Notícia
Como Draghi vai retirar estímulos à economia
A chamada estratégia de saída do BCE deverá ser conhecida no Outono. A maior parte das análises aponta para uma redução do volume de compras em 2018, com a subida da taxa de juro central a ficar para 2019 ou depois.
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Com a retoma a afirmar-se, o BCE confia que é uma questão de tempo até os salários na Zona Euro e a inflação recuperarem de forma sustentável, o que abrirá caminho à redução do volume de compras de activos actualmente em 60 mil milhões de euros mensias, à subida dos juros (-0,4% nos depósitos no BCE, e 0% nos empréstimos à banca) e, com o tempo, a uma redução do balanço do BCE que já atingiu os 4,3 biliões de euros. As condições dos empréstimos à banca, com prazos longos e juros fixos, também terão os dias contados.
Neste contexto, no melhor dos cenários, Mario Draghi provavelmente gastará o resto do seu mandato, que termina em 2019, a normalizar a política monetária da Zona Euro com um desafio principal: fazê-lo sem prejudicar a retoma nem causar turbulência, ou seja, sem gerar volatilidade nos mercados, valorização do euro ou subidas de juros excessivas. "A última coisa que o Conselho pode querer é um aperto indesejado das condições financeiras que abrande este processo [de recuperação da economia, dos salários e dos preços] ou até o destrua", afirmou na última conferência de imprensa antes das férias de Verão.
O presidente do BCE diz que está confiante, mas garante prudência e persistência, e foi também aí que marcou no calendário o "Outono" como data para o debate sobre a redução dos estímulos monetários na Zona Euro, o que deixa em aberto três hipóteses, com destaque para as reuniões de 7 de Setembro e a de 26 de Outubro. Antes do final do ano há ainda a reunião de 14 de Dezembro, mas essa opção pode gerar nervosismo nos mercados visto que o programa de compra de activos está garantido apenas até 31 de Dezembro.
Por agora, sabe-se que a retoma está solidificar-se, que o BCE vê a inflação a caminhar muito lentamente para os 2% no final da década, mas ainda dependente dos estímulos dos BCE, e que o banco central só aliviará os estímulos quando conseguir confiar que estão cumpridos quatro critérios: uma recuperação da inflação para os 2% no médio prazo, de forma durável, auto-sustentável após a retirada dos estímulos, e considerando a média da evolução dos preços nas 19 economias do euro.
Com esta informação, vários analistas apontam para uma redução do volume de compras de activos algures no primeiro trimestre de 2018 e o fim do programa até ao final do ano; uma subida da taxa de juro de depósitos possivelmente em 2018, e uma subida da taxa de juro central em 2019. Eis algumas datas chave para os próximos meses.
24 a 26 de Agosto: Jackson Hole, a rentrée
Mario Draghi discursa em Jackson Hole, no encontro anual da Reserva Federal. Observadores e investidores procurarão pistas nas palavras do presidente do BCE.
7 de Setembro: a primeira reunião depois do Verão
BCE apresenta previsões e poderá mandatar equipas para estudarem e proporem estratégias de recalibração do programa de compra de activos e retirada de estímulos. Em Sintra, no Forum anual do BCE, Draghi foi claro que entende que é possível manter o estímulo monetário à retoma europeia alterando parâmetros do programa de compras que reduzam a intensidade de apoio, sem por em causa a retoma.
Para o RBC Capital Markets, o BCE deverá ir mais longe e anunciar já em Setembro um prolongamento do programa de compra de títulos até meados de 2018, acompanhado de uma redução do volume mensal de aquisições, mesmo que o banco central não apresente todos os detalhes. Está acompanhado pelo Commerzbank.
Draghi disse que as equipas técnicas ainda nem foram mandatadas para estudar o problema, o que parece indicar que uma decisão pode ter de esperar mais algum tempo.
26 de Outubro: a reunião no meio do Outono
Esta é a data mais provável para o anúncio da estratégia para os próximos meses, defende o banco Berenberg, que não espera novidades relevantes em Setembro. Está acompanhado pela Pictet.
