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Bloco e PCP rejeitam chantagem de Costa no Orçamento antes de reunirem com governo

Depois de ouvirem o primeiro-ministro afastar um cenário de crise política e de defender que o Orçamento do Estado para 2021 só pode ser chumbado se Bloco de Esquerda e PCP se juntarem à direita, bloquistas e comunistas avisam que não cedem a chantagens.

Os contactos entre Governo, Bloco de Esquerda e PCP visando a viabilização da proposta de orçamento prosseguiram durante todo o fim-de-semana.
António Cotrim/Lusa
20 de Outubro de 2020 às 12:54
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É crispado o tom da troca de palavras entre o primeiro-ministro e os ex-parceiros da geringonça na antecâmara de uma nova ronda de reuniões para tentar aproximar posições que garantam a aprovação do Orçamento do Estado para 2021 (OE2021).

Bloco de Esquerda e PCP reagiram esta manhã à entrevista de António Costa concedida na véspera à TVI, avisando que não vão ceder a chantagens e mantendo a pressão para forçar o Governo a ceder nas negociações.

Após ter assumido em mais do que uma ocasião que o chumbo do orçamento poderia desencadear uma crise política, o primeiro-ministro pôs agora de parte esse cenário com a garantia de que não irá voltar as costas ao país em plena crise.

No entanto, António Costa recordou as contas para a aprovação do OE2021 e notou que o documento só poderá ser chumbado se bloquistas e comunistas se juntarem à direita.

Antes, o primeiro-ministro tinha explicado não entender como os antigos parceiros da geringonça poderão votar contra um orçamento que não recua em nenhum dos avanços conseguidos na anterior legislatura. E que além de dar continuidade a esse caminho, num contexto de crise garante uma atenção especial à vertente social e ao apoio ao emprego e aos rendimentos.

Estas palavras não foram bem recebidas à esquerda. Em entrevista à rádio Observador, Catarina Martins considerou que "a chantagem do primeiro-ministro é inaceitável em democracia". "Acho inaceitável. Agora, de cada vez que o PS não negoceia, diz que a esquerda se juntou à direita? Isto não é sério em democracia", declarou a líder do BE.

E depois de ouvir Costa admitir governar em duodécimos no próximo ano se o orçamento for chumbado, a coordenadora do Bloco disse que isso seria uma "irresponsabilidade" e que, para evitar tal hipótese, o Governo poderia sempre "apresentar outro".

Estas declarações de Catarina Martins afastam o cenário de governação em duodécimos admitido, também ao Observador, como uma situação perfeitamente normal pelo deputado bloquista José Manuel Pureza.

Contrastando com o clima de menor crispação entre Governo e PCP observado nas últimas semanas, o líder parlamentar comunista também reagiu mal à constatação feita pelo primeiro-ministro.

Em declarações concedidas esta manhã à TSF, João Oliveira considera que as palavras de Costa "encaixam numa narrativa de chantagem e de ameaça que tem marcado uma parte do enquadramento da discussão do OE".

"Julgo que o primeiro-ministro tenha noção de que o PCP não se deixa influenciar por esse tipo de discurso e por esse tipo de atitude", prosseguiu João Oliveira antes de concluir que a proposta de orçamento do Governo "não corresponde às necessidades do país, nem dá resposta às novas situações criadas pela epidemia".

PAN e PEV também mostram insatisfação
Os outros parceiros preferenciais com que o Governo tem vindo a negociar o orçamento também denunciam insatisfação relativamente à proposta entregue ao Parlamento na semana passada. Inês Sousa Real, líder da bancada parlamentar do PAN, avisa ser "bastante difícil" que o partido possa votar a favor do OE2021 tal como está. Ao Expresso, a deputada diz que, "neste momento, não está afastada a possibilidade de votarmos contra", ficando à espera de ver "abertura" da parte do Governo para concretizar em atos as garantias dadas. 

Já o PEV reagiu, também à TSF, através do deputado José Luís Ferreira, assegurando que o partido irá "insistir" junto do Executivo para que integre no documento as propostas feitas pel'Os Verdes. "O que está em cima da mesa é muito pouco", alertou o deputado ecologista lamentando que a proposta do Governo contenha somente "duas ou três" das cerca de três dezenas de medidas pretendidas pelo aliado eleitoral do PCP.

Ao longo do dia de hoje, António Costa vai receber, em São Bento, representantes do Bloco, PCP e PAN em mais uma tentativa de aproximar posições quanto ao OE2021. O Negócios apurou que o encontro com os comunistas deverá ser realizado já ao final da tarde, ficando a reunião com os bloquistas para a parte da noite. Para quarta-feira está ainda previsto um encontro entre o Governo e o PEV. 

O debate do OE2021 começa a 27 de outubro, sendo que a votação na generalidade da proposta está marcada para o dia seuginte, 28 de outubro. O Bloco já anunciou que decide o sentido de voto na generalidade na reunião da Mesa Nacional prevista para 25 de outubro.

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