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Tensões geopolíticas ofuscam expectativa de corte de juros e abalam Wall Street
As bolsas do outro lado do Atlântico encerraram em baixa, pressionadas pela escalada das tensões entre os EUA e o Irão. O presidente da Fed justificou de novo os riscos económicos para um possível corte de juros, mas as fricções geopolíticas ofuscaram este discurso.
O Dow Jones fechou a ceder 0,67% para 26.548,15 pontos, depois de ontem ter estado muito perto de marcar um novo máximo histórico – o S&P 500 e o Nasdaq Composite já estabeleceram novos máximos de sempre este ano, mas o recorde do Dow remonta ainda a 3 de outubro de 2018, nos 26.951,81 pontos.
Também o Standard & Poor’s 500 cedeu terreno esta terça-feira, terminando a recuar 0,95% para 2.917,38 pontos. Por seu lado, o tecnológico Nasdaq Composite perdeu 1,51% para 7.884,72 pontos.
Na passada quinta-feira, o S&P 500 marcou um novo máximo histórico (com a perspetiva de um corte de juros pela Fed), mas entretanto a prudência dos investidores devido às tensões comerciais e geopolíticas tem impedido que continue a escalar posições esta semana.
Os investidores têm estado a contar com um cenário de flexibilização da política monetária – um corte de juros por parte da Fed é uma probabilidade já no próximo mês – num contexto de desaceleração da economia mundial. E hoje o presidente da Fed deu novas pistas nesse sentido.
Jerome Powell reiterou hoje, num discurso perante o Conselho de Relações Externas, em Nova Iorque, que há justificações para uma descida da taxa diretora devido ao facto de os riscos de contração da economia norte-americana se terem intensificado recentemente.
Esta expectativa tem animado os mercados, que contam com um corte de juros para revitalizar a economia do país, mas a escalada das tensões entre os EUA e o Irão pesou no sentimento dos investidores, que optaram por uma maior prudência na negociação bolsistas.
Depois de Trump ter anunciado no domingo que seriam aplicadas novas sanções ao Irão, o que intensificou os receios de um confronto militar, ontem o chefe da Casa Branca ordenou a imposição de novas e "pesadas" sanções contra o líder supremo da República islâmica, o respetivo gabinete e "muitas outras" figuras relevantes do país. Trump adiantou que as sanções a Teerão vão manter-se em vigor, e até serem intensificadas, até que o regime iraniano desista das suas "atividades [nucleares] perigosas".
Hoje, Teerão reagiu. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, descreveu a Casa Branca como "atrasada mental", um insulto que o Irão já usou no passado para se referir a Donald Trump. Rouhani garantiu que as sanções não vão afetar o líder Ayatollah Ali Khamenei porque este não tem ativos no estrangeiro, e disse que, para já, a sua estratégia será "paciente".
Entretanto Trump reagiu às declarações de Rouhani e assegurou que responderá a "qualquer ataque" iraniano com "uma força enorme e esmagadora" que pode escalar ao nível da "obliteração".
A compor o cenário de incerteza e expectativa estão as tensões comerciais entre Washington e Pequim, com os investidores à espera da reunião prevista para o final da semana entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, à margem da cimeira do G20 que vai ter lugar no Japão.
As cotadas do setor tecnológico - que contam grandemente com os negócios na China para garantirem parte das suas receitas - lideraram as perdas, depois de um responsável da Administração Trump ter dito à Bloomberg que os EUA não aceitarão novas condições relativamente às tarifas como parte de uma reabertura das negociações com a China e que não se espera um acordo comercial pormenorizado durante a reunião de Trump e Xi esta semana.
O chefe da Casa Branca tem, por sua vez, continuado a elogiar o desempenho dos principais índices de Wall Street. No sábado passado, depois de o S&P 500 ter atingido um novo máximo histórico na quinta-feira, 20 de junho, Trump escreveu na sua conta da rede social Twitter Trump que as bolsas norte-americanas estão a caminho de um dos melhores meses de junho da história dos EUA. Escreveu ainda, num outro tweet, que este será o melhor junho dos últimos 50 anos em Wall Street.
E se não é melhor, é por causa da Fed, acusa o presidente dos EUA. Com efeito, Trump disse que o Dow Jones já poderia estar "milhares de pontos" acima se a Fed "tivesse acertado", tendo acusado o banco central do país de não saber o que está a fazer e de se comportar como uma "criança teimosa".