Nesta altura, estaremos a dois meses do final do actual programa e o resultado as eleições alemãs já será conhecido desde 24 de Setembro. As equipas técnicas também terão tido quase dois meses para estudar as várias alternativas, admitindo que são mandatadas pra o fazer no arranque de Setembro.
Primeiro semestre de 2018: início do fim do programa de compra de activos
A maioria dos analistas prevê numa redução do volume de compras mensais no arranque de 2018. O Berenberg aposta numa redução do volume de compras de 60 mil para 45 mil milhões de euros em Janeiro, mantendo-se até Março, e reduzindo-se em 15 mil milhões por mês a partir daí, até as compras pararem em Setembro de 2018.
Já o RBC, que aposta numa subida de juros apenas em 2019 – tanto na taxa de depósitos como na taxa central – admite que a alteração dos parâmetros do programa de compras a que o BCE se refere implique, numa primeira fase, a redução da aquisição de obrigações de empresas (que representam cerca de 7 mil milhões de euros dos 60 mil milhões de euros mensais), mantendo-se o plano de aquisição de cerca de 50 mil milhões de euros mensais de obrigações públicas. Esta estratégia implicaria a continuação de um desvio do volume de compras face à chave de capital de vários países, como já acontece com Portugal desde o início do ano, e está a acontecer com a Alemanha há três meses. Neste caso, o efeito de subida de juros decorrente da saída do BCE do mercado sentir-se-ia principalmente no mercado de dívida privada.
O Commerzbank, um dos bancos que mais tem defendido a urgência na normalização da política monetária, também espera que o BCE actue já em Setembro, anunciando uma redução do volume de compras de dívida para primeiro trimestre de 2018 centrada na redução do volume de compras de obrigações públicas, progredindo para a conclusão do programa no final de 2018. O Commerzbank não vê o BCE a violar o limite de 33% de compra de dívida que se impôs; e, ao contrário do RBC, não admite desvios significativos à chave de capital.
Segundo semestre de 2018: o fim das compras e taxa de depósitos menos negativa
As quatro análises consultadas pelo Negócios apontam para o fim das compras de activos, embora o BCE possa continuar a reinvestir juros e obrigações que chegaram ao vencimento.
O Berenberg aposta numa subida da taxa de depósitos de -0,4% para -0,25% no final de 2018, enquanto a Pictet aponta para uma subida da taxa de depósitos em Junho de 2018.
2019 e 2020: Subida da taxa juro central
Nenhuma das análises prevê uma subida da taxa de juro central antes de 2019, com o Berenberg a apontar para que tal aconteça apenas em Setembro de 2019, de 0% para 0,25%.
Neste contexto, no melhor dos cenários, Mario Draghi provavelmente gastará o resto do seu mandato, que termina em 2019, a normalizar a política monetária da Zona Euro com um desafio principal: fazê-lo sem prejudicar a retoma nem causar turbulência, ou seja, sem gerar volatilidade nos mercados, valorização do euro ou subidas de juros excessivas. "A última coisa que o Conselho pode querer é um aperto indesejado das condições financeiras que abrande este processo [de recuperação da economia, dos salários e dos preços] ou até o destrua", afirmou na última conferência de imprensa antes das férias de Verão.
O presidente do BCE diz que está confiante, mas garante prudência e persistência, e foi também aí que marcou no calendário o "Outono" como data para o debate sobre a redução dos estímulos monetários na Zona Euro, o que deixa em aberto três hipóteses, com destaque para as reuniões de 7 de Setembro e a de 26 de Outubro. Antes do final do ano há ainda a reunião de 14 de Dezembro, mas essa opção pode gerar nervosismo nos mercados visto que o programa de compra de activos está garantido apenas até 31 de Dezembro.
Com esta informação, vários analistas apontam para uma redução do volume de compras de activos algures no primeiro trimestre de 2018 e o fim do programa até ao final do ano; uma subida da taxa de juro de depósitos possivelmente em 2018, e uma subida da taxa de juro central em 2019. Eis algumas datas chave para os próximos meses.
