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Porto perde Agência Europeia de Medicamentos. Amesterdão ganhou por sorteio
Amesterdão vai acolher a sede da Agência Europeia de Medicamentos, que sai de Londres na sequência do Brexit. Após três votações, na última ronda houve empate com Milão e o resultado final foi obtido através de sorteio.
Amesterdão (Holanda) é a cidade escolhida para acolher a sede da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) a partir de 2018. O Porto, que protagonizou a candidatura portuguesa, ficou de fora desta corrida logo na primeira votação.
A escolha foi feita em três rondas de votações e, no final, teve de se desempatar através de sorteio. Na primeira e segunda rondas Milão conseguiu recolher o maior número de votos. Mas na terceira e última registou-se um empate, tendo ambas as cidades captado 13 votos. A Eslováquia absteve-se nas duas últimas rondas, depois de Bratislava ter sido dada como uma das potenciais vencedoras, o que se soube logo ao início da tarde que não iria acontecer.
"O facto de o Porto se ter posicionado entre as cidades favoritas para acolher uma das maiores agências europeias, fez com que a cidade atingisse níveis de notoriedade, prestígio e reconhecimento nunca antes alcançados. Agora estamos ainda mais mira dos investidores internacionais; para além de sermos um polo turístico de grande importância, hoje somos uma cidade para investir e para viver como há poucas na Europa", acrescentou Moreira, citado numa nota de imprensa do município.
O primeiro-ministro, António Costa, deixou uma mensagem à cidade e ao presidente da Câmara do Porto, através da rede social Twitter, salientando que o resultado "confirma o Porto como uma grande cidade europeia".
Deixo ao Rui Moreira e ao Porto uma mensagem de parabéns pela candidatura à EMA, claramente das melhores. O resultado confirma o #Porto como uma grande cidade europeia e o seu extraordinário potencial. Continuemos a trabalhar.
— António Costa (@antoniocostapm) 20 de novembro de 2017
Já Marcelo Rebelo de Sousa confessou que não tinha criado grandes expectativas em relação a este processo. "Acho que a candidatura foi muito bem apresentada, mas as hipóteses sempre achei que eram muito limitadas", disse Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa, à saída da conferência "O poder da Educação na conquista da Igualdade", em Lisboa.
O Presidente da República considerou ainda que o resultado seria o mesmo se Portugal tivesse apresentado Lisboa a esta corrida, uma vez que "havia equilíbrios no quadro europeu em relação às várias agências que tornavam muitíssimo difícil à partida, quer para Lisboa quer para o Porto, a vitória".
Três rondas e desempate por sorteio
Na primeira ronda de votações, Milão conseguiu 25 pontos, enquanto Amesterdão e Copenhaga conquistaram 20 pontos. O Porto foi a sétima cidade mais votada, a par de Atenas, tendo recolhido 10 votos. A Invicta ficou atrás de Bratislava (15), Barcelona (13) e Estocolmo (12); e à frente de Bona, Lille e Sófia (todas com 3 votos); Viena (4), Bruxelas e Helsínquia (ambas com 5 votos); Bucareste e Varsóvia (7). As candidaturas da Irlanda e da Croácia nem sequer foram a votos.
A segunda ronda de votações ditou a eliminação de Copenhaga, com esta cidade a conquistar apenas cinco votos. Assim, Milão e Amesterdão disputaram a votação final. Na segunda ronda, Milão conseguiu 12 votos e Amesterdão nove.
Na terceira ronda, Milão e Amesterdão conseguiram 13 votos, tendo sido necessário desempatar através de um sorteio conduzido, segundo o Politico, pela Estónia, que está actualmente na presidência do Conselho da União Europeia.
A votação sobre a nova localização da EMA, que tal como a Autoridade Bancária Europeia (EBA) irá sair de Londres na sequência do Brexit, decorreu na reunião do Conselho de Assuntos Gerais, em que esteve presente a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias. No escrutínio participam 27 Estados-membros – o Reino Unido foi excluído –, que decidem um dossiê a que também se candidataram cidades de outros 18 países comunitários.
