigo no blogue do New York Times, o economista norte-americano explica ainda as diferenças entre as visões dos economistas que aponta como especialistas da teoria da Área Monetária Óptima.


Para Robert Mundel, também ele vencedor de um Nobel da Economia, a chave é a mobilidade laboral: se os trabalhadores se movimentarem de forma livre e ágil de regiões em fase de contracção para regiões em expansão, os choques assimétricos entre as regiões tornam-se um problema muito menor. Um dos argumentos que os eurocépticos norte-americanos costumavam usar para dizer que a Europa não seria capaz de se adaptar bem a uma moeda única era o do baixo nível de mobilidade no emprego, quando comparado com a prática entre Estados norte-americanos.

McKinnon apresenta um critério diferente, baseado nas negociações das produções, requerendo ajustes de preço menores em economias muito abertas e defendendo mais transições a fim de aumentar os benefícios da moeda comum.

 

Já Kenen, refere Krugman, argumenta que a integração orçamental, ou a falta dela, foi crucial e desempenhou um forte papel no equilíbrio entre regiões em fase de contracção, com o pagamento de taxas mais baixas e recebendo benefícios de regiões com melhores condições económicas.

Krugman defende que "o que aprendemos é que a teoria de Kenen ultrapassa a de Mundell" e que, na ausência de uma integração orçamental, a mobilidade laboral deteriora qualquer união monetária, não a melhora. 

O economista conclui o artigo dizendo que "o Acto Único Europeu, que era suposto, entre outras coisas, preparar para uma moeda comum" poderá ter interferido na integração orçamental das economias, "criando todo um novo tipo de catástrofe".  

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