24 a 26 de Agosto: Jackson Hole, a rentrée
Mario Draghi discursa em Jackson Hole, no encontro anual da Reserva Federal. Observadores e investidores procurarão pistas nas palavras do presidente do BCE.
7 de Setembro: a primeira reunião depois do Verão
BCE apresenta previsões e poderá mandatar equipas para estudarem e proporem estratégias de recalibração do programa de compra de activos e retirada de estímulos. Em Sintra, no Forum anual do BCE, Draghi foi claro que entende que é possível manter o estímulo monetário à retoma europeia alterando parâmetros do programa de compras que reduzam a intensidade de apoio, sem por em causa a retoma.
Para o RBC Capital Markets, o BCE deverá ir mais longe e anunciar já em Setembro um prolongamento do programa de compra de títulos até meados de 2018, acompanhado de uma redução do volume mensal de aquisições, mesmo que o banco central não apresente todos os detalhes. Está acompanhado pelo Commerzbank.
Draghi disse que as equipas técnicas ainda nem foram mandatadas para estudar o problema, o que parece indicar que uma decisão pode ter de esperar mais algum tempo.
26 de Outubro: a reunião no meio do Outono
Esta é a data mais provável para o anúncio da estratégia para os próximos meses, defende o banco Berenberg, que não espera novidades relevantes em Setembro. Está acompanhado pela Pictet.
Nesta altura, estaremos a dois meses do final do actual programa e o resultado as eleições alemãs já será conhecido desde 24 de Setembro. As equipas técnicas também terão tido quase dois meses para estudar as várias alternativas, admitindo que são mandatadas pra o fazer no arranque de Setembro.
Primeiro semestre de 2018: início do fim do programa de compra de activos
A maioria dos analistas prevê numa redução do volume de compras mensais no arranque de 2018. O Berenberg aposta numa redução do volume de compras de 60 mil para 45 mil milhões de euros em Janeiro, mantendo-se até Março, e reduzindo-se em 15 mil milhões por mês a partir daí, até as compras pararem em Setembro de 2018.
Já o RBC, que aposta numa subida de juros apenas em 2019 – tanto na taxa de depósitos como na taxa central – admite que a alteração dos parâmetros do programa de compras a que o BCE se refere implique, numa primeira fase, a redução da aquisição de obrigações de empresas (que representam cerca de 7 mil milhões de euros dos 60 mil milhões de euros mensais), mantendo-se o plano de aquisição de cerca de 50 mil milhões de euros mensais de obrigações públicas. Esta estratégia implicaria a continuação de um desvio do volume de compras face à chave de capital de vários países, como já acontece com Portugal desde o início do ano, e está a acontecer com a Alemanha há três meses. Neste caso, o efeito de subida de juros decorrente da saída do BCE do mercado sentir-se-ia principalmente no mercado de dívida privada.
O Commerzbank, um dos bancos que mais tem defendido a urgência na normalização da política monetária, também espera que o BCE actue já em Setembro, anunciando uma redução do volume de compras de dívida para primeiro trimestre de 2018 centrada na redução do volume de compras de obrigações públicas, progredindo para a conclusão do programa no final de 2018. O Commerzbank não vê o BCE a violar o limite de 33% de compra de dívida que se impôs; e, ao contrário do RBC, não admite desvios significativos à chave de capital.
Segundo semestre de 2018: o fim das compras e taxa de depósitos menos negativa
As quatro análises consultadas pelo Negócios apontam para o fim das compras de activos, embora o BCE possa continuar a reinvestir juros e obrigações que chegaram ao vencimento.
O Berenberg aposta numa subida da taxa de depósitos de -0,4% para -0,25% no final de 2018, enquanto a Pictet aponta para uma subida da taxa de depósitos em Junho de 2018.
2019 e 2020: Subida da taxa juro central
Nenhuma das análises prevê uma subida da taxa de juro central antes de 2019, com o Berenberg a apontar para que tal aconteça apenas em Setembro de 2019, de 0% para 0,25%.