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Merkel sobre comércio mundial: "Isolar completamente a China não pode ser a resposta"

A chanceler alemã considera que é preciso assegurar que as relações comerciais são "justas", mas não é favorável ao isolamento da China.

EPA
16 de Janeiro de 2020 às 10:30
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Daqui a um ano e meio, salvo surpresas, Angela Merkel deixará de ser a chanceler alemã após quatro mandatos consecutivos. Numa entrevista ao Financial Times publicada esta quinta-feira, 16 de janeiro, a "mutti" (mãe) dos alemães avisa que a resposta não passa por "isolar completamente" a China, vista como uma ameaça para a Alemanha.

"Tal como foi o caso da Alemanha, a ascensão [da China] baseia-se em grande medida no trabalho árduo, criatividade e capacidades técnicas", considera Merkel, que recusa destruir as cadeias de valor mundiais por causa da concorrência económica entre os países. "Na minha opinião, isolar completamente a China não pode ser a resposta". 

A política alemã, uma das principais líderes mundiais, argumenta que é preferível "assegurar que as relações comerciais são justas". No caso concreto do 5G, a posição da chanceler é que devem ser reforçados os padrões de segurança para todas as empresas, optando-se pela diversificação dos fornecedores para que a Alemanha "não dependa" de apenas uma empresa. "Acho que é errado simplesmente excluir alguém 'per se'", conclui, numa alusão à Huawei que tem enfrentado dificuldades nos EUA, por exemplo. 

É esta posição conciliatória e de diálogo que Merkel pretende continuar a adotar, até para evitar que a União Europeia seja "apanhada" no meio do conflito comercial entre os EUA e a China. "Isso pode acontecer, mas também podemos tentar preveni-lo", respondeu ao FT, referindo que mantém a "firme convicção" de que é possível ter situações de 'win-win' em que as parcerias beneficiam ambos os lados. 

"O Brexit é um grito de alerta"
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, surge o receio de que haja um concorrente feroz mesmo à porta, mas Merkel mantém-se uma otimista cautelosa, descreve o FT.

Ao mesmo tempo que é uma ameaça, o Brexit é "um grito de alerta" para a UE que terá de ser mais ambiciosa, tornando-se mais "atrativa, inovadora, criativa, um local bom para a investigação e a educação". "A concorrência pode ser muito produtiva", aponta Merkel. 

"Nós na Europa, especialmente na Alemanha, temos de assumir maiores responsabilidades", afirmou, dando exemplos durante a entrevista. Um deles, ligado à capacidade económica do bloco europeu, passa por preencher as falhas nas capacidades tecnológicas. "Eu acredito que a UE deve fabricar chips, que a Europa deve ter os seus próprios 'hyperscalers' [empresas como a Amazon, Apple ou Alphabet] e que deveria conseguir produzir baterias", exemplificou. 

Na frente geopolítica, na qual quer preservar o multilateralismo, a chanceler alemã considera que é necessário desenvolver capacidade militar a nível europeu de forma a que a UE esteja preparada para "se envolver", se necessário. Onde? "Vejo África como um exemplo", apontou.
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