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FMI alerta que instabilidade em Itália pode contagiar banca e pede reformas

O relatório de Estabilidade Financeira do Fundo sinaliza como preocupante a instabilidade política que se vive na Itália e alerta para o risco de contágio para o sector financeiro transalpino e restante banca da área do euro. Moody’s nota que política financeira de Roma "vai reflectir-se também nas próximas avaliações das agências de rating".

Presidente do BCE: Christine Lagarde
EPA
10 de Outubro de 2018 às 13:25
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Somam-se os avisos para os riscos associados às prioridades orçamentais do governo italiano que, seja como for, garante não recuar face à intenção de promover uma política promotora do crescimento e criação de emprego. Desta feita coube ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório de Estabilidade Financeira Global divulgado esta quarta-feira, 10 de Outubro, alertar para o risco de contágio da situação italiana para o conjunto do sistema financeiro da Zona Euro e global.


Começando por notar a relação directa entre endividamento público e o sector financeiro, a instituição liderada por Christine Lagarde aponta a instabilidade política transalpina como um dos factores de risco para o sistema financeiro global e para a área do euro, a par da maior fragilidade das economias emergentes e da tensão comercial.

"Na Itália, as incertezas políticas chamaram à atenção para a relação entre a banca e a dívida soberana", lê-se no relatório em que o Fundo alerta para os perigos da presença nos balanços dos bancos de obrigações soberanas, o que cria "um significativo canal de transmissão de risco".


Durante a apresentação do relatório, o economista-chefe da instituição, Maurice Obstfeld, citado pelo Il Sole 24 Ore, diz que "é imperativo a política orçamental manter a confiança dos mercados" e nota que "vimos já um aumento dos spreads", o que deixou Itália mais vulnerável. "É importante que o governo [italiano] respeite as regras europeias", concluiu.  


Para um país com uma dívida tão elevada como a da Itália (a segunda maior da Zona Euro), o FMI recomenda políticas tendentes à consolidação das contas públicas e à prossecução das chamadas reformas estruturais. Para o director do departamento de assuntos orçamentais do Fundo, o português Vítor Gaspar, segundo refere o La Repubblica, estas reformas devem passar pelo sector do trabalho e serviços bem como por uma reforma abrangente do peso e funcionamento da administração pública transalpina.
O crescimento da economia italiana "desilude há muitos anos", acrescenta Gaspar.


No entanto, esta é precisamente uma das questões-chave para o governo de coligação entre o 5 Estrelas e a Liga, que defende menor atenção ao défice e à dívida e mais dinheiro para investimento que ajude o país a crescer.


Governo italiano mantém intransigente e… dividido


Apesar dos alertas e da disputa já em curso com a Comissão Europeia que avisa para o "desvio significativo" entre as metas orçamentais de Roma face às regras europeias e aos objectivos inscritos no Programa de Estabilidade, o executivo transalpino insiste em défices superiores de forma a financiar as promessas eleitorais.


No entanto, tal como foi sendo observado ao longo do Verão, mesmo no governo italiano persistem divisões. Elementos tecnocratas, com o ministro das Finanças Giovanni Tria à cabeça, defendem um orçamento que não ponha em causa a trajectória de redução da dívida pública e os líderes partidários e números dois do governo (Matteo Salvini da Liga e Di Maio do 5 Estrelas) a insistirem no aumento da despesa para financiar os respectivos cavalos de batalha eleitorais.


Entretanto, esta manhã Giovanni Tria assegurou que o plano orçamental para 2019 está a ser delineado "no quadro da União Europeia", com sete mil milhões de cortes e oito mil milhões de aumentos da receita a garantirem a cobertura do reforço dos gastos previstos com medidas como o rendimento de cidadania para os mais pobres ou o corte de impostos.


Ora, a propósito do corte de impostos (a flat tax prometida por Salvini) surgiu novo foco de tensão num executivo em funções há menos de meio ano. Giovanni Tria disse hoje no parlamento que estão previstos 600 milhões de euros para financiar o corte de impostos (que em 2019 deverá avançar apenas para as empresas, ficando as famílias para 2020), mas Salvini veio prontamente garantir que esta medida custará mais de 1,7 mil milhões de euros ao orçamento do próximo ano.


Outro aviso feito esta quarta-feira veio do economista-chefe da Moody’s Analytics (filial da agência de notação financeira Moody’s), Mark Zandi, que assumiu ser "lógico esperar que as preocupações manifestadas estes dias pelos mercados sobre Itália vão reflectir-se também nas próximas avaliações das agências de rating".


Sobre as ameaças das agências, Di Maio
recorda que "já o fizeram no passado, e as investigações de alguns procuradores corajosos mostraram que os cortes de ‘rating’ foram completamente infundados e algumas pessoas lucraram com isso".

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