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Apesar dos bombardeamentos norte-americanos, Kobani perto de ser controlada pelo Estado Islâmico

A estratégica cidade de Kobani, situada no norte da Síria e contígua à fronteira com a Turquia, permanece sob intensos confrontos desde segunda-feira e está perto de ser controlada pelas forças do Estado Islâmico (EI). O Presidente turco Erdogan assume isso mesmo e responsabiliza Washington pela força do EI. Entretanto os Estados Unidos garantem que o regime sírio de Assad continua a utilizar "sistematicamente" armamento químico.

Reuters
07 de Outubro de 2014 às 20:52
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Agudiza-se a crise no Médio Oriente com o avanço das forças do Estado Islâmico (EI), que estão perto de dominar a cidade síria de Kobani, localizada no norte do país junto à fronteira com a Turquia. Depois de esta segunda-feira elementos do EI terem hasteado a bandeira negra do Califado nas imediações de Kobani, e ao fim de 48 horas de combates, nem os bombardeamentos aéreos, executados esta terça-feira pelos Estados Unidos, parecem capazes de suster os extremistas sunitas.

 

Isso mesmo foi entretanto confirmado pelo Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que garantiu que "Kobani está prestes a cair". Mas a Turquia, que poderá ser ameaçada por este avanço, não parece disposta a reagir, pelo menos para já. Erdogan prefere responsabilizar os Estados Unidos cuja estratégia adoptada é de quem não percebe que "o problema criado pelo EI não pode ser solucionado somente com recurso a bombardeamentos".

 

Erdogan, que viu na semana passada o parlamento turco aprovar a intervenção militar do país contra o EI, junto da coligação internacional liderada por Washington, está sob protestos das minorias curdas que vivem na Turquia. Isto porque até ao momento o exército turco nada fez para impedir os avanços do EI até junto da sua própria fronteira. Foi o próprio Erdogan a garantir que Ancara faria "todos os possíveis" para assegurar que Kobani não fosse dominada pelos extremistas islâmicos. Istambul vive momentos críticos com o crescendo de manifestações curdas contra a inacção do Presidente.

 

Recorde-se que ao longo dos últimos dias, tal como noticiava no fim-de-semana a CNN, vários curdos têm atravessado a fronteira turca com a Síria a fim de se juntarem aos seus pares no combate ao EI. O Guardian nota que esta ofensiva sobre Kobani vem sendo preparada pelo menos desde Agosto. Um eventual controlo desta fronteira por parte dos extremistas sunitas garantiria uma redução da filiação de novos curdos no combate ao EI.

 

A intensidade sobe de escala e nem os ataques aéreos foram capazes de parar o avanço do EI que controla pelo menos três zonas da cidade, a partir das quais, segundo a BBC, efectuou os ataques. Um oficial curdo em Kobani disse, citado pelo Guardian, à agência AFP que os combates serão até ao fim. "Quer sejam eles a morrer, quer sejamos nós", afiançou.

 

Turquia numa encruzilhada

 

Pareceria lógico o interesse de Ancara em apoiar a coligação internacional na luta contra o EI, até porque a proximidade às suas fronteiras, das forças extremistas, pode ser ameaçadora. Mas, por um lado, a Turquia apenas considera adoptar uma posição mais activa na luta contra a presença do EI na Síria se os Estados Unidos incluírem na sua missão o objectivo claro do derrube de Bashar al-Assad, Presidente sírio.

 

Em 2013, nem os Estados Unidos nem a NATO intervieram directamente no conflito que opõe há longos meses Assad aos revoltosos. Washington adoptou então, em 2013, a estratégia de fornecimento de armamento de guerra aos rebeldes sírios, sendo que muito desse armamento é agora utilizado pelo EI tanto em solo sírio como iraquiano.

 

Ancara defende a criação de uma zona de exclusão aérea da Síria, o que obrigaria o Pentágono a atacar as defesas antiaéreas da Síria. Algo a que Washington não parece disposta, porque obrigaria a uma acção directa contra Assad, que colocaria novamente em causa a recente aproximação ao Irão e as relações com Moscovo e Pequim.

 

Por outro lado, a Turquia teme que manietar as forças do EI possa significar um último sopro necessário à concretização da vitória do regime de Assad na guerra civil que se vem arrastando. A Turquia permanece um importante foco de recruta de elementos por parte do EI, não apenas de cidadãos turcos extremistas mas também enquanto local de passagem para muitos ocidentais que encontram na Turquia o melhor acesso para se juntarem às fileiras dos extremistas islâmicos.

 

Washington acusa Assad de recurso a armamento químico

 

Depois da crise internacional espoletada em Agosto do ano passado, com a condenação de alegados ataques com recurso a armamento químico por parte das forças leais a Assad, o tema voltou agora a ser abordado pelos responsáveis norte-americanos.

 

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, acusou, esta terça-feira através de uma mensagem via Twitter, o regime de Assad de continuar a privilegiar "sistematicamente e repetidamente" ataques com recurso a armamento químico, contra os seus próprios cidadãos.

 

O Guardian refere que dados das Nações Unidos confirmam a existência, na Síria, de pelo menos quatro instalações onde permanece guardado arsenal químico. No passado mês de Agosto, as autoridades norte-americanas garantiam que estava terminado o processo de deslocalização e destruição do armamento químico sírio, processo que fora acordado ainda em 2013.

 

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem estado sob fortes críticas, nos últimos dias, na sequência da dimensão e potencial adquirido pelo EI. Tem sido colocada em causa a estratégia de combate a Assad, que passou pelo fornecimento de armamento aos rebeldes anti-Assad. Em causa esteve, no Verão do ano passado, a oposição, em sede do Conselho de Segurança da ONU, de Moscovo e da China a qualquer acção internacional de âmbito militar contra o regime sírio.

 

Washington encontra-se agora, tal como a Turquia, perante uma quadratura do círculo. Porque para combater o EI, tem que, para tal, apoiar, mesmo que indirectamente, o Presidente Assad. Isto num momento em que voltam a estar em causa os métodos bélicos utilizados por Assad, que caso se venha a confirmar o recurso a armas químicas configuram um desrespeito das convenções internacionais e regras do Direito Internacional. 

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