Notícia
Putin anuncia cessar-fogo na Síria mas admite que acordo é "frágil"
O presidente russo anunciou que o exército sírio leal a Assad e a oposição armada ao regime de Damasco assinaram um acordo de cessar-fogo que pressupõe também o retomar das negociações de paz. No entanto, Putin reconhece que o acordo firmado é "muito frágil".
O exército sírio e as forças rebeldes opositoras do regime de Bashar al-Assad assinaram um acordo para o estabelecimento de um cessar-fogo na Síria, a ser implementado já a partir das 22:00 (meia-noite local) desta quinta-feira, 29 de Dezembro, anunciou esta manhã o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Citado pela agência noticiosa russa Tass, Putin revelou ainda que este acordo – que se divide em três documentos – pressupõe ainda o retomar com a maior brevidade possível de negociações com vista a encontrar uma solução que coloque termo a um conflito armado que se prolonga há já quase seis anos. A terceira parte do acordo está relacionada com a definição de medidas adequadas para supervisionar o cessar-fogo.
Também as autoridades turcas confirmaram o acordo, mediado por Ancara e Moscovo, com o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, a adiantar ainda que a Rússia e a Turquia actuarão como garantes do compromisso firmado, dois países que apoiam lados distintos no conflito sírio.
Putin fez o anúncio depois de se reunir com os seus ministros dos Estrangeiros e da Defesa, Sergey Lavrov e Sergey Shoigu, dizendo que "acabámos de receber a notícia de que, há poucas horas, aconteceu o evento pelo que todos temos esperado e trabalhado."
Apesar da satisfação demonstrada relativamente a este desfecho, Putin reconheceu que "os compromissos alcançados são muito frágeis" e que obrigam a "especial atenção e paciência" para que se possam concretizar efectivamente no terreno.
Putin anunciou ainda ter acordado com o seu ministro da Defesa a redução da presença militar russa na Síria, isto porque apesar de Moscovo só participar nas acções de guerra através da sua força aérea, mantém no território militares que tem providenciado apoio técnico ao exército leal ao presidente Assad.
Decisão esta que não coloca em causa o compromisso do Kremlin em "continuar a lutar o terrorismo internacional e a apoiar o Governo sírio", frisou Vladimir Putin. É certo, refere a BBC, que Moscovo vai manter presença na base aérea de Latakia e nas instalações navais no porto de Tartus. A Rússia entrou no conflito sírio em Setembro do ano passado para apoiar, juntamente às forças terrestres do Irão e do libanês Hezbollah, o presidente Assad, tradicional aliado russo no Médio Oriente.
Acordo sem Estados Unidos
Não foi a primeira vez a verificar-se, mas uma vez mais o acordo de cessar-fogo promovido pela Turquia e pela Rússia não contou com a colaboração norte-americana. O que, desde logo, também é um factor que confere fragilidade ao acordo hoje anunciado.
Além de que o Kremlin, segundo refere a CNN, já veio considerar "hostil" a decisão de Washington de continuar a armar as forças rebeldes que combatem Assad, considerando que continuar a fornecer armas à oposição pode ser "uma sentença de morte" para a região. Na passada sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou um decreto que dá luz verde ao prosseguimento da estratégia do Pentágono de armar as forças opositoras de Damasco.
A Rússia tem vindo a criticar esta estratégia norte-americana, acusando a mesma de ter acabado por servir, por exemplo, para armar grupos jihadistas. Acusações repetidas nos últimos dias também pelas autoridades turcas. Por outro lado, o ministro Lavrov afirmou esta quinta-feira esperar que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, possa apoiar o plano de Moscovo para a Síria.
Os acordos assinados também excluem as forças que combatem no terreno e que são consideras terroristas pelas Nações Unidas. É o caso dos grupos sunitas Jabhat Fateh al-Sham (antes conhecida como Frente al-Nusra, filial da al-Qaeda na Síria) e do auto-denominado Estado Islâmico (EI).
Entretanto o líder do principal grupo rebelde considerado moderado – Coligação Nacional Síria – já veio anunciar que apoia o cessar-fogo que entrará em vigor ao início da próxima sexta-feira avisando, porém, que irá retaliar contra qualquer "violação" do compromisso.
Este cessar-fogo sucede a vários outros, uns promovidos por Moscovo e Ancara, outros pelos Estados Unidos e as Nações Unidas, que tiveram em comum o fracasso. Sendo que a não inclusão dos Estados Unidos fragiliza o acordo desta quinta-feira.
Lavrov já revelou também que pretende encetar negociações de paz em Astana, capital do Cazaquistão, incluindo países como o Egipto, o Qatar, a Arábia Saudita e a Jordânia, estados que participam na coligação internacional liderada pelos Estados Unidos que nos últimos anos tem bombardeado grupos terroristas na região. Anúncio que acontece dias depois de Damasco ter recuperado o total controlo da cidade de Aleppo, que era até aqui o principal bastião das forças opositoras.