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Furacão Varoufakis deixou marcas na Europa

Yanis Varoufakis demitiu-se depois de menos de meio ano à frente do Ministério das Finanças grego. Coleccionou mais ódios do que conquistas diplomáticas, mas sai depois de uma grande vitória interna no referendo de ontem.

Reuters
06 de Julho de 2015 às 10:42
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T-shirt cinzenta e capacete na cabeça. É essa a última imagem que temos de Yanis Varoufakis como ministro das Finanças grego. Saiu de cena como viveu os cinco meses à frente dos destinos económicos do País: nos seus próprios termos. Neste caso, de mota. Para o bem ou para o mal, a sua presença deixou marcas na Europa.

 

Há poucos dias, Varoufakis tinha dito que preferia cortar um braço a assinar um acordo que não tenha um alívio do endividamento do Estado grego. Nunca saberemos se o faria. Apesar de o "não" ter vencido o referendo de ontem por larga margem e o Governo ter ganho argumentos para a negociação com os credores, o professor da Universidade do Texas decidiu demitir-se.

 

"Logo após o anúncio dos resultados do referendo, fiquei ciente de uma certa preferência de alguns participantes do Eurogrupo e de variados 'parceiros' pela minha...'ausência' nestes encontros", escreveu esta manhã no seu blogue. "Uma ideia que o primeiro-ministro considera potencialmente útil para chegar a um acordo. Por esta razão deixo hoje o Ministério das Finanças."

 

Usarei com orgulho a repugnância dos credores por mim.
 
Yanis Varoufakis

 

Mesmo na declaração final, o seu tom foi desafiante: "Usarei com orgulho a repugnância dos credores [por mim]."

 

Nos últimos meses, tornou-se claro que a presença de Varoufakis nas reuniões europeias era cada vez mais desprezada pelos restantes estados membros, constituindo-se como um obstáculo mais do que uma ajuda à existência de um acordo. O próprio ministro não o escondia. Em Abril citou o antigo Presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt para mostrar como as relações diplomáticas com os seus parceiros estavam difíceis. "Eles são unânimes no seu ódio por mim e eu congratulo-me pelo seu ódio."

 

Cabelo rapado, casacos de cabedal, mochila em vez de pasta e uma Yamaha 1300 cc entre as pernas. Em cinco meses, Varoufakis comportou-se com uma informalidade que nenhum outro ministro das Finanças europeu se atreveu a assumir. Dava muitas entrevistas, falava regularmente pelo Twitter - durante algum tempo até escrevia posts no blogue - e divulgava o conteúdo de reuniões anteriormente sigilosas. Dependendo de a quem perguntar, a sua postura pode ser vista como uma lufada de ar fresco na Europa, um académico competente, bom orador e pouco disposto aos jogos políticos; ou… como um intelectual arrogante, pouco preparado para a luta política e com deficientes capacidades diplomáticas.

 

O homem que lutou pelo fim da austeridade na Grécia? Ou o responsável por deixar o povo grego a ter de contar as notas que levanta no multibanco?

 

A verdade é que o seu estilo lhe permitiu marcar pontos dentro de portas. No exterior, por vezes foi capaz até de alienar aqueles que poderiam ser seus aliados. O Financial Times lembra que, na primeira visita que fez a Roma como ministro das Finanças, afirmou publicamente que a dívida italiana era insustentável, o que levou a uma repreensão do seu homónimo Pier Carlo Padoan.  

 

O percurso de Varoufakis também não foi ausente de percalços mediáticos. Talvez o mais conhecido tenha sido a reportagem feita pela Paris Match, que foi a sua casa fotografá-lo a tocar piano ou a posar com a mulher no terraço com vista para a Acrópole. Imagens estranhas para quem estava à frente de um país à beira de uma crise humanitária.

 

 

Varoufakis designava-se como um "marxista errático". Filho de um grande industrial grego, estou nas universidades gregas de Essex, East Anglia e Cambridge. Há 17 anos mudou-se para a Austrália, tendo actualmente dupla nacionalidade. Regressaria à Grécia em 2000 para dar aulas na Universidade de Atenas. Há dois anos foi contratado pela Universidade do Texas, em Austin.

 

Para o lugar do iconoclasta ministro das Finanças grego deverá ser escolhido um nome mais moderado dentro do Syriza - fala-se de Euclid Tsakalotos -, mas as dificuldades da Grécia serão as mesmas. 

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