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Draghi: Populismo já está a debilitar o projecto europeu

O presidente do Banco Central Europeu (BCE) mostrou-se preocupado com as consequências que os movimentos populistas podem ter no projecto europeu, numa entrevista publicada esta quarta-feira no El País.

8º Mario Draghi, 602 notícias - O BCE continuou este ano a ter um papel determinante no rumo dos mercados, com várias decisões relevantes a mexerem nos mercados. O presidente da autoridade monetária foi citado em mais de 600 notícias do Negócios este ano.
Reuters
30 de Novembro de 2016 às 15:11
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Mario Draghi diz que a integração europeia se tem vindo a debilitar nos últimos tempos e receia o impacto que os movimentos populistas poderão provocar no projecto europeu. Em entrevista ao El País, o presidente do BCE afirma que esses movimentos criam incerteza política e que não é possível aferir as consequências que vão provocar no projecto europeu. Especialmente porque há outros factores de incerteza a aparecerem ao mesmo tempo, como o Brexit e as eleições nos Estados Unidos, que deram a vitória a Donald Trump.

 

Questionado sobre se o populismo em geral põe em risco a democracia liberal a nível internacional, Draghi não diz que não. "A pergunta-chave é se vão afectar os nossos valores europeus e de que maneira, e o que faremos para proteger esses valores", responde. "As principais preocupações dos cidadãos da União Europeia são agora a imigração, a segurança anti-terrorismo, a defesa e a protecção das fronteiras. Tudo assuntos supranacionais que requerem uma resposta comum", defende.

 

A integração europeia "é a resposta adequada" a essas preocupações, mas "ela ficou muito debilitada nos últimos tempos, em parte por causa dos populismos", explica. Por isso, "é cada vez mais difícil avançar na integração", lamenta. Por outro lado, "ao mesmo tempo os cidadãos querem políticas europeias em matéria de segurança e defesa. Isso também é uma forma de construir Europa".

 

O italiano Mario Draghi assume que a "incerteza política é dominante" e lembra que este ano houve já um conjunto de situações que aumentam a incerteza: "primeiro a desaceleração da China e a estagnação do comércio mundial", depois o "referendo do Brexit" e "as eleições nos Estados Unidos". O impacto destes fenómenos é uma incógnita. "A questão-chave é em que medida essa incerteza política vai afectar a recuperação económica".

 

Para já, a resposta tem sido, a curto prazo, mais "moderada do que esperávamos". "Num primeiro momento vimos uma reacção bastante acentuada dos mercados, que depois recuperaram para o nível anterior ao evento que a desencadeou", observou. A médio e longo prazo é que "não é claro" quais serão as consequências das actuais incertezas políticas. Mas que vai haver, "não há dúvida".

Bancos devem ter almofadas para prevenir problemas

 

Mario Draghi disse confiar que o sector financeiro, incluindo o bancário, é agora "mais resistente" do que antes da crise financeira. Mas uma das lições da crise é, precisamente, a necessidade de "reforçar o sistema bancário". "O capital de máxima qualidade passou de 7% antes da crise para cerca de 14%", exemplifica. Para evitar novos problemas na banca, é preciso criar almofadas.

 

"Durante a crise, todo o mundo insistia que os contribuintes deviam deixar de pagar os excessos do sector financeiro, os erros dos bancos", lembra. Isso "traduziu-se na directiva da resolução", que "deixam margem de interpretação" à Comissão Europeia. "Deixe-me dizer que a melhor protecção contra regras que exigem que os credores participem nos resgates bancários", que "costuma estar associado a graves problemas económicos e políticos", é ter "reservas financeiras para o caso de haver problemas".

 

Essas almofadas devem conter "activos que possam ser usados facilmente para absorver perdas". "Isso é fundamental", insiste, e não se aplica apenas à banca – é uma lição da crise para todos os países. "É preciso criar margem orçamental para poder usá-la quando vier outra crise". Quem tiver essa margem "pode usá-la". Quem não tiver "só vai conseguir mudar a composição do orçamento: menos despesa, impostos mais baixos e mais investimento público bem dirigido para aumentar a produtividade do país".

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