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Macron declara a morte do multilateralismo. G7 sem comunicado comum pela primeira vez

O presidente de França, nação que acolhe a reunião do G7 que decorre entre sábado e a próxima segunda-feira, anunciou que não haverá um comunicado comum no final, quebrando com uma tradição de décadas.

Reuters
22 de Agosto de 2019 às 09:25
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Desde que Donald Trump chegou à Casa Branca que o multilateralismo tem vindo a deteriorar-se. Após episódios de fratura entre os EUA e as outras potências mundiais no G20 ou no G7, o presidente francês, Emmanuel Macron, o anfitrião desta edição do G7, decidiu acabar com o comunicado conjunto. 

Macron quer evitar uma reedição do que aconteceu na cimeira do G7 no Canadá no ano passado. Nessa altura, após a divulgação do comunicado conjunto saído a ferros, Trump saiu mais cedo do encontro, distanciou-se do texto e acusou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, de ser "desonesto". 

O presidente francês tinha prometido "inovar" no G7 enquanto anfitrião, tendo referido a ideia de uma série de mini-comunicados sobre temas específicos apenas com a assinatura dos líderes que concordam com as posições tomadas no texto. "Temos de aceitar que em alguns temas há um membro do clube que poderá não assinar. Não conseguimos fazer milagres", disse no passado.

No entanto, ontem Macron foi mais longe e anunciou que não haverá o clássico comunicado conjunto, explicando que tal se deve a uma "crise muito profunda da democracia". Há uma "crise do capitalismo e da desigualdade", declarou. "Ninguém lê os comunicados, sejamos honestos", disse Macron, citado pelo Financial Times, argumentando que nos últimos tempos só servem para "detetar desentendimentos". 

Será a primeira vez que tal acontecerá desde que estes encontros começaram em 1975 com a presença do Reino Unido, Canadá, França, Itália, Alemanha, Japão e os EUA. A Rússia, que também fazia parte do grupo inicial, foi expulsa após a anexação da Crimeia em 2014.

A aposta do Governo francês é em "coligações de ações" onde os Governos conseguiam chegar a acordo e não necessariamente com todos os envolvidos. Caso não haja uma posição conjunta e se confirme que não há um comunicado comum, França, como anfitriã, tem a possibilidade de emitir um comunicado seu no final da reunião.

Pela cimeira deverão passar os temas da tributação dos gigantes digitais, em que atualmente existe divergência entre França e os EUA, assim como o Brexit, nesta que será a primeira reunião do G7 com Boris Johnson à frente do Reino Unido.

Este é mais um sinal da queda do multilateralismo que tem sofrido vários contratempos desde que Trump decidiu abandonar o acordo nuclear com o Irão ou sair do acordo internacional de Paris para o clima. 

O objetivo dos encontros do G7 (ou G20) entre as potências mundiais era obrigar a negociação conjunta, principalmente para resolver temas que vão além das fronteiras dos países. O comunicado conjunto que era divulgado não tinha força de lei, mas era um símbolo da cooperação entre países.
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