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Dilma Rousseff: "Brasil não tem problemas estruturais graves"
No discurso na 70.ª assembleia-geral das Nações Unidas, a presidente brasileira garantiu que está a tomar medidas para superar o momento económico do Brasil. E prometeu novas metas de redução para as emissões de gases poluentes. No discurso na ONU falou de corrupção e de como o Brasil está aberto a receber refugiados. Deixou no entanto recados: a ONU tem de se reformar.
Dilma Rousseff foi a Nova Iorque dizer que o Brasil receberá "de braços abertos" todos os refugiados. "Num mundo onde circulam livremente mercadorias, capitais, formações e ideias é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas. O Brasil é um país de acolhimento, formado por refugiados, recebemos sírios, haitianos, abrigamos há mais de um século europeus, árabes e asiáticos. Estamos de braços abertos para receber refugiados. Somos um país multiético. Somos um país que convive com as diferenças. Que sabe a importância delas para nos tornar mais fortes, mais ricos, mais diversos cultural, social e economicamente".
E é a crise dos refugiados que leva Dilma Rousseff a considerar que a ONU não teve tanto sucesso em matéria da segurança colectiva, como teve noutros
Presidente do Brasil
casos.
"Neste inquietante pano de fundo impõe-nos uma reflexão sobre o futuro das Nações Unidos e temos de agir concreta e rapidamente". O inquietante pano de fundo: "A multiplicação de conflitos regionais, alguns com alto potencial destrutivo como a expansão do terrorismo que mata homens, mulheres e crianças e destrói património da humanidade, expulsa das suas comunidades seculares milhões de pessoas, mostra que a ONU está diante de um grande desafio. Não se pode ter complacência com tais actos de barbárie. Como aqueles perpetrados pelo denominado estado islâmico ou de outros grupos associados". E que explica a onda de refugiados que chegam do Médio Oriente e do Norte de África. Mas Dilma Rousseff não deixou de referir-se a outra disputa internacional. "Não se pode postergar a criação de um Estado palestino que conviva pacificamente e harmonicamente com Israel, não é tolerável assentamentos dos territórios ocupados".
No que correu bem, Dilma Rousseff aplaude o reatar das relações entre Cuba e Estados Unidos e o acordo com o Irão.
No âmbito da Agência 2030, aprovada pelas Nações Unidas, a presidente do Brasil não quis passar ao lado do papel do seu país para o desenvolvimento sustentável, nomeadamente de nível ambiental, dizendo que o Brasil está a fazer um grande esforço para diminuir a emissão de gases com efeito de estufa, mas sem comprometer o desenvolvimento. Reiterou a contribuição do Brasil em 43% para reduzir gases poluentes até 2030, com base em 2005. E deixou a promessa: "Neste período o Brasil pretende o fim do desmatamento ilegal, o reflorestamento de 12 milhões de hectares, a recuperação de 15 milhões de pastagem degradadas, a integração de cinco milhões de hectares de lavoura de pecuária e florestas". E nas energias: a produção de energia virá de 45% de fontes renováveis, sendo desse total 66% de fonte hídrica, 23% de eólica, solar e biomassa.
Falou da importância do Brasil para a Agenda 2030, mas não deixou de aflorar o momento económico do país, garantindo que desde 2008 quando eclodiu a crise económica mundial o Brasil tentou evitar os seus efeitos, reduzindo impostos, ampliando crédito, reforçando investimento e o consumo famílias, "aumentamos os empregos, e a renda nesse período".
Só que advertiu: "Esse esforço chegou agora no limite, por razões fiscais internas e por aquelas relacionadas com o quadro externo, como a lenta recuperação da economia mundial e o fim do super ciclo das 'commodities' que incidiram negativamente sobre o nosso crescimento".
Mas assegura Dilma Rousseff: "O Brasil não tem, no entanto, problemas estruturais graves. Os nossos problemas são conjunturais e diante desta situação estamos a reequilibrar o nosso orçamento e assumimos uma forte redução das nossas despesas, e nos gastos e parte do investimento. Realinhamos preços, estamos aprovando medidas de redução permanente de gastos. Propusemos cortes drásticos nas despesas e redefinimos receitas".
Dilma promete consolidar a estabilidade macro-económica, reforçando a confiança na economia para que a retoma seja conseguida. "Hoje a economia do Brasil é mais forte, sólida e resiliente do que há alguns anos. Temos condições para superar a situação actual. Estamos num momento de transição para um novo ciclo de expansão mais sólido e duradouro". Conjugado com a consolidação e aprofundamento da democracia brasileira.
Chegados aqui foi a altura para Dilma Rousseff falar da corrupção que "o governo não tolera nem tolerará". "A democracia fortalece-se quando a autoridade assume o limite da lei como próprio limite. Queremos um país em que os governantes se comportem rigorosamente segundo as suas atribuições, sem cederem a excessos".