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Obama: "Yes we did", mas é preciso vigiar ameaças à democracia

No seu último discurso enquanto presidente dos EUA, Obama pediu vigilância perante as agressões externas mas também às que podem enfraquecer os valores da democracia norte-americana.

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11 de Janeiro de 2017 às 03:47
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O ainda presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu esta madrugada o legado dos seus oito anos enquanto chefe de Estado em áreas como o emprego, a saúde e a recuperação da recessão económica, mas deixou alertas sobre as ameaças que a democracia enfrenta, como a desigualdade de oportunidades, a divisão racial ou as verdades "selectivas".

Na sua última mensagem enquanto 44.º Presidente dos EUA - e a pouco mais de uma semana de passar o testemunho a Donald Trump – Obama discursou perante apoiantes em Chicago e pediu aos norte-americanos que fiquem vigilantes em relação às agressões externas mas também ao "enfraquecimento dos valores que fazem de nós o que somos".

"Adversários como a Rússia e a China só podem desafiar-nos se enfraquecermos no que somos. A nossa democracia está ameaçada sempre que a damos como garantida", afirmou durante a sua intervenção, que durou quase uma hora.

Com a primeira parte do discurso reservada ao que disse terem sido os progressos na reversão da Grande Recessão de 2008 -, com a recuperação da indústria automóvel, a criação de emprego, o acesso de milhões de cidadãos a cuidados de saúde -, e passos como a nova relação com o povo cubano ou o acordo para impedir a capacidade nuclear bélica do Irão, Obama passou depois aos avisos sobre as ameaças que pesam sobre os EUA e o mundo nos próximos anos.

"A nossa democracia não funciona sem que cada um tenha oportunidades económicas. Se não criarmos oportunidades para todos a desigualdade vai aumentar", alertou. Reconhecendo que o progresso feito nos últimos oito anos não foi suficiente e que não há remédios rápidos para esta "tendência de longo prazo", pediu depois um novo pacto social para travar a deterioração do mercado de trabalho. E sinalizou que futuras perdas de empregos não terão origem, como recentemente, fora do país, mas sim dos fenómenos de automatização.

Aquele que foi o primeiro presidente negro da história dos EUA pôs depois o dedo na ferida. Apesar de admitir que as relações raciais são agora melhores que há duas ou três décadas, o chefe de Estado disse que o preconceito continua a ser uma "força de divisão" na sociedade e que é contraproducente não querer investir em crianças imigrantes "só por serem diferentes de nós" uma vez que eles virão a representar uma fatia cada vez maior da classe trabalhadora.

Outro dos alertas deixados prendeu-se com a relativização da informação científica e da limitação das ideias em discussão, que segundo Obama ameaçam tornar impossível o compromisso e limitam a inovação. "Tornámo-nos tão protegidos dentro das nossas bolhas que só acreditamos na informação que convém às nossas opiniões em vez de nos basearmos nos factos", mencionando a este respeito as alterações climáticas, um fenómeno que tem sido questionado por Trump.

"Negar o problema não trai apenas as gerações futuras. Trai o espírito de inovação e de resolução de problemas," advertiu, apontando ainda o medo da mudança e da diferença como sinais de intolerância que é preciso ultrapassar.

Sobre as ameaças externas, defendeu que o reforço da vigilância dos serviços de inteligência permitiu deter "dezenas" de terroristas nos últimos anos, incluindo o "autor moral dos atentados do 11 de Setembro", Bin Laden (o nome foi referido duas vezes). E embora reconhecesse que esses desafios ao estilo de vida norte-americano continuam a existir, disse que só poderão vencer a América "se trairmos os nossos princípios". Por isso disse ser necessário o imperativo da lei para evitar conflitos internacionais e condenou a discriminação dos muçulmanos americanos, "que são tão patriotas como nós".

Numa intervenção que foi várias vezes interrompida por apoiantes que pediam mais um mandato ou vaiavam Trump – e aqui, uma vez mais, o ainda presidente pediu que contivessem as vaias e garantiu novamente uma transição tranquila para a nova administração -, Obama apontou a reforma das instituições democráticas como uma das vias para preservar os princípios que, disse, tornam o país na "mais rica, poderosa e respeitada nação do mundo".

"O nosso potencial só será realizado se a nossa democracia funcionar. Se a política reflectir a decência do nosso povo, se todos nós ajudarmos a restaurar o sentido de sentido comum de que precisamos", afirmou, desafiando os descontentes com o actual sistema político a envolverem-se e a comprometerem-se, propondo e protagonizando alternativas.

"Não pararei, estarei convosco como cidadão nos dias que me restam", prometeu, dizendo-se mais optimista do que quando chegou à Casa Branca, em 2008, porque disse que há uma nova geração que promete uma América melhor e inclusiva.

E fez um último pedido: "Acreditem não na minha mas na vossa capacidade de trazer a mudança. (...) Yes we can. Yes we did. Yes we can", rematou, recordando a frase com que fez a sua primeira campanha.

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