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FMI deixa elogios ao novo Governo grego e aproveita para criticar reta final de Tsipras
Os técnicos do Fundo consideram que o atual Governo grego está a dar os passos necessários para melhorar a economia, mas continuam a pedir que as metas do excedente primário sejam menos ambiciosas.
Num tom pouco habitual nos documentos do Fundo Monetário Internacional (FMI), os técnicos da instituição de Washington elogiam praticamente em toda a linha a estratégia do novo Governo liderado por Kyriakos Mitsotakis (do partido de centro-direita Nova Democracia, que faz parte do Partido Popular Europeu). Mas reconhecem que a tarefa é "difícil" e que a meta do excedente primário limita o crescimento, lê-se na análise preliminar divulgada esta sexta-feira, 27 de setembro, à economia grega ao abrigo do Artigo IV.
"O novo Governo está corretamente a dar prioridade ao crescimento mas enfrenta uma batalha difícil", afirma o FMI no comunicado preliminar do fim da visita a Atenas, referindo que o atual Executivo "herdou uma recuperação económica tépida" agravada pelo "legado da crise". Em causa estão os elevados níveis de dívida pública, de crédito malparado e de endividamento da economia; a baixa produtividade, a "escassez" de investimento e a demografia adversa.
A Grécia saiu do programa de ajustamento em agosto de 2018 e continuou a ser governada por Tsipras até julho, mês em que Mitsotakis ganhou as eleições com maioria absoluta. O FMI critica o anterior Governo por ter "suspendido" as reformas orçamentais estruturais, por ter "cancelado" a reforma das pensões e do imposto sobre o rendimento dos particulares que já estava pré-legislado e por ter "revertido elementos-chave" da reforma laboral de 2011-13 e dos esforços para ampliar a base de incidência fiscal e fortalecer a cultura de pagamento de impostos.
"Novo Governo merece crédito"
A linguagem usada pelo FMI para o novo Governo é bem diferente, sendo este elogiado em toda a linha na ação de pouco mais de dois meses. "O novo Governo merece crédito por ter desbloqueado as privatizações e por ter forçado a digitalização e desregulamentação para as empresas", escrevem os técnicos, dando nota positiva às propostas para a banca e para o direito laboral. No entanto, o futuro não é assim tão risonho.
O FMI prevê que o PIB cresça "cerca de" 2% em 2019 e 2020, desacelerando para um crescimento de 0,9% no longo-prazo. Com este ritmo de crescimento, "levará outra década e meia para que o rendimento real per capita [da Grécia] atinja os níveis pré-crise", avisam.
Assim, tal como o Fundo tem defendido nos últimos anos, os técnicos defendem que é necessário reduzir a meta do excedente primário (3,5% do PIB) acordado entre os credores europeus e a Grécia dado que afeta o crescimento por não permitir executar o investimento público necessário. O FMI pretende que a despesa pública seja redirecionada para "fortalecer" o crescimento económico ao se focar no investimento e na inclusão social.
Contudo, não é expectável que existe essa margem para negociar uma meta mais baixa. Na reunião de julho do Eurogrupo, os ministros das Finanças da Zona Euro afastaram essa possibilidade, mantendo-se os compromissos já assumidos. Esta sexta-feira o jornal grego Ekathimerini noticia que o Grupo de Trabalho do Eurogrupo (entidade que prepara as reuniões dos ministros) foi numa missão à Grécia e revelou ter "reservas" quanto à capacidade do país para cumprir as metas orçamentais acordadas com Bruxelas e previstas na proposta do Orçamento do Estado para 2020.
As opiniões expressas neste comunicado preliminar apenas vinculam a equipa do FMI e não o conselho executivo do Fundo. Com base nesta visita, a equipa prepara um relatório completo que terá de passar pelo crivo do conselho executivo, sendo posteriormente publicado.