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Crimeia formaliza pedido de anexação à Rússia
O Parlamento da Crimeia aprovou avançar com um pedido de anexação à Rússia e antecipou para o próximo dia 16 a realização de um referendo onde os habitantes desta região poderão votar esta questão. Porém o vice-primeiro-ministro da Crimeia elucida que o referendo tem apenas um carácter formal e garante que “a Crimeia faz parte da Rússia a partir de hoje”. Washington retalia e anuncia sanções às pessoas que “ameaçam a soberania e integridade territorial da Ucrânia”. União Europeia está reunida para voltar a discutir a situação na Ucrânia.
Confirmam-se as previsões que apontavam para a probabilidade de formalização da secessão da região autónoma da Crimeia. O Parlamento aprovou, esta manhã de quinta-feira, 6 de Março, com 78 votos favoráveis e oito abstenções, uma moção dirigida ao Parlamento russo na qual é pedida a anexação à Rússia.
Esta moção foi acompanhada da antecipação, de dia 30 para o próximo dia 16 de Março, de um referendo local que irá questionar os habitantes desta península sobre o apoio à anexação à Federação Russa e à reentrada em vigor da Constituição de 1992. Mas de acordo com as declarações dos dirigentes da Crimeia o referendo será meramente consultivo uma vez que anexação é já dada como um facto consumado, mesmo antes de se saber qual a posição que irá adoptar o Kremlin.
Rustam Temirgaliev, vice-primeiro-ministro da Crimeia, considera que esta região passa a pertencer à Rússia “a partir de hoje”, logo depois de confirmar que o referendo servirá apenas para reforçar a decisão que o parlamento se encarregou de aprovar esta quinta-feira. Apesar de não se saber qual a resposta de Moscovo à moção das autoridades locais da Crimeia, o “The Guardian” avança que o Kremin já prometeu encetar esforços para a simplificação legislativa relativa à atribuição de nacionalidade russa a cidadãos descendentes russos, independentemente destes viverem dentro ou fora das fronteiras controladas por Moscovo.
O desenrolar dos acontecimentos já levou, segundo a agência Lusa, os tártaros, terceiro maior grupo de cidadãos da Crimeia, depois da maioria russófona e da parcela de ucranianos, a pedir a intervenção da comunidade internacional contra a decisão do parlamento da região autónoma que consideram ter sido “tomado por loucos”.
Respostas ao avolumar da crise na Crimeia
A velocidade a que se sucedem os acontecimentos revela o quão instável e imprevista é a situação. Os Estados Unidos já anunciaram sanções contra todos os indivíduos que “ameaçam a soberania e integridade territorial da Ucrânia”. Esta medida segue-se à divulgação, pela União Europeia (UE), de uma lista de 18 pessoas ligadas ao antigo Governo ucraniano, entre as quais o ex-Presidente pró-russos da Ucrânia, Viktor Yanukovych, cujos activos dentro da UE estão, a partir desta quinta-feira, congelados.
Se a aplicação de sanções foi até ao momento o proceidmento adoptado, a partida de um ‘destroyer” da Marinha de Guerra norte-americana, equipado com mísseis teleguiados, a caminho do Mar Negro, que banha toda a costa da península da Crimeia, parece indiciar, no mínimo, o fortalecimento de medidas persuasoras. De acordo com a “BBC” o exército norte-americano refere que trata-se apenas de um exercício de “rotina” agendado ainda antes do início da crise na Ucrânia. Note-se que este foi precisamente o mesmo argumento utilizado pelo Kremlin aquando das manobras militares, ao longo da fronteira russa com a Ucrânia, do exército russo depois da queda do Presidente deposto Yanukovych.
Reacções
Os líderes dos países da UE juntamente ao primeiro-ministro em funções da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, encontram-se em Bruxelas para discutir a crise na Crimeia. Yatsenyuk insta Moscovo a “iniciar conversações para uma solução pacífica” e classifica a resolução desta manhã, do parlamento da Crimeia, como uma “decisão ilegítima” sem qualquer tipo “de base legal”. O líder ucraniano afiança que a Crimeia faz parte da Ucrânia e “continuará a fazer”.
A chanceler alemã Angela Merkel espera que até ao final do dia as conversações que decorrem em Bruxelas possam trazer novidades. François Hollande, Presidente francês, acredita que uma Europa unida será capaz de mediar e resolver a crise na Ucrânia.
O Presidente russo Vladimir Putin também se reuniu esta quinta-feira com o Conselho de Segurança da Rússia, mas ainda não é conhecida nenhuma tomada de posição. Sabe-se apenas que Putin considera, por sua vez, o actual Executivo de Kiev como “ilegítimo”.
Todavia é no interior da Ucrânia que se verificam os principais desenvolvimentos. Esta manhã vários observadores da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE), da qual fazem parte a Rússia e a Ucrânia, foram impedidos de entrar na península da Crimeia.
A Crimeia permanece controlada por vários militares equipados com fardas sem qualquer tipo de identificação. Moscovo tem reforçado que trata-se de soldados de “auto-defesa local” pelo que não detém qualquer controlo sobre as actividades destas forças que tomaram de assalto, há vários dias, aeroportos, edifícios institucionais e bases militares.
Intensifica-se a pressão e enquanto os principais líderes mundiais prolongam conversações, a Ucrânia vê esboroar-se a sua unidade e integridade territorial sem que Moscovo tenha de ocupar militarmente, de facto, as regiões russófonas da Ucrânia. Mas as acções separatistas não se circunscrevem à Crimeia. Esta quarta-feira em Donekst, principal cidade da região oriental da Ucrânia, vários manifestantes pró-russos invadiram o parlamento local e envolveram-se em vários confrontos com manifestantes defensores da unidade ucraniana.
Em paralelo à reunião de líderes europeus em Bruxelas, o secretário de Estad norte-americano John Kerry e o homólogo russo Sergey Lavrov estão reunidos novamente, desta feita em Roma, para prosseguirem conversações sobre a Crimeia. Lavrov apenas sublinha que não foi atingido “nenhum acordo com a comunidade internacional”.
(Notícia actualizada com mais informação às 15h)