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Trabalhistas afastam acordo com May sobre Brexit porque governo vai "colapsar"

Ao cabo de mês e meio de negociações que se arrastavam sem avanços concretos, o Partido Trabalhista considera não existirem condições para fechar um acordo entre os dois maiores partidos britânicos com vista ao Brexit dado que em poucas semanas já não será Theresa May a primeira-ministra nem a líder dos "tories".

David Santiago dsantiago@negocios.pt 17 de Maio de 2019 às 11:19

Conservadores e trabalhistas não vão conseguir alcançar nenhum tipo de acordo sobre os termos da saída da União Europeia, nem sobre a relação futura entre Londres e Bruxelas, garantem diversas fontes do "Labour" citadas pela BBC e pela Reuters.

"Nesta fase existem zero hipóteses de alcançar um acordo. Não podemos fechar um acordo com um governo que está prestes a colapsar", afirmou uma fonte trabalhista à Reuters.

Após cerca de um mês e meio, as conversações entre equipas dos "tories" e do partido liderado por Jeremy Corbyn não permitiram desbloquear o impasse em torno dos termos jurídicos que devem enquadrar o Brexit e do modelo de relação futura entre os dois blocos.

Agora os trabalhistas consideram não existirem condições para continuar a negociar já que dentro de poucas semanas Theresa May deixará de ser primeira-ministra e líder do Partido Conservador.  

No entender de outro trabalhista, Hilary Benn, líder do partido no comité parlamentar para o Brexit, se as negociações com os conservadores fracassarem sobram apenas dois caminhos: "Ou o parlamento apoia um acordo [de saída] ou temos de devolver a palavra aos britânicos e pedir-lhes para dizerem o que querem".

Benn sustenta que sem um acordo de saída aprovado sobra como única alternativa a realização de um novo referendo à permanência na UE. Contudo, há uma terceira hipótese que tem sido recordada por vários conservadores e que passa pela saída sem enquadramento jurídico, o chamado Brexit desordenado.

Esta quinta-feira, Theresa May chegou a acordo com o respetivo grupo parlamentar para estabelecer um calendário para a sua sucessão. May vai fazê-lo depois de uma quarta tentativa de aprovação parlamentar do acordo de saída da União Europeia, o que acontecerá na primeira semana de junho, segundo adiantou um porta-voz de Downing Street na passada quarta-feira.

O tratado jurídico para o divórcio e a declaração política conjunta sobre a relação futura foram três vezes chumbados no parlamento, o que levou Londres a requerer a Bruxelas o adiamento do Brexit que estava previsto para o passado dia 29 de março.

Agora a nova data para consumar a saída do bloco europeu é o próximo dia 31 de outubro, o que obrigará o Reino Unido a participar nas eleições europeias que decorrem dentro de uma semana, cenário que Theresa May sempre quis evitar.

Foi precisamente para tentar recolher apoio parlamentar maioritário para um acordo de saída que May convidou Corbyn para negociações.

No entanto, a intransigência dos trabalhistas no estabelecimento de uma união aduaneira "abrangente e permanente" com a UE que isentasse de tarifas as trocas comerciais entre os dois blocos não permitiu avanços concretos nas negociações.

O impasse também fica a dever-se ao facto de May não ter margem para "vender" à ala mais radical dos "tories" uma relação tão próxima entre Londres e Bruxelas. Os conservadores "hard brexiters" não abdicam de que o Reino Unido possa negociar com total autonomia acordos comerciais bilaterais com outros países, algo impossível se Londres e a UE negociassem uma união aduaneira.

É que antes ainda de surgirem declarações de elementos do "Labour" a colocar de parte qualquer hipótese de acordo entre os dois maiores partidos britânicos, já na terça-feira vários opositores internos de Theresa May voltavam a pedir a sua demissão e a exigir o fim imediato das conversações com o partido de Corbyn.

Sucessores perfilam-se e Boris Johnson não perde tempo

Ainda antes de a primeira-ministra ter acordado definir os passos para deixar o cargo e também a chefia dos "tories", já o seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, garantia num evento que ontem decorreu em Manchester que vai concorrer à liderança do Partido Conservador e tentar suceder a May. "Claro que vou concorrer", atirou.


Entre os mais de uma dezena de putativos candidatos apontados pela comunicação social britânica, e além de Johnson, estão outros proeminentes figuras da ala "brexiter" conservadora, como é o caso de Michael Gove, atual ministro do Ambiente. Outros "hard brexiters" são os ex-titulares da pasta do Brexit, David Davis e Dominic Raab.

Do lado dos que defendem um "soft Brexit" ou mesmo a permanência surgem nomes como Jeremy Hunt, que sucedeu a Boris Johnson nos Negócios Estrangeiros, Sajid Davis, ministro do Interior, ou ainda Amber Rudd, ex-ministra do Interior. 

(Notícia atualizada às 11:35)

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