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Como é que as sanções americanas estão a asfixiar a economia do Irão?

Donald Trump garante que as sanções "pesadas" que pendem sobre o Irão e respetivas consequências económicas não têm como objetivo promover uma mudança de regime. Certo é que estão a degradar a economia iraniana ao estrangular a principal fonte de receitas do país: exportações de petróleo.

Reuters
25 de Junho de 2019 às 15:21
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Na mesma medida em que o levantamento de sanções, em 2015, permitiu à economia iraniana florescer e renovar perspetivas de melhoria de vida à generalidade da população, a reinstituição de penalizações financeiras, pelos Estados Unidos, ameaça degradar as condições económicas do Irão até um ponto insustentável.

Esta segunda-feira, o presidente norte-americano, Donald Trump, cumpriu a promessa feita no fim de semana e assinou um decreto presidencial que impõe sanções adicionais "pesadas" contra o líder supremo da República islâmica (Ayatollah Ali Khamenei), os principais elementos do seu gabinete e "muitas outras" figuras relevantes do país.

Esta decisão é produto da escalada de tensão entre os Estados Unidos e o Irão, país que Trump acusa de fomentar o terrorismo e de desestabilizar o Médio Oriente, que nas últimas semanas contabilizou um conjunto de incidentes ao largo do relevante Estreito de Ormuz (por onde passa cerca de um terço do petróleo mundial). O ataque a seis petroleiros e o abate, por parte do Irão, de um drone americano não pilotado que, segundo o presidente americano, quase levou a um ataque militar em larga escala, atestam a gravidade da situação.

O discurso anti-Irão de Trump foi uma constante durante a campanha presidencial de 2016 e materializou-se, em maio do ano passado, quando o presidente dos EUA denunciou o acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Em resultado desta ação, foram reinstituídas, em agosto, as sanções ao Irão levantadas na sequência do acordo de 2015 assinado pelo então presidente Barack Obama e colocadas restrições às relações comerciais de Teerão (incluindo com as restantes potências que firmaram o compromisso que levou Teerão a abdicar do desenvolvimento de armamento nuclear: Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha, que se mantêm fiéis ao acordo embora com margem de manobra limitada).

Tendo em conta que as exportações de petróleo são a principal fonte de receitas do Irão (valem em torno de 80% das exportações iranianas – o Irão detém as quartas maiores reservas petrolíferas mundiais e as segundas ao nível do gás natural), foi este o principal alvo das sanções americanas. Mesmo garantindo que o objetivo não passa por criar condições para uma mudança de regime, Trump reconhece pretender asfixiar a economia iraniana para levar o país a ceder. Porém, não se sabe bem qual a dimensão da cedência pretendida.

Em novembro, Washington impôs restrições financeiras adicionais a cerca de mil entidades iranianas, abrangendo bancos, pessoas e embarcações ligadas ao transporte energético, em especial petróleo e gás natural. E no mês passado aplicou sanções que limitam a compra de ferro, aço, alumínio e cobre iranianos.

No final de maio deste ano, não foram renovadas as isenções de seis meses às sanções que foram concedidas a países que compram petróleo ao Irão e que representam alguns dos principais importadores de crude iraniano (China, Índia, Japão, Coreia do Sul e Turquia). Outros importantes compradores de petróleo iraniano como a Itália e a Grécia não beneficiaram de nenhuma isenção.

Economia cai, desemprego dispara

Depois de levantadas as sanções americanas em 2015, em fevereiro de 2016 o Irão retomou as exportações de petróleo para a Europa, o que aconteceu pela primeira vez em 3 anos.

Logo em 2016 o PIB iraniano expandiu-se em 12%, para crescer 3,5% em 2017. Em função das sanções, o Fundo Monetário Internacional estima que a economia iraniana tenha encolhido 3,9% em 2018 e aponta para uma retração de 6% neste ano. A revista Economist acrescenta que no ano fiscal de 2018-2019, o PIB tenha caído 4,9% face ao período homólogo.

Dados citados pela Reuters ilustram o porquê desta trajetória: se em abril de 2018, o mês anterior à saída dos EUA do acordo entre o Irão e o P5+1, Teerão exportou 2,5 milhões de barris de cruze por dia (valor que poderia ser maior não fosse a degradação das infraestruturas do setor petrolífero provocada por largos anos de sanções), em maio passado esse valor recuou para um intervalo entre 400 mil e 500 mil barris.

Olhando apenas para as exportações para a China, estas atingiam os 590 mil barris por dia em novembro de 2018 e recuaram para apenas para 360 mil em maio.

Estes números refletem-se naturalmente na negociação de petróleo nos mercados internacionais - desde logo porque o Irão é o quinto maior produtor mundial da matéria-prima -, cujos preços têm crescido expressivamente. Na semana passada, o Brent negociado em Londres valorizou 5% e o WTI, transacionado em Nova Iorque, disparou acima de 10% (maior aumento semanal desde dezembro de 2016).

Dado o peso da comercialização de petróleo para a economia iraniana, esta está a ser fortemente afetada no seu conjunto. A inflação disparou 37% nos últimos 12 meses, com especial impacto no preço dos alimentos, e o rial iraniano desvalorizou 60%.

Também o desemprego retomou a tendência de crescimento verificada antes do acordo de 2015, que Trump considerou em diversas ocasiões ter sido o "pior acordo da história dos acordos".

Com empresas como a Daimler e a Total a fecharem operações no país dadas as sanções aplicadas ao setor automóvel iraniano, a taxa de desemprego cresceu para 12%. E a taxa de desemprego jovem ascende a quase 30%, o que é especialmente grave já que 60% da população iraniana tem menos de 30 anos de idade. Em paralelo, o nível de rendimentos iniciou uma trajetória descendente.

O cerco montado pelos EUA à economia iraniana impede ainda Teerão de constituir reservas monetárias adquirindo dólares e de comprar títulos da dívida soberana americana.

Perante o degradar da situação económica e um acordo nuclear aparentemente ferido de morte pela saída dos EUA, Teerão anunciou no mês passado que vai deixar de cumprir os limites estabelecidos no compromisso de 2015 já a partir do próximo dia 27 deste mês.

Se tal se confirmar e o Irão retomar a acumulação de urânio enriquecido, as sanções das Nações Unidas também serão repostas, o que deixaria a economia do país ainda mais bloqueada. O moderado primeiro-ministro iraniano, Hassan Rouhani, fala numa "guerra comercial" promovida por Washington - falta saber se a República islâmica instituída em 1979 terá condições para sobreviver a esta guerra ou se admite recorrer à força para tentar a sua sobrevivência. 

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