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Von der Leyen confirmada líder da Comissão com agenda para unir cacos

A conservadora alemã foi confirmada à risca pelo Parlamento Europeu como presidente eleita da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen, que ficou longe de garantir o pleno do apoio das famílias políticas pró-europeias, aposta num programa destinado a colar os cacos de um projeto de integração que nunca esteve tão fragmentado.

Reuters
David Santiago dsantiago@negocios.pt 16 de Julho de 2019 às 18:21
Depois de se ter tornado na primeira mulher ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen será também a primeira mulher a presidir à Comissão Europeia. O Parlamento Europeu confirmou esta terça-feira que a conservadora alemã será a próxima líder do órgão executivo da União Europeia. 

A ainda ministra alemã da Defesa (demite-se esta quarta-feira) recolheu o apoio de 383 deputados do plenário europeu, apenas mais nove votos do que o mínimo de 374 apoios que garantiam a maioria absoluta necessária à confirmação do nome indicado pelo Conselho Europeu para a sucessão de Jean-Claude Juncker no posto mais relevante da hierarquia comunitária. 

Votaram contra 327 eurodeputados, tendo ainda sido registadas 22 abstenções e um voto nulo. A alemã licenciada em medicina deverá iniciar já a 1 de novembro um mandato de cinco anos à frente da Comissão. Antes disso, terá de definir o elenco da próxima Comissão Europeia e, nesse sentido, o recém-eleito presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, sublinhou que vai pedir desde já aos líderes europeus e à presidente eleita da Comissão que cheguem a acordo sobre os nomes a propor para as diferentes pastas.

Só depois o PE se pronunciará quanto ao conjunto da próxima Comissão Europeia (presidente, vice-presidentes, Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e restantes comissários), sendo necessária uma aprovação por maioria dos votos expressos na sessão plenária marcada para entre 21 e 24 de outubro.

Von der Leyen já garantiu "total igualdade de género" no futuro colégio de comissários, prometendo pedir "novos nomes" no caso de os Estados-membros não avançarem com o número suficiente de comissárias, e assegurou que os "spitzenkandidaten" (candidatos preferenciais) dos socialistas e liberais, Frans Timmermans e Margrethe Vestager, respetivamente, serão, no mesmo patamar, os dois primeiros vice-presidentes da sua Comissão, ficando a terceira vice-presidência (atribuída por inerência) para Josep Borrel, o nome acordado para próximo chefe da diplomacia europeia.

Esta confirmação valida ainda o restante "pacote" de nomes negociados pelos líderes europeus na distribuição dos lugares de topo das instituições europeias: Christine Lagarde é recomendada para líder do Banco Central Europeu; o primeiro-ministro belga, Charles Michel, já eleito como presidente do Conselho Europeu; e Sassoli já em funções como presidente do Parlamento Europeu.

Coube a David Sassoli anunciar o "êxito do escrutínio" e passar a palavra a uma Von der Leyen "muito honrada" pela "confiança" nela depositada e a prometer lutar por uma "Europa unida". A alemã defendeu ainda que esta votação mostra a "confiança numa Europa preparada para lutar pelo futuro e entre si própria" e apelou a que todos a ajudem a "trabalhar em conjunto e construtivamente". 

Unir uma Europa fragmentada

A vontade de unir com vista a uma "Europa forte" é a premissa-chave da presidente eleita da Comissão. Porém, Von der Leyen vai dar os primeiros passos na chefia do executivo comunitário com base numa votação cuja principal indicação é a confirmação da fragmentação do plenário europeu. Ficando assim aquém do sinal político de apoio inequívoco que lhe daria melhores condições para representar a UE no plano das relações externas.


Foi precisamente esta polarização que inviabilizou, em grande medida, o processo do candidato preferencial apresentado por cada grupo europeu e que levou a duas cimeiras marcadas por impasses vários na "dança de cadeiras" dos cargos mais relevantes da UE. E que, em última instância, fez surgir o nome de Ursula von der Leyen.

Apesar do apoio dos deputados do PPE (conservadores onde estão PSD e CDS) e dos liberais (Renovar a Europa, onde está o partido do presidente francês Emmanuel Macron, que esteve na linha da frente de apoio a Von der Leyen), a presidente eleita da Comissão ficou longe de mobilizar os socialistas (S&D, onde está o PS). Segundo antecipava o Politico, várias delegações socialistas, entre as quais da Alemanha, Holanda e França, iam votar contra o nome proposto pelo Conselho. 

Para tentar unir as diversas pontas soltas e obter o apoio de socialistas e liberais, no discurso feito esta manhã para convencer os eurodeputados a votarem favoravelmente o seu nome, Ursula von der Leyen prometeu apresentar uma proposta para criar um Esquema Europeu de Desemprego. Esta ideia foi discutida no âmbito da reforma da Zona Euro, mas caiu devido à rejeição, em particular por parte dos países do centro e norte europeus defensores do rigor orçamental, a qualquer aproximação a uma união de transferências. 

Aberta a mudanças nos tratados, defendeu também um salário mínimo que assegure um rendimento "justo" para todos os cidadãos europeus, outra das medidas que os socialistas defendem para reforçar a coesão e a convergência na área do euro mas que ficou de fora da reforma da moeda única.

Ante as violações às regras democráticas, em concreto pela Polónia e Hungria, Von der Leyen é a favor de um mecanismo adicional de salvaguarda do Estado de Direito. E para responder aos anseios relacionados com a emergência climática, Von der Leyen sinalizou o ambiente como prioridade e, como tal, propõe reduzir as emissões de CO2 para 55% em 2030, e prometeu avançar com a primeira lei ambiental europeia nos primeiros 100 dias como presidente da Comissão. 


(Notícia atualizada às 19:35)
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