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Quais são as armas da China na guerra comercial?
A China é o principal parceiro comercial de bens dos Estados Unidos. Apesar de a relação estar desequilibrada, a economia chinesa tem formas de responder às tarifas norte-americanas.
Numa guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a vitória norte-americana não são favas contadas. É certo que a relação entre as duas economias está bastante desequilibrada, com os EUA a registarem um défice crescente no comércio de bens, face aos chineses. Mas Pequim tem como retaliar e no final, este é um jogo em que perdem as duas partes.
Em 2017, o défice comercial dos Estados Unidos em relação à China foi de 375,2 mil milhões de dólares. Os números do United States Census Bureau não estão deflacionados nem corrigidos de sazonalidade, mas sugerem que o desequilíbrio é crescente. Face a 2016, por exemplo, o défice aumentou 28,2 mil milhões de dólares, uma subida equivalente a 8%.
Mas este défice é o resultado de trocas totais no valor de 636 mil milhões de dólares, o equivalente a 16,4% do valor total do comércio dos EUA. No ano passado, os Estados Unidos compraram 505,6 mil milhões de dólares em bens à China. Mas também venderam 130,4 mil milhões de dólares – ou seja, a China tem aqui algumas opções.
Como explica a CNN, a China é um dos principais clientes dos produtos agrícolas norte-americanos, como por exemplo soja. O governo chinês pode retaliar aplicando tarifas à importação destes produtos, direccionado as compras para a concorrência, como por exemplo o Brasil ou a Argentina.
Aliás, esta foi a primeira resposta do Governo de Pequim, que garantiu que haverá consequências para a economia dos EUA, apontando desde logo para a imposição de tarifas nos bens agrícolas. Na sequência da decisão assinada por Trump para avançar com as tarifas, a China já disse que está a estudar um aumento de 25% nas tarifas alfandegárias sobre porco e alumínio. Tem também outra lista de produtos – entre os quais estão vinho, maçãs, etanol e tubos de aço – sobre os quais considera subir tarifas.
Pelas contas do Governo chinês, estes bens representam três mil milhões de dólares em importações dos Estados Unidos, mas os números não são directamente comparáveis com as estatísticas comerciais dos EUA – os dois países apuram, por exemplo, défices comerciais norte-americanos de valor diferente.
Na quinta-feira, ainda antes de a decisão das tarifas se concretizar, e das ameaças da China ganharem uma forma mais nítida, o representante do Comércio norte-americano, Robert Lighthizer, já tinha garantido que nesse caso os EUA teriam novas medidas para retaliar, o que é demonstrativo do elevado risco de uma escalada do proteccionismo.
A Boeing, a maior empresa exportadora dos Estados Unidos, é outro alvo preferencial de retaliação. Tem na China um dos seus principais mercados. A economia pode fechar-lhe portas, virando-se para a concorrência na hora de renovar ou alargar frotas de aeronaves.
Mas há mais: a resposta pode ser dada noutras frentes, que não o comércio especificamente de bens. Há outro produto que a China compra aos Estados Unidos em quantidades muito relevantes – dívida pública. A economia chinesa é o principal credor dos Estados Unidos, com 1,2 biliões de dólares de títulos do Tesouro norte-americano, segundo dados da Reserva Federal.
Se a China fechar repentinamente a torneira do financiamento aos EUA, nomeadamente inundando o mercado de títulos, interfere directamente no preço a que a administração Trump sustenta os seus défices orçamentais.
Bruxelas quer ficar isenta das tarifas
A União Europeia (UE) exigiu que os Estados Unidos concedam aos Estados-membros uma isenção permanente no que diz respeito às importações de aço e alumínio. Ontem, o representante norte-americano para o Comércio, Robert Lighthizer, disse no Senado que os EUA decretaram também "uma pausa" na imposição das tarifas sobre o aço e o alumínio a alguns países. A UE está incluída nesse leque. "Estas medidas não podem ser justificadas em termos de segurança nacional e uma protecção ampla no sector nos EUA é um remédio inapropriado para os problemas reais de sobrecapacidade", refere um comunicado conjunto dos 28.