A três dias desta votação em Bruxelas, o Governo português ainda mostrava confiança na vitória da candidatura portuguesa para acolher a sede da Agência Europeia de Medicamentos. Ana Paula Zacarias assegurou que nos últimos meses "foi feito um intenso trabalho diplomático", com "numerosíssimas diligências diplomáticas" junto dos outros 26 países e o envolvimento de "toda a rede de embaixadas, da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia e de vários membros do Governo". Incluindo o primeiro-ministro, António Costa, que esta manhã tinha deixado uma mensagem de confiança no Twitter.
O Porto oferece à EMA a melhor solução para a sua relocalização. A União Europeia aproveita esta oportunidade? Espero que sim. #EMAPorto
— António Costa (@antoniocostapm) November 20, 2017
De acordo com um relatório da Deloitte, pedido pelo Infarmed, a relocalização da EMA para Portugal teria um impacto de 1,3 mil milhões de euros na economia portuguesa até 2030, incluindo a geração de receitas fiscais de cerca de 164 milhões de euros nos primeiros dez anos e também a criação de 5.300 postos de trabalho.
A candidatura portuguesa arrancou mais tarde do que a generalidade das concorrentes, uma vez que Governo português quis inicialmente candidatar a cidade de Lisboa, que já acolhe duas infra-estruturas comunitárias – a Agência de Segurança Marítima e o Observatório da Droga –, sem ponderar se outras localizações teriam melhores hipóteses.
Só no Conselho de Ministros de 13 de Julho, a poucos dias de terminar o prazo oficial para a apresentação de um dossiê de candidatura junto da Comissão Europeia, é que o Executivo socialista indicou que a Invicta tinha melhores condições do que a capital para protagonizar a candidatura portuguesa. No mês seguinte, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, avisou, porém, que Portugal "não [iria] comprar a relocalização" da agência.
O que fica para a Invicta?
Apesar deste insucesso na missão política e diplomática de atrair da EMA, o Governo antecipou-se na passada sexta-feira, 17 de Novembro, a salientar as vantagens desta campanha promocional sobre a cidade, qualquer que fosse o resultado esta tarde em Bruxelas. Ana Paula Zacarias lembrou que "serviu para divulgar o Porto em todas as capitais europeias, onde [foi dada] a conhecer a capacidade para fazer uma candidatura desta dimensão". "E fazendo esta, pode fazer muitas outras no futuro para outras entidades e instituições", acrescentou a governante.
"Independentemente do resultado, Portugal e o Porto ganharam com uma candidatura que honrou o país. Uma candidatura nacional que, nas diferentes condições postas, soube responder com competência e qualidade. (…) O Porto mostrou a sua vitalidade e capacidade para acolher instituições de elevada diferenciação, não apenas ao nível económico, mas sobretudo ao nível científico. E temos a certeza que se abriram portas" para a cidade no futuro, concordou Adalberto Campos Fernandes.
Também o presidente da Câmara do Porto, que foi uma das vozes que mais se fizeram ouvir para que a cidade fosse também considerada neste processo, explicitou nesse encontro com a imprensa que "nada será como dantes" e "doravante, quer em situações desta natureza de carácter europeu, quer noutras, o Porto passa a estar no mapa das cidades que podem acolher estes investimentos e estas instituições".
"Passamos a estar no mapa, passamos a estar num campeonato onde até hoje nunca tínhamos estado. (…) Passar a fazer parte das cidades que podem concorrer neste tipo de candidaturas, é muito interessante", insistiu o independente Rui Moreira, aludindo também ao "trabalho de levantamento importante" feito para este processo e que incluiu também "uma análise custo-benefício dos recursos" de que a cidade dispõe. Alguns desses elementos resultaram de um estudo encomendado à EY pela Associação Comercial do Porto, divulgado a 10 de Outubro, que colocava a Invicta numa lista de cinco favoritas para receber a sede da EMA em 2018.
(Notícia actualizada pela última vez às 17:25 com mais informação sobre o desfecho do processo)