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Johnson quer aprovar acordo do Brexit e depois ir eleições a 12 de dezembro

O primeiro-ministro Boris Johnson vai ensaiar outra tentativa para regressar mais cedo às urnas. O governo do Reino Unido deverá apresentar uma moção no parlamento em que propõe a realização de eleições gerais antecipadas a 12 de dezembro. Cenário de eleições depende dos trabalhistas.

EPA
24 de Outubro de 2019 às 17:07
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Há um novo volte-face em perspetiva no Brexit - se os 27 Estados-membros da União Europeia aceitarem adiar a saída britânica até 31 de janeiro, tal como solicitado por Londres, o governo liderado por Boris Johnson vai apresentar, no parlamento, uma moção, na próxima segunda-feira, onde proporá o agendamento de eleições gerais antecipadas para 12 de dezembro. 

Foi o próprio primeiro-ministro britânico a confirmar, esta quinta-feira, que irá pedir apoio aos deputados para o regresso antecipado às urnas. Johnson disse estar disposto a dar mais tempo ao parlamento para analisar o "excelente acordo" de saída que o próprio negociou com Bruxelas, contudo, em contrapartida, exige que os deputados viabilizem a marcação de eleições. "É a forma de seguir em frente", rematou o também líder dos conservadores britânicos. 

Para concretizar os seus intentos, Boris Johnson poderá ter de contar com uma parte significativa dos deputados do Labour, já que é necessária uma maioria de dois terços (433 dos 650 deputados) na Câmara dos Comuns e os "tories" não detêm sequer uma maioria absoluta na câmara baixa do parlamento britânico.

O The Guardian adiantou já que Liberais-Democratas (Lib-Dem), Verdes, nacionalistas escoceses (SNP) e vários deputados trabalhistas vão votar contra a moção do governo, o que leva o jornalista Michael Savage a especular que Boris Johnson poderá constituir uma forma de pressionar Bruxelas a conceder apenas um adiamento curto e de deixar em xeque os trabalhistas. 

Já no verão, pouco depois de ter assumido a liderança dos "tories" e do governo, Boris Johnson ensaiou, sem sucesso, um regresso às urnas de modo a tentar reconquistar para o Partido Conservador uma maioria absoluta que lhe permitira seguir em frente com o seu plano para o Brexit. 

Segundo informa a imprensa local, Johnson enviou uma carta ao líder da oposição, Jeremy Corbyn, em que refere que, se Bruxelas conceder a extensão requerida (até 31 de janeiro), irá tentar aprovar a legislação complementar necessária à implementação do acordo alternativo do Brexit para que este possa ser ratificado, pelo parlamento, até 6 de novembro. 

Na missiva, o primeiro-ministro britânico desafia os trabalhistas a "comprometerem-se" votar a favor, na próxima semana, uma moção destinada à marcação de eleições, isto partindo do pressuposto de que a UE aceitará adiar o Brexit por três meses, Downing Street concederá "todo o tempo" possível, entre essa altura e 6 de novembro, para que o acordo de saída possa ser debatido e votado no parlamento.  À BBC, o governante admitiu esperar que os líderes europeus lhe concedam o tempo solicitado, embora tenha insistido que, pessoalmente, continua a ser contra essa extensão. Já na carta que enviou a Corbyn, Johnson sinaliza que tem como "opção ideal" um curto adiamento, "até 15 ou 30 de novembro", intervalo de tempo em que tentaria finalmente aprovar o seu acordo de saída do bloco europeu, desta feita com apoio dos trabalhistas. 

Os embaixadores da UE chegaram a acordo, esta quarta-feira, sobre um terceiro prolongamento do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, porém não alcançaram o consenso necessário relativamente à duração desse adiamento. Como tal, voltam a reunir-se esta sexta-feira, em Bruxelas, sendo que a expetativa generalizada passa pela concessão de uma extensão até 31 de janeiro. Porém, a relutância de várias capitais, em particular de Paris, quanto a um novo adiamento sem que se perceba exatamente para quê, alimenta a possibilidade de uma extensão menor, presumivelmente até 15 ou 30 de novembro. 

Corbyn entre a espada e a parede
Nesta fase é Jeremy Corbyn quem tem mais a perder. Ou, por outras palavras, Boris Johnson parece não ter nada a perder. Ainda era Theresa May primeira-ministra, já o secretário-geral trabalhista defendia a realização de eleições antecipadas como a melhor forma de desbloquear o impasse do Brexit. Nos últimos tempos, Corbyn tem condicionado essa via à garantia de que uma saída caótica fique definitivamente afastada. 

Dado ser provável que Bruxelas adie a saída até 31 de janeiro, Jeremy Corbyn fica com reduzida margem de manobra para defender um voto contra a moção do governo. Mas o líder do Labour terá de fazer uma complexa avaliação dos prós e contras da decisão que tomará. Boris Johnson tem vindo a ganhar popularidade e está a crescer consistentemente nas sondagens - o último estudo do YouGov para o The Times atribui 37% das intenções de voto ao Partido Conservador, mais 15 pontos percentuais do que os trabalhistas.

Por outro lado, a fadiga dos eleitores quanto à incapacidade do parlamento para finalizar o processo do Brexit, tal como evidenciam também vários estudos de opinião, tem potencial para favorecer Johnson, que poderia apresentar-se a eleições como o primeiro-ministro que, ao cabo de três anos e meio, cumpriu o mandato saído do referendo de 2016. 

Não espanta, portanto, que Boris Johnson aposte todas as fichas na marcação de eleições: "Chegou a hora da oposição ter a coragem de se submeter ao julgamento daquele que é, de facto, o nosso chefe, o povo do Reino Unido", diz sustentando que seria "moralmente inaceitável" que os trabalhistas inviabilizassem o regresso às urnas. 

Entretanto, Jeremy Corbyn pediu aos deputados do Labour para que se abstenham na votação da próxima segunda-feira.

Ontem, Johnson e Corbyn encontraram-se mas não conseguiram acertar um calendário para a discussão e votação da legislação que põe em prática o acordo de saída, a qual está em suspenso, o que levou o primeiro-ministro a passar a bola à UE.

Agenda legislativa do governo aprovada
Mais ou menos na mesma altura em que Boris Johnson tornava públicos o plano com vista à realização de eleições, o parlamento aprovada, com 310 votos a favor e 294 contra, a agenda legislativa do governo conservador.

Apesar de necessária para que um executivo esteja em funções plenas, esta aprovação não tem grande significado político, desde logo porque não tem qualquer implicação na forma como a polarizada Câmara dos Comuns vai votar o Brexit. 

(Notícia atualizada às 19:55 com pedido de Corbyn para que os deputados trabalhistas se abstenham)
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