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Embate Roma-Bruxelas leva juros italianos para máximos de 2014
Depois de a Comissão Europeia ter enviado uma carta para o ministro italiano das Finanças a alertar para o "desvio significativo" das metas orçamentais face ao acordado com Bruxelas, Di Maio reiterou que o défice da Itália vai mesmo aumentar. Juros disparam para máximos de 2014 e bolsa afunda para mínimos de mais de um ano.
À medida que se aproxima a data prevista para a entrega, em Bruxelas, das propostas orçamentais dos governos europeus, cresce de tom a contenda em curso entre Itália e a Comissão Europeia.
E para lá da disputa retórica entre membros do governo transalpino e dirigentes europeus, as novas prioridades de Roma fazem sentir-se nos juros da dívida pública italiana (máximos de Fevereiro de 2014) e na bolsa de Milão (mínimos de Abril de 2017).
Este domingo, em entrevista ao Corriere della Sera, o vice-primeiro-ministro e líder do Movimento 5 Estrelas, Luigi Di Maio, reiterou que em 2019 o défice orçamental da Itália será de 2,4%, um valor bem acima dos 0,8% inscritos no Programa de Estabilidade enviado pelo anterior executivo em Abril para Bruxelas.
Uma vez mais, é nos mercados que se fazem sentir as consequências do embate entre as autoridades transalpinas e as instâncias europeias. Os juros da dívida pública italiana avançam em todos os prazos, com a "yield" associada aos títulos com prazo a 10 anos a escalarem 15,3 pontos base 3,577%, estando acima dos 3,5% pela primeira vez em mais de quatro anos.
Já a bolsa de Milão (FTSE MIB) recua 2,20% para mínimos de Abril de 2017, fortemente pressionada pelos títulos do sector financeiro: Banco BPM (-5,92%), Unicredit (-4,85%) e Intesa Sanpaolo (-3,81%) transaccionam em mínimos de Dezembro de 2016, período marcado pela instabilidade provocada pela demissão do então primeiro-ministro Matteo Renzi.
O efeito da apreensão dos investidores faz-se sentir na generalidade das principais bolsas europeias, com, por exemplo, o índice lisboeta PSI-20 a recuar para mínimos de Setembro de 2017 e o índice de referência Stoxx 600 a negociar no valor mais baixo do último mês.
Di Maio respondia assim à carta recebida na sexta-feira pelo ministro italiano das Finanças, Gioavanni Tria. A missiva endereçada pelo comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, e pelo vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, alertava Roma para o "desvio significativo" entre as novas metas orçamentais e as regras europeias.
"A revisão das metas orçamentais italianas apontam à primeira vista para um desvio significativo relativamente à trajectória orçamental", lia-se na missiva endereçada a Tria. No sábado, o próprio presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, apelou ao governo chefiado por Giuseppe Conte para não entrar em rota de colisão com as regras europeias, e assim evitar a aplicação de sanções.
Mas, aparentemente, os avisos feitos por Bruxelas caíram em saco roto. Recuperando o discurso anti-sistema e eurocéptico do 5 Estrelas, Di Maio acusou "os media e a União Europeia" de quererem derrubar um governo italiano legitimamente eleito e prometeu que as eleições europeias de 2019 vão provocar "um terramoto político na Europa".
"Faremos novas regras [europeias] no dia seguinte às eleições", prosseguiu Di Maio num claro desafio lançado contra o status quo europeu. O líder do 5 Estrelas promete ainda para breve o fim da austeridade e políticas amigas do crescimento económico. E já na manhã desta segunda-feira, Matteo Salvini, líder da Liga e também vice-primeiro-ministro, acusou Moscovici e Juncker de serem os principais inimigos da Europa.
Depois de há uma semana o Eurogrupo ter chumbado as pretensões italianas relativas ao défice, que pretendiam fixá-lo nos 2,4% do PIB ao longo dos próximo três anos, a pressão dos mercados e de Bruxelas levou Roma a ceder, baixando as metas para o défice em 2020 e 2021.
No entanto, o executivo de Conte mantém-se irredutível quanto ao défice de 2019, que fixa em 2,4%, por forma a acomodar as principais promessas eleitorais (rendimento de cidadania para os mais pobres, reforma ao sistema de pensões, corte de impostos e um programa de investimento público em infra-estruturas).