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México tem um ás na manga para negociar NAFTA com os EUA
Luis Videgaray está numa posição aparentemente impossível de invejar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano chegou na noite de terça-feira a Washington com a missão de renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês) com um governo Trump que apostou grande parte de sua reputação na promessa de reformar o acordo comercial e transferir empregos do México de volta aos EUA. Considerando o quanto o México beneficiou com o pacto assinado em 1994 - o excedente comercial anual do país com os EUA supera 60 mil milhões de dólares - a sensação geral é que Videgaray não tem muito peso nas negociações e que acima de tudo cederá terreno para os seus colegas americanos.
Mas Videgaray pode ser um negociador formidável. No México, o economista de 48 anos formado no MIT é visto há tempos como o mestre da estratégia por trás da chegada do presidente Enrique Peña Nieto ao poder. Também estabeleceu um relacionamento forte com Trump, que o descreveu como um "homem maravilhoso", e com o genro e assessor sénior de Trump, Jared Kushner. Além disso, pode ter na manga uma carta que tem sido ignorada: a segurança.
Se o México deixar de cooperar com os EUA no combate ao tráfico de drogas ou no contra-terrorismo, poderá paralisar uma administração que fez da segurança fronteiriça outra das suas maiores prioridades, tendo até escolhido apresentar o plano de construir um novo muro precisamente quando o contingente mexicano estava a começar a trabalhar em Washington.
Videgaray insinuou sua estratégia na segunda-feira, quando disse ao canal de televisão Televisa que "esta não pode ser uma negociação em que só se discute o comércio".
"Há muitas áreas em que os EUA precisam da cooperação do México, como a segurança e a imigração", disse.
Reuniões
Videgaray reuniu-te com o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Michael Flynn, no primeiro dia de sua viagem de dois dias e tinha agendada uma reunião com Kushner nesta quinta-feira, segundo um assessor da Casa Branca que pediu anonimato. O Ministério das Relações Exteriores do México afirmou que também espera que o assessor comercial dos EUA, Peter Navarro, e o chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, estejam envolvidos nas negociações. Videgaray é acompanhado pelo ministro da Economia, Ildefonso Guajardo.
Excepto os comentários sobre segurança feitos por Videgaray na segunda-feira, as autoridades mexicanas nada falaram sobre os seus planos de negociação, e assim continuaram após o primeiro dia de reuniões em Washington. Anteriormente, insinuaram que estão preparadas para ampliar o acordo de modo a incluir sectores como o comércio online e a energia.
Trump poderia exigir mudanças que aumentem a proporção de veículos fabricados nos EUA, seja com tarifas ou com normas que exijam que uma maior parte das peças provenha da América do Norte. Peña Nieto e Videgaray foram inflexíveis em que a América do Norte deve continuar isenta de impostos, e os planos de Trump poderiam colocar em risco um sector automóvel que acelerou nos últimos anos no México.
"Ele é uma pessoa que não desiste", disse Duncan Wood, director do Mexico Institute no Woodrow Wilson International Center for Scholars em Washington. "Tem um intelecto extraordinário que não deveria ser desconsiderado."