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Reino Unido vota a 12 de dezembro para escolher governo e futuro do Brexit
Os eleitores britânicos regressam às urnas no próximo dia 12 de dezembro. Depois de três tentativas fracassadas com vista à realização de eleições antecipadas, Boris Johnson conseguiu o objetivo depois de garantir o apoio da oposição, em particular dos trabalhistas.
À terceira não foi de vez, mas foi à quarta. O Reino Unido vai realizar eleições antecipadas no próximo dia 12 de dezembro, como habitualmente numa quinta-feira e na data pretendida pelo governo conservador liderado por Boris Johnson.
O primeiro-ministro britânico consegue assim os seus intentos, isto depois de ter fracassado nas três anteriores tentativas que ensaiou desde que, em julho, assumiu a liderança dos "tories" e, posteriormente, do executivo do Reino Unido. Foi uma votação sem margem para dúvidas, com 438 votos a favor de eleições gerais antes do natal e apenas 20 votos contrários.
A proposta de lei agora aprovada na Câmara dos Comuns terá ainda de ser ratificada pela Câmara dos Lordes, sendo expectativa generalizada que a câmara alta dê seguimento à vontade dos deputados. A legislação britânica determina que são necessários 25 dias úteis entre a convocação de eleições e o ato eleitoral.
Boris Johnson conseguiu duas vitórias de uma assentada, já que antes tinha sido chumbada (315 votos contra e 295 a favor) a emenda apresentada pelo secretário-geral trabalhista e líder da oposição, Jeremy Corbyn, que propunha alterar a data das eleições de 12 de dezembro - como constava da proposta de lei submetida pelo governo conservador - para 9 do mesmo mês. Boa parte da oposição, entre os quais o Lib-Dem e o SNP, preferiam eleições a 9 de dezembro por temerem perder votos do eleitorado jovem com a realização de eleições em plenas férias escolares.
Se, como tudo indica, forem formalmente agendadas eleições gerais antecipadas para 12 de dezembro, o parlamento britânico é dissolvido na quarta-feira da próxima semana (6 de novembro), permanecendo a eleição do futuro "speaker" dos Comuns marcada para 4 de novembro (segunda-feira), sabendo-se que o atual titular, John Bercow, abandona funções já na quinta-feira, 31 de outubro.
Desfecho do Brexit em jogo
O Brexit é o tema do momento há três anos e meio no Reino Unido e vai continuar a ser nos próximos tempos, a começar pela campanha eleitoral que se avizinha (vai durar cinco semanas). Os conservadores vão fazer campanha a favor do acordo alternativo que Johnson negociou com Bruxelas, e cuja discussão e votação, no parlamento, persistem suspensas.
Corbyn estava entre a espada e a parede. Na segunda-feira, 28 de outubro, os trabalhistas ajudaram a inviabilizar a moção do governo que propunha eleições antecipadas antes do natal, com Corbyn a argumentar que, apesar de pretender ir a votos, não iria fazê-lo enquanto persistisse a ameaça de um Brexit desordenado. Porém, os líderes europeus tinham aprovado, horas antes, o adiamento da data da saída para 31 de janeiro. A vontade de ir a eleições declarada pelos liberais e nacionalistas escoceses fez o resto, obrigando Corbyn a sair do canto em que se colocara, com o mesmo a afirmar já não haver perigo de um Brexit sem acordo.
Os liberais democratas (Lib-Dem) farão campanha abertamente a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia, enquanto os nacionalista escoceses (SNP) farão o mesmo, embora com o objetivo de que estas eleições possam servir de rampa de lançamento a um novo referendo independentista.
Para recolher apoios para aprovar eleições, Boris Johnson comprometeu-se a não promover o debate da legislação que implementa o acordo de saída alternativo selado com Bruxelas antes de os eleitores se pronunciarem. Ora, isto significa que o Brexit ficará em suspenso até às eleições. No entanto, resta saber se Johnson permanecerá fiel à promessa que fez ou se avança à revelia para os passos necessário para que o seu acordo seja posto em prática.
O que parece certo no incerto processo do Brexit é que as próximas eleições deverão constituir a última oportunidade para os defensores da permanência, partidos e eleitores, evitarem a saída do bloco europeu. Do lado europeu, a relutância agora verificada na concessão deste terceiro adiamento do Brexit, em especial da parte de Paris, pode significar não haver margem para novas extensões, e parece ser essa a ideis transmitida pelo presidente cessante do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Jogada de risco
Após ter falhado a promessa de retirar o Reino Unido da União Europeia na data prevista (31 de outubro), Boris Johnson voltou a apostar as fichas todas no regresso às urnas de modo a tentar reconquistar, para os conservadores, a maioria absoluta perdida nas eleições de 2017, e assim poder determinar o processo do Brexit de acordo com a sua vontade.
O líder conservador podia ter apostado em aprovar, durante o mês de novembro, a legislação complementar ao seu acordo do Brexit, o que lhe permitiria fazer campanha, já em 2020, como sendo o político que cumpriu o mandato resultante da consulta popular de 2016. Assim poderia capitalizar a tendência de crescimento nas sondagens e o desgaste causado pela incapacidade do anterior governo e do parlamento em concretizar o processo. Temendo que um parlamento polarizado aprovasse emendas que desvirtuassem o seu acordo, escolheu outra via.
Johnson preferiu assim fazer uma aposta arriscada. Mesmo sendo reconhecidamente bom em campanha e beneficiar, atualmente, de uma vantagem de 13 pontos percentuais para os trabalhistas (último estudo YouGov), o líder "torie" sabe que na hora do voto tudo pode mudar. E a história recente mostra isso mesmo.
Depois de provocar eleições antecipadas para junho de 2017 com o objetivo de fortalecer a maioria conservadora e garantir maior margem para prosseguir o Brexit, a então primeira-ministra Theresa May, que chegou a essas eleições com uma vantagem de dois dígitos para o Labour, não só perdeu a maioria como ficou nas mãos dos 10 deputados unionistas-irlandeses (DUP) para evitar um parlamento suspenso (hung parliament) após ficar apenas dois pontos à frente dos trabalhistas.
Em maio de 2015, com as sondagens a darem empate técnico entre o conservador David Cameron e o trabalhista David Miliband, os "tories" acabaram por vencer com maioria absoluta.
Agora, as sondagens apontam para um parlamento muito dividido e para a hipótese de um "hung parliament", circunstância que se verifica quando não existe uma maioria absoluta de um só partido (326 dos 650 mandatos) e que obriga à busca de coligações.